De boas intenções…

Com raríssimas exceções, os políticos ocidentais não mostram coragem para enfrentar pelos cornos a questão dos migrantes.

Peguemos em Merkel ou Macron, Marcelo ou Costa.

O que dizem todos?

Que os seus países estão prontos a receber os imigrantes de braços abertos, que se encontram dispostos a apoiá-los no que for preciso, etc., etc.

Mas o que fazem efetivamente por eles?

Qual é a realidade dos refugiados?

Eu digo: morrem afogados às centenas no Mediterrâneo, que está transformado num verdadeiro cemitério de homens, mulheres e crianças.

Morre hoje ali mais gente do que nos séculos XV ou XVI.

E aqueles que escapam à morte e conseguem chegar à Europa ficam à espera dias a fio em fronteiras gradeadas, ou a apodrecer durante meses em campos de concentração sem condições nenhumas.

No Inverno, viram-se campos de refugiados alagados, com as crianças a chapinhar na lama, enquanto outros ficaram cobertos de neve.

Será isto receber os refugiados de braços abertos?

Se a Europa quer, de facto, apoiar os refugiados, tem de:

1. Criar uma forma segura de atravessar o Mediterrâneo, em barcos com as devidas condições, organizando uma espécie de ponte marítima;

2. Criar campos de acolhimento na Europa com instalações dignas, e canalizar rapidamente os refugiados para os países de destino, onde deverão ser integrados sem problemas.
Isto é que será consequente com o discurso dos políticos europeus a favor dos migrantes.

Mas o que sucederá, se isto acontecer?

Quando nos quatro cantos do mundo se souber que a Europa está a fazer uma ponte marítima para atravessar o Mediterrâneo, e que os refugiados têm o acolhimento garantido em países europeus, começará a vir gente para aqui aos magotes.

Serão milhares todos os dias, vindos de África, do Médio Oriente, da Ásia.

Criar-se-á uma corrente migratória contínua sem fim à vista, pois as guerras não vão acabar e a fome não irá desaparecer de um dia para o outro. 

Algumas regiões do mundo irão ficando desertas de gente, e a Europa irá engordando.

O desemprego no continente europeu aumentará ainda mais, os encargos sociais também e os conflitos raciais agravar-se-ão.

Há certos países, como a Holanda, onde os próprios habitantes já se sentem estranhos, tal a afluência de gente de outras paragens, com outros hábitos e outros credos. 
Ora, com uma ponte marítima a despejar diariamente milhares de refugiados no continente europeu, os países começarão a mudar o seu perfil.
E em poucos anos a Europa mergulhará no caos, com os partidos extremistas e racistas a tirarem proveito da situação.

O caminho não pode, portanto, ser este. Se o estado de coisas atual, com gente a morrer afogada no mar todos os dias e a esperar meses em campos sem condições, não é aceitável, a abertura total da Europa aos migrantes, facilitando-lhes ao máximo o acesso, não é minimamente realista.

Por isso, insisto na solução que já aqui defendi: uma espécie de Estado de Acolhimento, criado algures entre o Médio Oriente e a África, onde os fugitivos à guerra e à fome encontrem um abrigo e possam continuar as suas vidas, trabalhando e criando os filhos. 

Esta é a única solução razoável e que resolve a complexa equação criada pelas migrações.

Não duvido das boas intenções de Merkel, Macron, Marcelo ou Costa.

Simplesmente, eles não têm meios para resolver este gigantesco problema.

Assim, as suas declarações piedosas só estão a contribuir para alimentar ilusões – sonhos que não podem concretizar-se. 

Estão objetivamente a empurrar vagas sucessivas de pessoas para aventuras perigosíssimas, atirando-as para as mãos de traficantes que as enfiam como gado em barcos sobrelotados, em permanente risco de naufrágio.

E os que têm a felicidade de chegar à Europa enfrentam múltiplas barreiras e dificuldades.

E aqueles que ultrapassam tudo isso e conseguem residência num país de acolhimento vêem-se confrontados com uma cultura que nada tem a ver com a deles, onde não se integram, onde são vítimas de racismo e humilhações, onde não se sentem bem.

O discurso politicamente correto acerca dos migrantes tem, pois, de mudar.

Pelas razões apontadas e por mais uma: os sucessivos atentados praticados por muçulmanos vão obrigar os políticos ocidentais a mudar de discurso sobre a emigração.

Não adianta continuar a dizer que os refugiados são bem-vindos e os recebemos de braços abertos.
Esse discurso, além de enganoso, já não pega. 

P.S. – O envolvimento de Manuel Pinho, António Mexia, Manso Neto e outros em alegados casos de corrupção mostra que o período correspondente à passagem de Sócrates pelo poder foi dos mais negativos da nossa história e aquele em que se destruiu mais valor. Olhamos para trás, e pouca coisa se salvava. No ´poder executivo’ (Governo), Sócrates punha e dispunha como primeiro-ministro; no ‘poder legislativo’ (Parlamento), Sócrates mandava através do PS; no ‘poder judicial’, Sócrates pontificava através de Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento; no ‘poder financeiro’ (banca), Sócrates tinha amigos ou cúmplices como Santos Ferreira, Armando Vara, Francisco Bandeira ou Ricardo Salgado; no ‘poder económico’ (empresas públicas ou participadas), Sócrates tinha seguidores como Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, José Penedos ou mesmo António Mexia; no ‘poder mediático’, Sócrates tinha extensões como o grupo Ongoing ou a Controlinvest, de Joaquim Oliveira. O terreno estava todo minado: poder executivo, legislativo e judicial, banca, grandes empresas e media. Quando falei n’ O Polvo, ainda não tinha noção de todos os seus tentáculos.