Madoff e a dona Branca

Com as contradições do BPN, regressaram as comparações. ‘Nos EUA – disse-se – bastaram seis meses para pôr o Madoff atrás das grades’. Não é verdade.

O processo não foi ‘resolvido’ em seis meses. Foi investigado ao longo de oito anos, o acusado foi confrontado com os crimes que lhe foram imputados, a pena foi negociada e as contrapartidas também. 

No final, as autoridades aceitaram julgar só o Sr. Madoff, deixando de fora o filho e o irmão; e, não menos importante, uma parte dos bens da família. Tudo se passou sem contágio do sistema bancário, ao qual a ‘gestora de fortunas’ não pertencia. 

Madoff estava para o mercado americano como a Dona Branca para o sistema bancário português.

Se se quer comparar o que é comparável, olhe-se para o que aconteceu na sequência das falências dos grandes bancos americanos e britânicos: desaparecimento do Bear Stearns, do Lehman Brothers e do Northern Rock, resgate do Lloyds Bank, risco de falência do Citigroup, da Merryll Lynch, da Goldman Sachs e da AIG, que só não caíram porque as autoridades se assustaram com as ondas de choque desencadeadas pela falência do Lehman. 

Houve problemas? Claro que houve! Houve comoção nacional? Sim, e foi enorme! As autoridades pegaram na metralhadora e levaram tudo raso? Não! E é aí que começam as diferenças. 

Tanto no Reino Unido como nos EUA, os supervisores não vacilam e não se deixam guiar por aquilo que se lê nas capas dos tabloides. Em Wall Street e na City de Londres há análise séria e há ponderação das consequências das medidas que se adotam. Não se decide uma ‘resolução’ numa noite de domingo, só porque alguém ordena. 

O acerto das políticas explica a razão pela qual, em dois anos, os bancos americanos regressaram à normalidade e o Lloyds foi recuperado, com assumido envolvimento do Bank of England. Em Portugal, dez anos depois da eclosão da crise, depois da troika, depois das experiências do Banco Bom e do Banco Mau, estamos pior: desapareceram cinco bancos e os que restam não são nossos ou estão doentes. 

As prisões que se reclamam vão fazer com que os nossos bancos recuperem a saúde e voltem a ser o sustentáculo da economia? Não me parece! 

Os problemas da economia são outros, a começar pela falta de investimento, e é para aí que as atenções deveriam estar viradas. Lê-se nos jornais que há 60 mil milhões de euros disponíveis para emprestar, mas o acesso ao crédito continua seriamente dificultado. Receitas draconianas impostas para tratar situações de incumprimento pontual estão a matar empresas viáveis e a agravar o desemprego. A torrente de burocracia que o BCE inventou para apagar a crise está a levar os bancos a fugir do crédito, em vez de analisarem e gerirem o risco, indissociável de qualquer financiamento. 

Há julgamentos e condenações em falta? Há! Mas esses são os dos ‘médicos’, a começar pelo BCE e pelos bancos centrais, que usaram remédios errados, agravaram as doenças e, em muitos casos, causaram a morte. Só que, para os governos, os parlamentos e os analistas, é mais popular reclamar condenações.