Desinformação, mentiras e negligência

Os trágicos incêndios que continuam ativos em Pedrógão Grande e arredores estão a contribuir para uma desorientação coletiva aflitiva.

Se quem está no terreno vê o fogo a ir na sua direção é natural que fique em pânico, seja a população, bombeiros, governantes ou jornalistas. Independentemente disso, há erros de comunicação gravíssimos que não podem acontecer. Percebe-se, até certo ponto, que o governo não queira alarmar o país e procure ‘esconder’, de certa forma, as piores notícias.

Ninguém sabe ao certo quantas pessoas já morreram, pois ainda há muitas aldeias por visitar. Talvez por isso, ninguém tenha ainda avançado com o número de desaparecidos e quantas pessoas viviam nas tais aldeias que ainda não foram visitadas. É um pouco incompreensível, mas as autoridades lá saberão as suas razões para ‘esconderem’ informação preciosa para as populações e familiares. Hoje uma equipa do i e do SOL esteve no lugar de Cadafaz e seis pessoas recusavam-se a abandonar as suas casas e queixavam-se que estavam há três horas à espera de ajuda. Como o fogo ganhava força em direção ao local, os habitantes gritavam com os jornalistas para fugirem enquanto era tempo, apesar de eles não seguirem o exemplo.

Impossível de contactar com essas seis pessoas, só mais tarde poderemos saber o que se passou. Não escrevemos nos sites porque não sabemos ao certo se a ajuda chegou a  tempo ou não. Mas neste jogo da falta de informação precisa, houve um caso que ultrapassou largamente a negligência e que dá uma péssima imagem do país, até porque a comunicação social estrangeira também noticiou a famosa queda de um avião ‘fantasma’. Os jornalistas no local fizeram o seu trabalho ao tentarem confirmar a notícia com as autoridades competentes. Foram vários os órgãos de comunicação social que o fizeram e receberam a resposta afirmativa à queda de um dos aviões que combatem os incêndios. Passado mais de uma hora da notícia ser divulgada, a Proteção Civil fez uma conferência de imprensa em que começou por falar dos incêndios que ainda estão ativos na zona, para só depois responder aos jornalistas que afinal não há nenhum avião que se tenha despenhado.

Fará algum sentido esta descoordenação? E por que razão não há um único responsável que possa dizer aos jornalistas, e consequentemente ao país, quantos fogos estão ativos no país inteiro? Quando finalmente se conseguir extinguir os incêndios mais mortais da história de Portugal recente, será indispensável que se repense muita coisa. Para que mais ninguém morra em vão e que a desorganização não contribua para criar um clima de insegurança total. É óbvio que tudo terá de ser repensado de alto a baixo.

Portugal não pode continuar a ser o país com as piores estatísticas de incêndios do planeta. E uma investigação séria aos negócios que envolvem o fenómeno é capaz de fazer de alguns dos casos judiciais mais mediáticos uma brincadeira de crianças…