Mossul. Estado Islâmico renunciou ao símbolo do califado perdido

Jihadistas destruíram a mesquita iraquiana de al-Nuri, um monumento sagrado do islão, e o local onde o líder do Daesh proclamou o califado

Foi do alto do púlpito situado no interior da mesquita de al-Nuri, em Mossul que Abu Bakr al-Baghdadi, o autoproclamado califa do grupo terrorista Estado Islâmico, surgiu pela primeira e única ocasião em público, e anunciou a formação de um califado na Síria e Iraque. Essa  edificação sagrada, que conta com mais de 800 anos de História, ruiu na madrugada de quinta-feira (noite de quarta em Portugal continental) sobre os bairros ocidentais daquela cidade iraquiana, três anos volvidos da proclamação do dito califado. E por entre as ruínas da mesquita e do minarete de al-Hadba, há quem veja a resignação jihadista em Mossul.

Embora o Daesh tenha responsabilizado a aviação da coligação internacional – que fornece apoio ao exército do Iraque na reconquista de Mossul e que é liderada pelos Estados Unidos – pela destruição de  al-Nuri, as autoridades iraquianas não têm dúvidas sobre a autoria de tamanho “crime histórico”. Horas depois de os norte-americanos terem divulgado imagens aéreas da mesquita destruída, Bagdade revelou um vídeo do momento em que o minarete é derrubado, fruto da alegada detonação de explosivos na sua base.

“Numa altura em que os nossos parceiros das forças de segurança do Iraque se aproximavam da mesquita de al-Nuri, o ISIS destruiu um dos maiores tesouros de Mossul e do Iraque. Este crime (…) é mais um exemplo da urgência em aniquilar esta organização brutal”, confirmou o general Joseph Martin, da coligação internacional, citado pelo “Guardian”.

Assim, para as forças iraquianas só há uma interpretação possível sobre a decisão do grupo fundamentalista islâmico, de destruir o seu maior símbolo, religioso e metafórico: a aceitação de uma derrota iminente. “O bombardeamento do minarete de al-Habda e da mesquita de al-Nuri é uma declaração oficial da derrota do ISIS”, declarou o primeiro-ministro  iraquiano, Haider al-Abadi, à imprensa local.

Hisham al-Hashimi, especialista em grupos extremistas e ex-conselheiro do governo iraquiano, explica que a destruição do local de culto, por parte dos jihadistas, foi levada a cabo porque aqueles “não querem que o local onde anunciaram o califado” seja o mesmo “onde o exército iraquiano vai anunciar o seu triunfo” sobre o Estado Islâmico. Este objetivo, somado  à estratégia de armadilhas utilizada pelo Daesh em Mossul, terão levado à implosão do monumento secular, refere al-Hashimi.

A grande batalha pela reconquista da segunda maior cidade do Iraque – caída para as mãos do Daesh em 2014 – teve início em outubro do ano passado. Entre as fileiras invasoras contavam-se, para além das forças iraquianas e coligação internacional, combatentes peshmerga curdos, milícias xiitas e tribos árabes sunitas. Com a reconquista, nos primeiros meses do ano, de toda a área de Mossul situada na margem oriental do rio Tigre, nas mãos de pouco mais de três centenas de jihadistas encontram-se agora os bairros situados na chamada vila velha de Mossul.

As ruas estreitas, labirínticas e de difícil acesso da zona histórica – que impossibilitam a manobra de tanques, por exemplo – e as tais armadilhas que os combatentes do Daesh montaram no meio das ruínas, tornaram o avanço mais lento e, sobretudo, mais paciente. Mas já são poucos os que duvidam da derrota dos fundamentalistas islâmicos. Hoje, amanhã ou daqui a meses.