A Venezuela com a Madeira à vista…

Bastou um secretário de Estado deslocar-se, finalmente, à Venezuela – em parceria com um secretário regional madeirense –, para os media despertarem da sua apatia em relação ao drama vivido diariamente por quase meio milhão de portugueses naquele país, submetido a um regime ‘bolivariano’ que apodrece com Maduro, e a quem o PCP continua a…

O Governo tardou em dar sinal de vida. A crise da Venezuela não começou ontem nem está a fazer-se sem vítimas, aumentando a violência na razão directa das lojas vazias. 

Em Abril, escrevemos nesta coluna sobre a indiferença que se sentia face às incertezas que pairavam sobre a comunidade portuguesa. 

Valeu, na altura, a iniciativa parlamentar do CDS, ao conseguir que fosse aprovado um voto de condenação da «situação de instabilidade e insegurança» na Venezuela, apesar da oposição da bancada comunista.

A iniciativa dos centristas antecipou-se ao Parlamento Europeu, que condenou, também, a «repressão brutal» exercida pelas forças de segurança venezuelanas e por «grupos armados irregulares» contra manifestações pacíficas.

 

Mesmo com estas evidências, o PCP não ‘tugiu, nem mugiu’. Não tem emenda. A sorte dos portugueses passa-lhe ao lado.

Faz um ano que o PCP foi lesto a reafirmar «a sua solidariedade à revolução bolivariana», já com o caos instalado em Caracas e noutras cidades, usando o bordão do costume para atribuir ao «imperialismo americano» a «campanha de desestabilização e agressão». Ainda se estava na era Obama.

De então para cá, a terminologia não mudou. As privações e os riscos enfrentados pela comunidade portuguesa não contam nada para o PCP, fiel à sua ortodoxia, e orientado pela debotada ‘solidariedade internacionalista’.

O agravamento social e político na Venezuela atingiu um tal nível de exposição que já não podia ser ignorado pelo Governo. Nem pelos media.

Costuma dizer-se que mais vale tarde do que nunca. E o Governo saiu da ‘zona de conforto’ para se inteirar, localmente, das condições precárias, e até críticas, que afectam a nossa comunidade.

Entrevistado pela revista Visão, o secretário de Estado das Comunidades, José Luis Carneiro, reconheceu que «a situação é grave, muito grave», e que «temos de garantir proximidade aos portugueses», depois de assegurar que «os portugueses da Venezuela não estão esquecidos, estão no centro das nossas preocupações e de todas as estruturas do Estado português».

O exagero e a linguagem empolada procuram exorcizar uma certa má consciência. Ao reconhecer ter encontrado «os portugueses muito preocupados», o governante apressou-se a ‘pôr água na fervura’, tentando travar justas estranhezas, não fosse alguém duvidar do empenho oficial.

Governar é estar à altura dos acontecimentos, que não se resolvem com sorrisos e têm urgências inconciliáveis com selfies no intervalo de arraiais e romarias.  

De facto, são já milhares os compatriotas que embarcaram de volta à Madeira – a origem da maioria –, engrossando as filas de espera nos centros de emprego e de acolhimento.

 

Finalmente, nas Necessidades, o ministro dos Negócios Estrangeiros admitiu, sem especificar, «planos de contingência» e o presidente do Governo Regional não excluiu um «cenário de guerra civil», advertindo que o regresso em massa de emigrantes «não pode deixar de ser equacionado».

Contas feitas pelo MNE, do meio milhão de portugueses e luso-descendentes que vivem na Venezuela cerca de 300 mil são oriundos da Madeira. Uma região que conta com 250 mil habitantes.

Pode imaginar-se, facilmente, a pressão que o arquipélago poderá sofrer perante um eventual êxodo, forçado pelo desespero. A situação política, económica e social está a ficar fora de controlo.

Com a anarquia instalada nas ruas, a espiral de violência parece imparável. O dia seguinte da Venezuela é imprevisível.

O herdeiro de Chávez tem escassas hipóteses de sobreviver politicamente. A ‘guarda pretoriana’  que o protege não faz milagres.

 

Como parecem longínquos os tempos em que Sócrates, então primeiro-ministro do Governo socialista, trocava mimos e cumplicidades com Chávez, a quem tratava com reverência; que seria seguida, aliás, por Paulo Portas e a sua ‘diplomacia económica’. 

A ‘revolução bolivariana’ e a quebra dos preços do petróleo arrastaram a Venezuela para um pântano. O futuro é a grande incógnita. O presente, um desastre. 

 

Nota positiva: o Governo lituano decidiu proibir a publicidade associada ao álcool na televisão, rádio e imprensa. Por cá, nem sequer funciona a proibição da venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos, aprovada em 2015. É um regabofe de patrocínios e de consumo, desde a Queima das Fitas aos festivais de rock. É o que temos.