Constança Urbano de Sousa. Uma ministra encurralada entre o passado e o presente

É o rosto do falhanço dos serviços que combateram os incêndios de Pedrógão Grande e arredores. Esteve sempre no local, não fugiu, mas isso não chega. Tanta incompetência foi permitida como? Por que razão se manteveum sistema que já tinha falido no passado?

Imaginemos um barco a naufragar, mas ainda com hipótese de atingir a costa. Alguém no seu perfeito juízo queria substituir o comandante, não havendo alguém que o pudesse substituir – apesar das suas hipotéticas responsabilidades no naufrágio? Pois bem, o mesmo se aplica aos incêndios de Pedrógão Grande e arredores, em que seria totalmente irresponsável demitir a ministra da Administração Interna. Primeiro, porque, apesar de tudo, supostamente é Constança Urbano de Sousa que está familiarizada com o funcionamento do ministério; depois porque ao afastá-la não se ganharia nada, bem pelo contrário. Criar-se-ia uma sensação de caos e era tudo o que não se precisava de acrescentar ao caos instalado.

Agora que as chamas desapareceram de Pedrógão Grande, tudo é diferente. A ministra, por muito sensível que seja, não demonstra aptidões para o cargo, atendendo à bandalheira total que são os serviços sob a sua alçada. É certo que muito do que existe foi criado pelo primeiro-ministro, então responsável do Ministério da Administração Interna, tendo os sucessivos ministros depois de si permitido que a desorganização e ineficácia dos sistema se mantivesse. Fosse o famoso sistema de comunicações, vulgo SIRESP, fosse a coordenação do combate aos incêndios, já não falando da prevenção. Tudo foi e é mau demais e as 64 pessoas que morreram não podem deixar de ser a razão para uma limpeza geral no que está mal.

Como não é crível que o primeiro-ministro se demita, assumindo as culpas do passado e do presente, até porque os focus groups que encomendou para saber da sua popularidade lhe disseram que o povo está consigo, não restará a António Costa outra coisa que não seja demitir a sua ministra, além de repensar de alto a baixo a Proteção Civil. Não se trata de politiquices ou de uma caça às bruxas, mas sim de tornar um serviço, a Proteção Civil, eficaz e capaz de acudir a calamidades. Seria bom que este país perdesse a mania dos jobs for the boys, independentemente da cor partidária que se senta na cadeira do poder.

A imagem que a ministra passa não é a de uma líder, mas isso são pormenores. O que interessa é que alguns daqueles que dependem de si falharam redondamente e até parece que gostam de nos fazer passar por parvos. Como é possível fazer-se um relatório como o do SIRESP e ninguém ser aconselhado a mudar de profissão imediatamente? Ou foi feito a pedido?