Noivas de Sto António. Um casamento com tudo a que têm direito

Celebram-se hoje 16 casamentos – todos com a bênção de Santo António. As cerimónias decorrem esta tarde nos Paços do Concelho e na Sé de Lisboa

Têm tudo como manda a tradição: o vestido branco, o bouquet, os montinhos de arroz à sua espera à porta da igreja, uma celebração cheia de pompa e circunstância. As noivas de Santo António vão dar o nó esta manhã e, como ditam os bons costumes, está tudo preparado para celebrar o maior casamento do ano.

Ao todo, 16 casais vão hoje iniciar uma nova etapa na sua vida. E apesar de a cerimónia ser igual para todos – cinco casam pelo civil e 11 optaram por um casamento religioso –, cada casal tem a sua identidade. A operadora de supermercado Rita e o vigilante Ruben, por exemplo, residem em Marvila e têm 27 e 25 anos respetivamente. Já Augusta, uma empregada doméstica de Arroios, e Arlindo, um empregado de balcão da mesma freguesia, decidiram ‘dar o nó’ mais tarde – ela tem 44 anos e ele 46.

Mas não são só as idades que variam: pessoas das mais diferentes áreas decidem participar nesta iniciativa e casar com a bênção do padroeiro de Lisboa. Rita e Tiago são um casal da freguesia de Alvalade. Ela é professora de ioga e ele técnico de som. Telma, uma lojista residente no Areeiro, vai casar com Ricardo, um limpador de aeronaves da freguesia dos Olivais. Também a jornalista Andreia fez questão de participar nos Casamentos de Santo António deste ano com o seu noivo Rúben, um técnico de audiovisuais.

Este ano, existe uma freguesia que se destaca: das 32 pessoas que vão participar na cerimónia deste ano, 14 pertencem à freguesia de Marvila, o que representa quase metade dos participantes. Ao todo, nove casais têm elementos que pertencem a esta freguesia lisboeta.

Requisitos para casar

Nem todas podem ser noivas de Santo António. De acordo com o regulamento imposto pela Câmara Municipal de Lisboa, autarquia que organiza esta iniciativa, existem vários requisitos que devem ser cumpridos: os dois mais importantes são o facto de pelo menos um dos noivos residir em Lisboa e de existir a disponibilidade para casar obrigatoriamente no dia 12 de junho.

Para além disso, os noivos deverão estar em situação legal para contrair casamento. Os casais deverão aceitar as “regras exigidas pela celebração atribuída” e autorizar “entrevistas, filmagens e respetiva publicação nos vários meios de comunicação social”, lê-se no regulamento dos Casamentos de Santo António.

Hoje, os 16 casais vão fazer o mesmo percurso que o seus antecessores: ao meio-dia, nos Paços do Concelho, são celebrados os casamentos civis. Mais tarde, às 14h00, na Sé de Lisboa, onze casais terão as suas celebrações religiosas. Às 17h30, dá-se o desfile pela cidade, a caminho do copo de água, nos Montes Claros. Depois, os recém-casados partem em lua-de-mel: no ano passado, o destino escolhido foi o Algarve.

Neste dia, os noivos não se preocupam com nada – a Câmara de Lisboa tem parcerias com dezenas de empresas, que garantem o vestido da noiva, o fato do noivo, alianças, comida, bebida, festa, fotografias, maquilhagem, cabeleireiro, tudo o que todos os noivos têm direito no seu grande dia.

Se a tradição se mantiver, a cerimónia de hoje terá como convidados os chamados ‘casais de ouro’ – pessoas que casaram em 1967 sob a bênção de Santo António e que este ano celebram 50 anos de união.

Quase 60 anos de tradição

É necessário recuar até 1958 para recordar a primeira edição dos Casamentos de Santo António, um evento que é visto já pelos ‘alfacinhas’ como uma tradição. A iniciativa, patrocinada pelo já extinto Diário Popular, tinha como objetivo possibilitar o matrimónio a casais com dificuldades financeiras – logo na primeira edição participaram 26 pares.

Em 1974, ano da revolução do 25 de Abril, os tempos conturbados levaram a que, depois de 16 edições concorridas, houvesse uma interrupção na comemoração deste evento. A tradição só foi retomada 30 anos depois, quando a Câmara Municipal de Lisboa decidiu pegar nesta iniciativa, restaurá-la e dar-lhe uma nova vida.

A partir dessa altura, apenas 16 casais poderiam celebrar o seu grande dia na véspera do Santo António, abrangendo lisboetas dos mais diferentes meios. Esta 29ª edição não será exceção.

Quem foi Santo António?

Este santo casamenteiro nasceu em Lisboa, em 1195. Foi frade agostinho no Convento de São Vicente de Fora, indo posteriormente para o Convento de Santa Cruz, em Coimbra, onde aprofundou os seus estudos religiosos. Tornou-se franciscano em 1220, viajando por outros países, como Itália e França, onde chegou a encontrar-se com Francisco, o fundador da ordem religiosa.

Ficou conhecido pela sua devoção aos mais pobres, pela capacidade de converter heréticos e, acima de tudo, por ter uma excelente habilidade para conciliar casais, daí que seja vulgarmente conhecido como o santo casamenteiro.

Lecionou teologia em várias universidades europeias, entre elas a de Pádua, cidade italiana onde viria a falecer, a 13 de junho de 1231. Menos de um ano após a sua morte, a Igreja Católica canonizou-o. Em 1934, o Papa Pio XI proclamou-o padroeiro de Portugal, a par de Nossa Senhora da Conceição.

Por ter nascido em Lisboa, Santo António é venerado na capital portuguesa. A véspera do feriado é um dos dias mais importantes e movimentados para os lisboetas, que saem à rua para comer sardinhas assadas, cheirar manjericos, entoar cantigas populares, desfrutar dos bailaricos espalhados pelos bairros ‘alfacinhas’ e até ‘dar o nó’ com a bênção do santo casamenteiro.