Plano em marcha para comprar dona da TVI

As negociações formais entre a Altice Media e a Media Capital  deverão arrancar nos próximos dias. Para já, o grupo espanhol que detém a TVI mexeu na sua estrutura executiva

Plano  em marcha para comprar dona da TVI

Depois de terem iniciado as «interlocuções exploratórias», nos próximos dias deverão arrancar as negociações formais entre a Altice – dona da PT – e a Media Capital para a compra da dona da TVI, apurou o SOL junto de fontes próximas. 

As negociações entre as duas empresas foram reveladas no passado fim de semana, com a Altice a admitir que têm estado a decorrer «interlocuções exploratórias com a Prisa relativas a uma possível oferta formal pela Media Capital, grupo português do setor dos media e com posições de liderança em televisão, produção audiovisual, rádio, digital, música e entretenimento», salientou em comunicado à CMVM.

Ainda por saber está o preço base da negociação. As duas partes não se pronunciam sobre os montantes, mas o jornal espanhol El Confidencial aponta para uma avaliação entre os 400 e o 450 milhões de euros. Isto porque o presidente do grupo está a ser pressionado não só pelos acionistas, mas sobretudo pelo vencimento de uma dívida no próximo ano no valor de 958 milhões de euros. Ou seja, a venda da Media Capital serviria para pagar parte deste endividamento, daí o banco Morgan Stanley ter sido mandatado para ajudar nesta alienação.

Esta sexta-feira, o grupo espanhol anunciou a substituição do presidente executivo. Manuel Mirat vai ocupar o cargo de José Luis Sainz a partir de setembro, com este último a permanecer na direção da editora do El País. Sainz abandona assim a liderança executiva da Prisa depois de ter falhado a venda da sua unidade de edição de livros Santillana, numa operação que iria render cerca de dois mil milhões de euros e que iria permitir fazer face ao vencimento da dívida no próximo ano.

Mas as mudanças não vão ficar por aqui. O presidente do conselho de administração, Juan Luis Cebrian, admitiu que «nos próximos meses vão ser tomadas decisões que irão afectar de forma drástica o tamanho e perímetro do grupo, mas também a redução da dívida». Nos últimos oito anos, o grupo Prisa reduziu a sua dívida em 3.435 milhões de euros, pagou 1.194 milhões em juros e vendeu ativos no valor de 2.743 milhões.

Em 2016, a Media Capital faturou 174 milhões de euros, tendo alcançado um lucro de 19,1 milhões de euros. Além da TVI, detém ainda produtora Plural Entertainment, a Rádio Comercial e a Cidade, entre outros meios. 

Já do lado da Altice, esta compra é natural, uma vez que, além de ser um operador de telecomunicações, a empresa conta ainda com negócios de media em França e em Israel, através da Altice Media. No final do ano passado, o Financial Times alertava para a possibilidade de o grupo francês criar canais próprios e distribuir canais de outros estúdios. 

Uma hipótese que foi confirmada por Patrick Drahi, fundador do grupo, ao revelar que a Altice estava «a olhar para activos de media portugueses». Na altura, explicou que em todos os países «onde são líderes ou ocupam o segundo lugar do mercado de telecomunicações», o grupo tem activos de media. Sendo a PT líder em Portugal, fazia sentido a mesma estratégia ser seguida em relação aos media portugueses.

Mas este interesse não é novo. Já em 2009 a PT mostrou-se interessada em comprar 30% da dona da TVI, mas o negócio não viu a luz do dia, apesar do empenho de José Sócrates, primeiro-ministro, dessa altura. 

Mercado mexe 

Se o negócio entre a Altice Media e a Media Capital se concretizar, irá ter inevitavelmente impacto no mercado dos media. E essa realidade é reconhecida por vários analistas do setor e admitida pelo próprio CEO da NOS, Miguel Almeida. «Se a Altice comprar a TVI e os reguladores não fizerem nada, haverá guerra», revelou em dezembro passado.

Perante essas declarações, o grupo Haitong chegou a enviar uma nota a levantar a hipótese de a NOS poder comprar a Impresa, dona da SIC, se o negócio entre a Altice e Media Capital se concretizasse. Para a casa de investimento, esta solução poderia ser vantajosa para manter equilibrado o acesso aos conteúdos no mercado nacional – um novo campo de batalha onde as duas operadoras de telecomunicações se têm confrontado, sobretudo no que diz respeito aos conteúdos desportivos.

«Miguel Almeida não elaborou no que entendia como retaliação mas, na nossa visão, é claro de que a NOS pode considerar comprar o outro grupo de comunicação social, a Impresa, que tem a SIC, para ter poder negocial contra a PT/Altice», comentou na altura.

Uma opinião partilhada mais recentemente pela Caixa BI, ao revelar que «este cenário assume que a NOS não permanecerá passiva nesta guerra. […] Um cenário possível seria a NOS lançar uma proposta sobre a Impresa, que poderia estar avaliada em 230 milhões de euros», disse.

Impacto bolsista

A verdade é que esta mexida já está a ter impacto no mercado bolsista. A Impresa já acumula um ganho de 71% desde o início do ano e houve dias em que foram negociados mais de um milhão de títulos. Aliás, o recorde foi alcançado no passado dia 31 de maio, quando foram transacionados três milhões de ações. Tudo porque tem sido apontada como o potencial alvo de uma compra por parte da NOS.

Há outra cotada de media em bolsa, a Cofina, que também tem beneficiado da especulação em torno dos negócios de media, apesar de ser de uma forma mais moderada. As ações da empresa subiram mais de 50% desde o início do ano e o volume mais do que duplicou.

Ainda assim, mesmo que haja um acordo para a concretização deste negócio, será preciso receber luz verde por parte das entidades reguladores: Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), Autoridade Nacional de