Sumol Summer Fest. Já percebes o hip hop?

As tropas foram convocadas e “A História do Hip Hop Tuga” vai ser contada aos mais novos no Sumol Summer Fest, o festival do fim das aulas, que hoje e amanhã acampa na Ericeira.

Ace, Presto, Halloween, Bispo, Black Company, Capicua, Chullage, Dealema, Dengaz, Dillaz, GROGNation, Holly Hood, NBC, NGA, Sam The Kid, Valete, Sir Scratch e Tekilla tratam das rimas. Nel’Assassin ocupa-se dos pratos. Uma seleção de três gerações rapublicanas.

Geração 90

Black Company

Aos Black Company deve-se a primeira apresentação do hip hop à sociedade. General D inaugurara um novo capítulo com o EP “Portukkkal é um Erro”, o da gravação, mas “Nadar”, incluído na coletânea “Rapública”, um apanhado daquilo que se fazia nos subúrbios lisboetas, da Margem Sul à Linha de Cascais, foi o primeiro grande êxito radiofónico. O grupo de Miratejo gravaria dois álbuns na segunda metade da década, sem o mesmo impacto, e voltaria em 2008 com “Fora de Série”.

Boss AC

Filho da cantora Ana Firmino, Boss AC revelou-se em “Rapública”, ainda com 19 anos, e de uma forma quase inédita na história do rap em Portugal. Uma das canções usava o inglês. Nos anos seguintes e até se estrear com “Manda-Chuva”, Boss AC foi a voz do “underground”, mas não por muito tempo. Se excluirmos o caso dos Da Weasel, é o rapper comercialmente mais bem-sucedido, com uma platina, êxitos em catadupa e um anúncio para o Continente.

Mind Da Gap

Enquanto primeiro cartão-de-
-visita do rap em Portugal, “Rapública” foi o megafone da Grande Lisboa, mas no Porto também já havia quem conspirasse na sombra com rimas e batidas. Pioneiros na zona norte, os Mind da Gap estrearam-se com um EP em 1995, gravaram com os Blind Zero no ano seguinte e, em 1997, lançaram “Sem Cerimónias”, o álbum onde quebravam tabus geográficos com uma canção icónica, “Nortesul”, a quatro vozes com os Da Weasel.

 

Geração 00

Sam The Kid

O embaixador do hip hop português. Nenhum outro tem o balanço entre popularidade e respeito como Samuel Mira, rapper e produtor de Chelas, que apesar do consenso gerado de norte a sul, nunca quis abandonar o bairro.

Desde 2006 sem editar, o próximo álbum de Sam The Kid arrisca-se a ser o_“Chinese Democracy” do rap em Portugal. Isto se esquecermos que os Orelha Negra construíram um património singular na linguagem e vão voltar a editar em breve.

Valete

A primeira geração abriu o precedente, a criar sobre o vazio, mas a segunda ainda foi obrigada a derrubar barreiras.
A obra de Valete é curta em álbuns – dois, “Educação Visual” de 2002 e “Serviço Público”, de 2006 –, mas devorada nas ruas. Rapper de combate, assumidamente revolucionário, embora conservador musical, passou anos em silêncio quase sepulcral, mas acaba de regressar no coletivo Língua Franca e com um single a dar que falar: “Rap Consciente”.

Chullage

Filho de cabo-verdianos, Chullage fixou-se na Arrentela (Seixal) e, além da música, envolveu-se com a comunidade local através de uma associação de apoio social. O início da década foi um período prolífico para Nuno Santos (nome real) com a gravação de dois álbuns, a participação em inúmeras mixtapes e concertos. O tempo e as ocupações desmobilizaram-no lentamente, mas não por inteiro, já que em 2012 voltou cheio de urgência em dizer “Já não Dá” com “Rapressão”.

 

Geração 10

Regula

Tal como Capicua, Regula já vinha de trás. Começou por apresentar-se como Bellini, ganhou reputação entre a comunidade com a mixtape “Kara Davis”, mas foi a partir do álbum “Gancho”, de há quatro anos, que passou a ser um ídolo adolescente. E não só. Rapper dos Olivais, associa relatos típicos de um bairro suburbano a um sentido de humor desassombrado, debitando rimas ao ritmo de um TGV. Na era dos vídeos milionários, ele foi o primeiro em Portugal.

Slow J

Da geração dos millennials, nenhum outro conseguiu até agora ser tão reconhecido e ouvido como Slow J. Não tem os milhões de visualizações de outros, não anima discotecas pelo país, mas tem massa crítica e transversalidade – duas pedras nos ténis do hip hop português ao longo dos anos. Slow J também rappa, mas o rap é apenas um sonho escrito num caderno, assume no single “Vida Boa”. No álbum de estreia. “The Art of Slowing Down”. canta, escreve e produz.

Piruka

À escala nacional, Piruka é o paradigma da afirmação do hip hop enquanto género mais ouvido pelas gerações nascentes e na forma como as redes sociais não só produzem fenómenos imediatos como são capazes de influenciar a indústria, desde programadores a editores. Ou, posto de outra forma, da autonomia dos artistas sobre o próprio meio. Até há um ano, Piruka era um quase desconhecido. Hoje é um dos maiores fenómenos nacionais. E o verão mal começou.