TrumpPutinismo

Donald Trump sempre teve um fraquinho pelo estilo de liderança de Vladimir Putin. Durante a campanha presidencial, o multimilionário referiu-se praticamente uma centena de vezes ao nome do Presidente russo. A maioria das quais em tom elogioso. «Não gosta de Obama, mas eu vou-me dar bem com ele», «passou a perna a Obama e Clinton,…

Donald Trump sempre teve um fraquinho pelo estilo de liderança de Vladimir Putin. Durante a campanha presidencial, o multimilionário referiu-se praticamente uma centena de vezes ao nome do Presidente russo. A maioria das quais em tom elogioso. «Não gosta de Obama, mas eu vou-me dar bem com ele», «passou a perna a Obama e Clinton, é mais esperto do que nós», «é brilhante», «a mim respeita, a Obama não» ou «é um animal ferido pelas sanções» e «animais feridos fazem coisas estranhas», são algumas das tiradas colecionáveis. A relação dos dois, conta Trump a dada altura para negar tudo uns anos depois, terá começado em junho de 2013, quando o magnata organizou a eleição da Miss Mundo em Moscovo. «Será que Putin vai ao concurso? E se for, vai ser o meu novo melhor amigo?», perguntava Donald no Twitter. Passados quatro anos, Trump já é pPesidente (com ajuda de Putin, ninguém sabe) mas o ambiente entre os dois líderes está muito longe do tom delicodoce comum às misses mundo.

E isso vai perceber-se esta semana quando os dois líderes apertarem as mãos pela primeira vez desde que Trump foi eleito. A cimeira do G20, em Hamburgo, oferece o cenário para que Trump e Putin concretizem um encontro muito esperado, embora tanto a Casa Branca como o Kremlin sejam muito prudentes – ninguém o dá como certo embora seja inevitável se os dois estão na mesma cidade, no mesmo fórum. A ‘Rússia’ é um tema que continua a escaldar na política interna americana e ninguém parece querer precipitar as coisas. «A dada altura havemos de nos encontrar, isso é certo» disse Putin em entrevista a Oliver Stone. «Mas não há pressa», acrescentou. 

Trump terá pedido ao Conselho de Segurança Nacional uma lista de propostas ‘fazíveis’ numa primeira negociação com Moscovo, embora o encontro entre ambos surja numa altura em que a máquina política e burocrática americana não só acaba de renovar as sanções à Rússia, como as codificou, exigindo que a sua apreciação futura passe sempre pelo Congresso. Uma clara manifestação de desconfiança sobre a condução política do presidente que se mostrou sempre favorável ao levantamento das sanções como parte de uma estratégia de engajamento com a Rússia. 

Em circunstâncias normais, Trump levaria quatro pontos à conversa com Putin: diria que é inaceitável qualquer tipo de interferência russa nas eleições americanas; reafirmaria o comprometimento americano com a NATO; exigiria a Moscovo o respeito pelas fronteiras dos seus vizinhos bem como o seu direito a escolher os aliados; ensaiaria uma solução conjunta para os conflitos na Ucrânia e Síria. Por seu turno, Putin colocaria na ordem de trabalhos o fim das sanções, a exigência de recuo da NATO (e não alargamento ao Montenegro e às importantes bases navais no Adriático), o abandono americano das forças anti-Assad na Síria e a aceitação dos acordos de Minsk sobre o estatuto da Ucrânia. Mas porque as circunstâncias estão longe de ser consideradas normais, nem Trump é um Presidente normal, é pouco provável que qualquer um destes temas conheça desenvolvimentos em Hamburgo. Para desespero de muitas capitais. 

Trump leva meia dúzia de meses de mandato e uma popularidade em quebra. Putin, com mais de 80% das intenções de voto, prepara-se para um quarto mandato presidencial e uma reeleição tranquila em 2018. Sendo o antagonismo ao ocidente a base da popularidade do antigo agente do KGB, a janela das concessões russas deverá estar temporariamente fechada. “Porque é que não nos podemos dar bem com a Rússia?” tweetou Trump. A política internacional é bem mais complicada que os concursos de beleza.