Diogo Lacerda Machado. A mão que está quase sempre por detrás de Costa

Com a sua veia de ‘negociador’ tem conseguido resolver os dossiers mais problemáticos do primeiro-ministro, com quem tem uma forte amizade desde os tempos da faculdade. Agora volta a estar no centro das atenções com a sua ida para a administração da TAP.

Diogo Lacerda Machado. A mão que está quase sempre por detrás de Costa

O nome de Diogo Lacerda Machado, mais conhecido por ‘melhor amigo’ de António Costa, voltou às luzes da ribalta com a sua nomeação para integrar o conselho de administração da TAP, depois de ter sido um dos rostos responsáveis para negociar a reversão da privatização da companhia aérea. Aparentemente imune às críticas da oposição, o advogado afastou as acusações de ser «uma pouca vergonha», acenando apenas com o sentido de serviço público. «Tenho imenso orgulho naquilo que ajudei a fazer. Foi com sentido de serviço público. Os factos mostram que foi possível reconfigurar a privatização da TAP para um modelo em que os privados investem o mesmo, mas ficam com 45% do capital da empresa, em vez de 61%. É o mesmo sentido de serviço público que me levou a aceitar e, suponho, que a ser convidado», admitindo assim que o seu nome foi revelado para integrar a lista de administradores da TAP.

Mas a verdade é que esta não foi a primeira e provavelmente não será a única vez em que o seu nome esteve envolvido em questões polémicas, nem que seja por ser conhecido como ‘negociador’ a pedido do primeiro-ministro. Isto porque o advogado é o homem de confiança de António Costa. Os dois conheceram-se na Faculdade de Direito, em 1981, já Costa estava totalmente envolvido nas lides associativas e partidárias. A amizade entre os dois permanece intocável desde essa altura, ao ponto de ser padrinho de casamento de Costa. 

Sportinguista ferrenho

Lacerda Machado nasceu em Lisboa a 17 de maio de 1961 e é o mais novo de quatro irmãos, uma rapariga e três rapazes. Filho de um militar de infantaria, viveu em Angola, onde o pai fez duas comissões de serviço -daí ter estudado no colégio militar. Sportinguista de coração, vai assistir aos jogos no estádio sempre que pode, chegou a jogar futebol no Centro Desportivo Universitário de Lisboa (CDUL) do qual foi atleta e membro dos corpos sociais entre 1983 e 1985. Desde muito cedo decidiu que que queria ser advogado e foi apontado como «um dos melhores do seu curso», segundo os testemunhos de alguns colegas. Licenciou-se em 1986, mas dois anos antes casou-se com Maria Teresa de Carvalho de Alvarenga. Uma ligação da qual nasceram três filhos: Joana, Francisco e João Maria. 

Confessa ser um apaixonado por aviões. Na adolescência, Lacerda Machado juntava dinheiro para comprar um bilhete de avião Lisboa-Porto. A ideia era apenas voar: assim que chegava ao destino voltava para trás. Entre 2010 e 2013 terá feito 795 viagens aéreas e, dada essa paixão, é natural que guarde religiosamente todos os cartões de embarque. 

A aventura internacional começou em 1988. Durante quase dois anos, foi assessor do secretário adjunto para a Administração e Justiça do Governo de Macau. Foi nesse período que conheceu Francisco Murteira Nabo, que teve várias responsabilidades na administração do território macaense. Uma das suas missões era a preparação do sistema de administração judicial para a transição do território (que ocorreria 11 anos mais tarde), na modernização da legislação de Macau (e sua tradução para o chinês) e na aceleração da alocação de quadros locais ao sistema.

Lacerda Machado regressa a Portugal em 1990, mas continua envolvido com negócios em Macau depois de ter conhecido Jorge Ferro Ribeiro, investidor e representante dos interesses de Stanley Ho no nosso país. Torna-se presidente da empresa Construções Técnicas, empresa essa que operava também em Macau e da Interfina, grupo com diversos negócios, entre os quais a consultoria e gestão. Chegou a ser membro do Conselho Superior de Magistratura e o mais próximo que esteve de uma carreira política foi como secretário de Estado. Nesta altura, este envolvido em projetos como a criação do cartão único do cidadão e de uma base de dados de perfis genéticos para fins de identificação civil e de investigação criminal. E fundou, com outros quatro advogados, a Associação Empresarial de Mediação, que tinha como objetivo a «maior flexibilidade na resolução dos conflitos empresariais – com total confidencialidade».

Vitórias 

A solução encontrada pelo Governo e a associação dos lesados do Banco Espírito Santo tem mão de Diogo Lacerda Machado, que surgiu como mandatário de António Costa numa tentativa de resolver aquele dossier. As primeiras negociações começaram ainda antes das eleições legislativas. Um processo que se arrastou meses mas que acabou por ver luz ao fundo do túnel. Foi também interlocutor de uma conversa, a propósito de um outro dossier quente: o conflito entre Isabel dos Santos, na altura, a segunda maior acionista do BPI e a administração da instituição financeira. 

A sua mais recente vitória foi com a TAP – para onde vai para a administração  – ao negociar com David Neeleman e Humberto Pedrosa a reversão de parte da empresa de volta para o Estado.