Londres. Entre as cinzas e os escombros de Grenfell ainda há perguntas por responder

Primeira-ministra ordenou a abertura de um inquérito público às causas do incêndio que devorou o apartamento londrino de 24 andares e tirou a vida a pelo menos 17 pessoas

O primeiro prazo apontado pelas autoridades britânicas para a apresentação das conclusões preliminares sobre as origens do incêndio monstruoso que se abateu sobre um prédio residencial de Londres, na madrugada de quarta-feira, era de 24 horas. Mas foi precisamente esse o tempo que os bombeiros demoraram a apagar totalmente as chamas, pelo que ainda está por esclarecer a causa da morte de pelo menos 17 pessoas e o ferimento de mais de 70, das quais 15 estão em estado crítico.

O longo período em que o fogo consumiu a Grenfell Tower, os seus 24 andares e os 120 apartamentos que alojavam perto de 500 pessoas, danificou largamente a estrutura do edifício, pelo que é bem possível que as ditas respostas ainda demorem mais algumas horas, ou dias, a vir ao de cima. Segundo a comissária da Brigada de Bombeiros de Londres, Dany Cotton, citada pelo “The Guardian”, terão de ser construídas “estruturas temporárias” antes que as equipas de investigação possam aceder ao interior do prédio. Para além disso, a prioridade das autoridades ainda é o resgate das centenas de corpos carbonizados que se acredita que estejam debaixo dos escombros, pelo que a torre está a ser vasculhada por cães farejadores. Nesse sentido, as equipas de socorro não escondem que o número de vítimas mortais vai seguramente aumentar nos próximos dias.

A somar a todas as dificuldades inerentes às características específicas da tragédia de North Kensington estão as informações divulgadas pelos residentes da Grenfell Tower, e que, para já, fornecem mais dúvidas que certezas. De acordo com a associação de moradores a empresa responsável pela gestão do prédio terá rejeitado os seus alertas – apresentados aquando das obras de remodelação do mesmo, terminadas no ano passado – relativos ao “agravamento do risco de incêndio” resultante do novo revestimento exterior “altamente inflamável”, e ao “acesso seriamente limitado” ao edifício, para veículos de emergência.

Para além disso, foram vários os testemunhos de residentes – onde se incluem as quatro famílias portuguesas,  num total de dez pessoas, que o governo diz estarem em segurança – que garantem que o alarme de incêndio não disparou ou que os bombeiros não previram, no início do incêndio, uma propagação tão rápida e brutal do fogo pelo prédio, pelo que agiram de forma negligente.

Estas e outras suspeitas levaram a primeira-ministra Theresa May – que hoje visitou o local, tal como Jeremy Corbyn, líder da oposição – a ordenar a abertura de um inquérito público, independente dos relatórios dos bombeiros e da Polícia Metropolitana de Londres. “Disseram-me que a forma como o fogo se espalhou e tomou conta do edifício foi rápida, feroz e inesperada. Por isso é necessário que tenhamos, para além do relatório imediato dos bombeiros, e de uma eventual investigação policial, um inquérito público exaustivo, para chegarmos ao fundo desta questão. As pessoas merecem respostas”,  disse a líder do governo, citada pela BBC.