“Ela não se convence que o filho morreu”

Isabel continua a lavar o pátio da sua casa em Nodeirinho,  acompanhada pela mãe, uma senhora com alguma idade, que ‘foge’ assim que nos vê.

Começa por não querer falar, mas com a chegada da cunhada, Hermínia, lá começa a recordar os dias mais horríveis da sua vida.

"Era um tufão de fogo e fumo. Havia chamas em todo o lado. Quando acabou, era só mortos dentro dos carros, tudo desfeito", contou ao i, a tentar conter as lágrimas.

Isabel perdeu vários familiares e amigos no fogo, incluindo um irmão. Questionada sobre os filhos, disse que só não sabia de Diogo, de 21 anos. "Ele abalou numa carrinha no sábado à noite para ver como estavam as coisas e ainda não apareceu. Pode estar ferido num hospital, não sei. Uma das minhas cunhadas tem estado a telefonar para os hospitais para saber dele", disse-nos.

Enquanto se afastava, com um ar abatido, a cunhada começou a falar em sussurro: " o filho morreu, mas eles não se convencem. O corpo foi encontrado carbonizado".

Isabel garante que não vai a lado nenhum, que a vida continua em Nodeirinho, apesar da paisagem negra que rodeia esta aldeia, dos carros desfeitos pelo fogo que ali estão abandonados e da pouca força que existe para continuar. "As forças hão-de vir. Tenho de dar tempo", afirmou.

Na aldeia de Nodeirinho morreram 11 pessoas.