Fogos e Tancos. O Estado a que chegámos

A elite da elite militar portuguesa foi incapaz de defender a sua casa, as suas armas. Para defender o país vamos confiar em quem?

Muitos lembram-se da famosa frase de Salgueiro Maia antes de partir  de Santarém para Lisboa para fazer o 25 de Abril. Para quem não se lembra,  é a seguinte: «Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!». 

Sem entrar no que seria uma comparação ridícula entre ditadura e democracia, é essencial refletir seriamente sobre o Estado a que chegámos. Dois pilares do Estado – a Segurança Interna e a Defesa – foram nos últimos dias seriamente abalados. Alguém pode ter confiança na Proteção Civil, na secretaria-geral da Administração Interna – já sem falar no malfadado SIRESP – depois das contradições a que se assistiu esta semana? Como é que os cidadãos – principalmente os residentes nas zonas com maior risco de incêndio – podem sentir-se confortáveis com as não-explicações da ministra da Administração Interna e a sua incapacidade de gerir os organismos que tutela? 

«Sabemos que aconteceu um incêndio como nunca tinha acontecido». Já passaram 15 dias e a ministra sabe tanto como qualquer um de nós, cidadão sem poder executivo. O primeiro-ministro idem. São incapazes de nos explicar como é que os portugueses podem conseguir voltar a ter confiança no Estado. Para já, só percebemos que os organismos tutelados pela Administração Interna são um saco de gatos gerador de uma enorme insegurança para qualquer cidadão.

Depois, o assalto ao paiol de Tancos. Quando as instituições encarregues da Defesa nacional não conseguem nem defender as suas casas, é assunto para alarme público. Em Tancos está estacionada a elite da elite militar portuguesa – e essa elite foi incapaz de evitar o roubo do seu paiol, o lugar onde guarda o seu material de guerra. Quem vai defender o país?

Não é preciso nenhuma comissão de peritos nem sequer mais auditorias para se concluir que o Estado está a falhar. Se não é possível ter confiança nas instituições que velam pela segurança dos cidadãos, vamos ter confiança em quê?