Basílio vs. Marco Almeida. À segunda é de vez?

Um fundador da República e um fundador de um movimento. Ambos independentes. Basílio Horta do CDS para o PS; Marco Almeida do PSD para si mesmo. Em 2013 ficaram separados por menos de dois pontos percentuais. Em 2017, há matérias que os dividem e outras que partilham na sua visão para o município de Sintra.…

Aos setenta e três, Basílio Horta teve uma vida politicamente cheia e diversa. Fundou um partido, o Centro Democrático Social (CDS – hoje CDS/PP), foi deputado na Assembleia Constituinte onde também estava Marcelo  Rebelo de Sousa, agora Presidente da República, e depois deputado na Assembleia da República.

Chegou a ministro com a pasta do Comércio nos primeiros Governos constitucionais da III República, mais tarde também com a Agricultura e as Pescas. 

Em 1991 corre – e perde – contra Mário Soares para a Presidência da República, tendo curiosamente sido antes seu ministro no II Governo constitucional. Passa a apoiante do Partido Socialista com José Sócrates, que o nomeia para administração da AICEP. É por 2009 que se assume como independente apoiado pelo Partido Socialista, pelo qual  também é eleito parlamentar em 2011.

Em 2013, é apoiado pelo PS para candidato à presidência da Câmara Municipal de Sintra e é para esse cargo que este ano se recandidata. Em 2013, teve Soares, mas desta vez na sua comissão de honra, comprovando uma carreira política sempre mutuamente entrelaçada e em planos vários.

Basílio ganha a Câmara e atrás dele fica o independente que este ano tenta superá-lo: Marco Almeida. Há quatro anos, o candidato do PSD, Pedro Pinto, consegue somente um terceiro lugar e agora os sociais-democratas apostam em Almeida para romper o ciclo de Basílio Horta. 

Durante o seu mandato, inaugurou o Museu das Artes de Sintra, assim como a primeira Loja do Cidadão do concelho – já com Costa a primeiro-ministro – e recebeu o NewsMuseum em Sintra com considerável sucesso. 

Como presidente da Câmara eleito com os socialistas, manteve a independência. Não abdica de um discurso de investimento e desenvolvimento, sim, mas preserva a ideia de «responsabilidade financeira» e saudou publicamente o surgimento do centrismo de Macron ainda antes deste ser eleito. 

Sobre o Governo, a aliança com o PCP e o BE não colheu o seu apoio, mas a sua preocupação – talvez também aí ainda próximo do ‘soarismo’. Criticou quando julgou que tinha que criticar, mas também defendeu o Plano Nacional de Reformas do Executivo de António Costa como essencial. Mantêm o equilíbrio, entre «produtividade» e «competitividade» e fez do alívio fiscal uma máxima – abdicou de 8,1 milhões de IMI. 

No fundo, programaticamente, à semelhança de todo o seu percurso político, mantem-se ao centro, sem demonizar o Estado e protegendo o contribuinte de eventuais excessos deste. 

Promete a continuação de uma agenda sustentável e de «mudanças estratégicas na atitude e na prática do quotidiano social, ambiental, cultural e económico de Portugal». 

Marco Almeida surpreendeu e quer voltar fazê-lo. Se em 2013 deixou muitos de queixo caído ao ficar à frente do PSD na luta pela Câmara Municipal de Sintra, em 2017 tornou a surpreender logo pelo facto de conseguir que os sociais-democratas apoiassem o seu movimento independente – depois de terem recusado fazê-lo em 2013. 

É que Almeida, assim como António Capucho que o apoia desde início, já foi militante do Partido Social Democrata. Capucho, aliás, foi expulso do PSD por apoiá-lo e este ano, sabe o SOL, voltou a despertar algum constrangimento na direção laranja. Pedro Passos Coelho, vivendo em Massamá, não poderia fazer campanha na Câmara que abrange o seu local de residência, pois o presidente do PSD não iria, naturalmente, ‘andar em arruadas’ ao lado do homem que saiu do partido durante a suas liderança e em aberto confronto consigo. Nessa capítulo, foi o movimento de Almeida a dar o braço a torcer e a questão resolveu-se, mas ao que o SOL apurou o apoio dos sociais-democratas à candidatura do seu ex-militante foi mais produto de pragmatismo do que de convicção. 

Marco Almeida não parece importar-se. Se em 2013 ficou a um mero ponto percentual de roubar o executivo camarário a Basílio – e sem o apoio do PSD – as suas hipóteses aumentam consideravelmente agora que vai coligado com o centro-direita.