Maçonaria. Vasco Lourenço apoia Lima: “Veja-se o exemplo de Trump”

A dois dias da segunda volta, os maçons tradicionais cerram fileiras em torno do atual grão-mestre. Vasco Lourenço compara a situação no GOL às eleições nos EUA e França

Vasco Lourenço, um dos homens fundamentais do 25 de Abril, é maçon e já assumiu a sua condição de membro do Grande Oriente Lusitano.

Nesta duríssima campanha interna, o presidente da Associação 25 de Abril acabou por apoiar o candidato que não foi à segunda volta – o economista Daniel Madeira de Castro -, que escolheu na primeira volta das eleições por considerar “o mal menor”.

Agora, numa carta dura dirigida aos seus “queridos irmãos do Grande Oriente Lusitano (GOL)”, a que o i teve acesso, Vasco Lourenço apela ao voto no atual grão-mestre, Fernando Lima, a quem não deixa, no entanto, de apontar várias críticas. 

Vasco Lourenço defende que na segunda volta das eleições, que vai acontecer no sábado, a opção com que os maçons estão confrontados é “simples”: “Ou levados pelo descontentamento e pela ânsia de mudança abrimos a porta à descaracterização do GOL, com a consequente perda de identidade; ou não querendo dar ‘um tiro no escuro’, apostamos na continuidade, confiantes – ou esperançados… – em que a nova equipa – e é mesmo de uma nova equipa que se trata – aproveitará a manutenção das condições que permitam a correção de muitas situações negativas que entretanto se criaram, não repetindo muitos dos erros cometidos nos últimos tempos”, escreve o capitão de Abril.

Mas, apesar dos “erros cometidos” por Fernando Lima enquanto grão-mestre, Vasco Lourenço afirma que tem “o dever” de se “pronunciar nesta luta que poderá ser histórica”. Vasco Lourenço invoca que o que o leva a tomar posição pública tem a ver “com o dramatismo da situação”. 

Comparação com Trump

A carta de Vasco Lourenço é particularmente violenta quando compara “a nossa situação à vivida nas eleições presidenciais dos Estados Unidos e da França”. “Que fique claro: não comparo pessoas, comparo situações!”, avisa, no entanto, o presidente da Associação 25 de Abril.

E continua: “Os americanos preferiram o Trump à Hillary Clinton; os franceses optaram pelo Macron em detrimento da Marine Le Pen. Confio que os mestres maçons do GOL sigam o exemplo dos franceses e não o dos americanos. Isto é, escolham a lista C do Fernando Lima e não a lista A do Adelino Maltez (…) Muitas vezes temos de ‘engolir sapos’ e escolher o ‘mal menor’. Também eu não compreendo a teimosia de Fernando Lima por um terceiro mandato.” 

Apesar de não poupar o atual grão-mestre, Vasco Lourenço afirma não conseguir “conceber” ver José Adelino Maltez – “monárquico (militante e até algo fundamentalista) assumido (não percebo a sua autodesignação de republicanamente monárquico), mentor da criação de um novo partido político (Partido Liberal, que se diz ‘o verdadeiro’ – onde é que eu já ouvi isto? – como grão-mestre do Grande Oriente Lusitano”. Isto apesar da “consideração pessoal” que tem por Adelino Maltez e “deseja manter”. 

Vasco Lourenço afirma que a lista de José Adelino Maltez é “fortemente apoiada – em troca de que compromissos seria bom saber, confiando nunca o vir a saber pois isso significaria a vitória dessa lista (…) – pelo grupo de maçons que, no norte do país, e nomeadamente no Porto, pior se comportou e comporta nesse processo e que tem demonstrado, com atitudes concretas, que não olha a meios para atingir os seus fins”. 

Para o presidente da Associação 25 de Abril, se a lista liderada por José Adelino Maltez vencesse “teríamos uma mudança ‘violenta’, traumatizante, apenas em prol dos ‘seus’! Veja-se e aprenda-se com o exemplo de Trump!…”.

Fernando Lima é apenas “o mal menor”. “Não estou certo, tenho mesmo muitas dúvidas, mas quero acreditar que essa mudança tranquila se possa fazer com a equipa da lista C [Fernando Lima]. A mudança é de facto desejável, urgente e inevitável e, nesta altura do campeonato, só poderá ser conseguida através do voto na lista C!”

Vasco Lourenço termina a carta com a saudação maçónica “com um forte TAF”, sigla habitual entre os maçons que significa “tríplice abraço fraterno”.