A crónica de uma morte anunciada

Bem pode o selecionador Fernando Santos ter andado uma semana a fazer de conta que a Taça das Confederações não existe…

Rússia, 2017: Moscovo, São Petersburgo, Kazan, Sochi. A Taça das Confederações, que coloca frente a frente todos os campeões continentais, mais o país organizador (Rússia, está bem de ver) e o campeão do mundo (Alemanha) vai ter início precisamente de hoje a oito dias. Claro que, tendo tido ontem, em Riga, na Lituânia, um jogo com muito de decisivo para o apuramento para a fase final do Campeonato do Mundo de 2018, na Rússia – não é por mero acaso que recebe, agora, a tal Taça das Confederações, trata-se de um experiência in-loco daquilo que pode acontecer no Verão seguinte –, o selecionador nacional, Fernando Santos, sagaz até à protérvia, sagacidade essa que lhe trouxe para o colo a maior conquista de todos os tempos do futebol português, tratou de desprezar a aventura russa de Portugal a partir de dia 17. Não lhe cabia outro caminho. Mas, convenhamos: Portugal -–perante a opção alemã de levar à Taça das Confederações uma equipa entalhada de jogadores de menor experiência – tem de ser tido como o grande candidato à vitória no torneio, por muito que nos acenem a todos com o poderio de equipas como o México ou o Chile.

Mais: pela primeira vez na sua longa história, que teve início em 1921, a equipa-de-todos-nós, como lhe chamou o mestre Ricardo Ornellas, apresenta-se numa prova intercontinental com os galões de favorita a brilharem-lhe nos ombros de campeã da Europa.

Não sabemos, ainda, qual a motivação dos portugueses convocados. Mas sabemos que, entre eles, está um voraz Cristiano Ronaldo que não perde a oportunidade de levar para a sua vitrina dos troféus nem o campeonato regional de berlinde do Monte de Santo António, no Funchal. E, além disso, esta Taça das Confederações, que foi sempre muito mal amada desde que substituiu os chamados Mundialitos em anos anteriores aos Mundiais, terá na Rússia a sua última edição. No seu lugar vai surgir uma Liga Europeia tão confusa, tão especial, tão contra tudo o que é o entendimento dos organismos do futebol, que se torna impossível explicar no resumo destas linhas.

Que seja, então, uma despedida. E, para os portugueses, uma despedida de estadão. Não serão campeões do mundo, mas serão campeões de todos os campeões do mundo. E, só por isso, vale a pena não olhar por cima do ombro.