Pedrógão Grande. Vila recupera debaixo de um céu cinzento

As chamas não chegaram à vila de Pedrógão Grande, mas o sofrimento e a angústia perante a destruição sim. Aos poucos, as pessoas começam a retomar a sua vida normal, mas garantem que as feridas vão demorar a passar.

Pedrógão Grande. Vila recupera debaixo de um céu cinzento

A entrada da vila está simbolicamente marcada com um monumento de homenagem aos bombeiros – na escultura, dois homens ajudam uma menina a sair de um edifício.

Ao chegar ao centro, a vida parece correr normalmente: pessoas nos cafés, senhoras a fazerem compras na mercearia, senhores no banco de jardim a conversar. No entanto, pequenos sinais mostram que esta é uma vila ainda marcada pelo incêndio que deflagrou no sábado e que matou pelo menos 64 pessoas: de vez em quando, surge uma pessoa com uma máscara na cara, para se proteger do fumo que ainda existe no ar; o som dos Canadair interrompe conversas; pessoas cheias de tosse atravessam o centro da cidade. Aos poucos e poucos, a vila retoma a normalidade, mas ainda é cedo para dizer que tudo voltou a estar como estava.

"Ainda está toda a gente abalada. Alguns perderam familiares, outros amigos… É difícil. Cada um se tem defendido à sua maneira", disse ao i Cesário Martins de 80 anos.

 Fernando Silva, de 77 anos, contou que por onde passa fala com pessoas que estão muito abaladas: "Ainda agora saí da Câmara Municipal e uma funcionária não parava de chorar porque tinha perdido a casa que tinha nos Troviscais”.

"Há casos em que não vai ser fácil recuperar. Principalmente aqueles que têm menos dinheiro. O Governo tem de deitar a mão a isto, foi uma tragédia enorme e, mesmo que todos aqui se mobilizem, é preciso ajuda exterior", garantiu.

Fernanda Marques, de 77 anos, não é de Pedrógão Grande, mas veio para cá com 12 anos, aqui casou, teve filhos e foi feliz. Quando se fala no fogo, não consegue conter as lágrimas. "É doloroso assistir a isto, as chamas não chegaram à minha casa, mas sei de pessoas que ficaram sem nada. Só não fui ajudar no combate às chamas porque o meu filho pediu-me para ficar em casa", disse ao i.

"A recuperação vai demorar muito tempo, mas vamos conseguir. O ser humano anda sempre para a frente", acrescentou.