Tâmara Castelo. “A forma como se tomam medicamentos é muito leviana”

Tâmara tanto recorre à prateleira de ervas medicinais como a um ben-u-ron, se for preciso. Mas acredita no poder da alimentação e reúne agora em livro os remédios caseiros para as doenças mais comuns

Quando uma das filhas tem febre, Tâmara Castelo não vai logo à caixa de medicamentos. Primeiro alivia a quantidade de roupa, dá agua, passa um pano húmido pelo corpo e, se a temperatura não baixar, passa para a homeopatia. “Mas é óbvio que, se não baixar, toma um ben-u-ron.” A palavra de ordem é bom senso e, por isso, a especialista em medicina chinesa e homeopatia não gosta de falar em medicinas alternativas. “Assim parece que temos de escolher uma delas, quando o ideal é complementar”, explica ao i.

Para fazer chegar ao mundo algumas das técnicas que aprendeu, compilou no livro “Curar sem Medicamentos” os remédios naturais mais eficazes para tratar coisas tão comuns como um nariz entupido, febre, tosse ou uma otite.

És filha de portugueses (Tâmara é filha do ator Virgílio Castelo), mas tens uma família com várias raízes. É daí que vem o interesse pelas medicinas alternativas?

Não gosto da palavra “alternativa” ligada à medicina. Assim parece que temos de escolher uma, e não é nada disso. O ideal é o complementar todos os saberes.

O que aprendeste com a forma de atuar dos chineses?

Um dos grandes pilares da medicina chinesa é a dietética. A dieta muda para tratar seja o que for, desde uma enxaqueca a uma dor no pé. E eu, como tenho 27 alergias alimentares, já estava habituada a comer coisas que ninguém comia.

Então a medicina chinesa foi quase uma inevitabilidade.

Completamente. Eu já recorria a ela ainda em miúda, quando estava em fases mais críticas. E foi também com os chineses que aprendi a comer bem.

A Tâmara tem 32 anos. Em criança, era fácil encontrar as alternativas alimentares de que precisava?

Era horrível. Se comer chocolate, laranjas ou trigo, posso ficar sem respirar. Mas ok, não como uma laranja há mais de 20 anos. Mas substituir o trigo, por exemplo, é mais difícil. Tinha a sorte de a minha mãe ser assistente de bordo e me trazer malas cheias de outros países.

Viveu três anos na China. A mudança alimentar aí foi radical?

Teve de ser, tinha de comer o que eles comiam.

Sentiu diferenças?

Sim, brutais. Aquilo que muda logo é a energia. Eu, que adoro café, nunca mais precisei de beber nenhum. O sono melhora, o intestino trabalha melhor e deixei de ter alergias. Deixei de espirrar 700 vezes por dia e de viver com o nariz entupido. Quando melhorei, a minha reação foi: “’Tás a gozar? Ninguém me disse que respirar era assim.” [risos]

E não comete deslizes?

O meu marido é cozinheiro, claro que cometo os meus pecados. Mas pago caro por eles. Costumo dizer, em tom de brincadeira, que a minha técnica para emagrecer podia ser beber um copo de leite de manhã. Parece que engoli uma pedra da calçada, fico sem fome o dia inteiro.

Passa esses hábitos para as suas filhas?

As mudanças começaram logo na gravidez. O parto da Flor, a mais velha, correu muito mal, tive de fazer cesariana. Quando foi da Noa, li muito sobre o assunto e, pela primeira vez na vida, fui radical. Cortei o açúcar e o trigo durante os nove meses, e não só a tive de parto natural como ela nasceu em 20 minutos.

Consegue tratar tudo com remédios caseiros?

Claro que não. Há uns meses, torci o pé ao entrar num avião e tomei logo um brufen. Não me ia pôr ali de pé em água quente com sal. Tem de haver bom senso. O que eu não faço é a minha filha ter uma gripe e dar-lhe antibiótico.

Isso ninguém devia fazer.

Eu também acho que não. Mas na verdade aparecem-me pessoas no consultório que tomam 15 antibióticos por ano. Tenho crianças que tomam seis antibióticos em seis meses. A forma como se tomam medicamentos é muito leviana, tem de ser mais responsável.

Mas em que limites passa para a medicina tradicional?

Primeiro limite: o conforto. Nunca vou pôr uma filha minha a sofrer só porque não lhe quero dar um medicamento. O que eu faço é pô-la confortável. Num caso de gripe, por exemplo, se tiver o nariz entupido, trato de o desentupir com as minhas técnicas. Controlo a febre com homeopatia e, se a febre se descontrola, dou-lhe um ben-u-ron. Mas antes dessa toma passaram-se quatro horas e garanto-lhe que, em 90% das vezes, as coisas resolvem-se nesse período.

Muitas das técnicas já eram usadas pelos nossos antepassados. Temos muito a aprender com eles?

Eu não tinha a intenção de trazer nada de novo. O xarope de cenoura e mel sempre funcionou. E agora? Deixou de funcionar? Há uma certa excitação com tudo o que é novo e uma vontade de ter tudo resolvido no imediato.

O ben-u-ron funciona mais rapida-mente que o xarope de cenoura.

Claro que sim, mas não vou medicar a minha criança só para me poupar trabalho. A minha filha tem alergias muito graves e eu não lhe dou um atarax todos os dias. Em contrapartida, controlo tudo com a alimentação, e a verdade é que raramente ficam doentes. Sim, até me perguntam se elas andam na rua. Claro que sim. Raramente ficam doentes porque têm uma alimentação espetacular. Dá trabalho? Sim. É mais caro? Sim. Mas prefiro investir quando elas estão saudáveis do que quando estão doentes. Prefiro gastar dinheiro em biológicos do que em antibióticos.

São vacinadas?

Claro que sim. Nem me passaria pela cabeça outra coisa. Só abdiquei do rotavírus, não vou vaciná-las para uma gastroenterite, acho que isso é o exagero da vacinação. Eu acredito no Plano Nacional de Vacinação, gosto de viver bem com a minha consciência, gosto de viver no século xxi, não no século xviii. Mas é como tudo na vida: o melhor é não cair em exageros.