Responsabilidade

Vivemos momentos complexos, mesmo que haja ‘impressões de grupos’ que alimentem a ilusão da satisfação do exercício do poder. 

Tempos em que se alienam responsabilidades quanto ao que ocorreu em Pedrógão Grande e nos concelhos limítrofes. 

Mas tempos preocupantes, em que o assalto à instalação militar de Tancos – onde terão sido roubados lança-granadas e outros engenhos explosivos – não pode deixar de ser ponderado até nas circunstâncias atuais do terrorismo internacional. 

Não foi um assalto qualquer. Foi um assalto preparado a uma instalação militar! Lemos que o sistema de vídeo vigilância estaria avariado há dois anos. E acreditemos, por bondade, que terá sido uma surpresa este assalto. Se não foi, se não foi apenas uma falha grave de segurança, importa imputar responsabilidades. Sem tibiezas. Mesmo que afetem alguma instituições que se julguem intocáveis em razão de normas ‘piramidais’ que o sistema construiu. E, aqui, teremos que dizer que pirâmides só no Egito… Que não em Portugal. 

É que ’uma pessoa responsável faz o que lhe dá a sensação de utilidade e de se sentir prestável para com os outros’. E os ‘outros’, aqui, são a ‘comunidade no seu todo’ – ou então aqueles que lhe estão próximos, em razão de múltiplas circunstâncias. Como, por exemplo, as que resultam da próxima disputa eleitoral autárquica.       

Aqui, é importante sentir que as pessoas carecem de quem lhes dê a solidariedade que lhes é negada. 

Que olhe por (e para) elas na sua individualidade. 

Que sinta o pulsar dos seus sentimentos, das suas dores, da sua solidão, da sua desesperança.

Que saiba ler o pensamento que os olhos tristes de um velho, que vive abandonado à sua sorte, transmitem.

Que perceba a frustração, em certos lugares imensa, que inunda as noites e as ruas. 

Que se condoa com as lágrimas de pais que se vêem submersos no infortúnio do desemprego, despejados de suas casas, sem saberem o que fazer nem como alimentar os seus filhos. 

Por isso, quem adota cada homem e cada mulher na sua singularidade, como destinatário da sua ação, nunca pode claudicar nem conformar-se. 

Nunca claudica no seu esforço nem se conforma com um resultado qualquer. 

Sabe que tem perante si uma vida que tem direito a um projeto de vida. 

E que tem direito a concretizar esse projeto de vida. 

E sabe que a sua função é ajudá-lo a concretizar esse projeto de vida. Ou a reconstruir, com renovada esperança, o sentido da vida após uma tragédia imensa. E sabe que a sua função é ajudá-lo nesse processo que, tantas e tantas vezes, se afigura como improvável ou, até, impossível. 

Nunca esqueço que há bem poucos anos, na sua cerimónia de posse, o Patriarca de Lisboa – o meu querido e Bom Amigo D. Manuel Clemente – iniciou o seu discurso dizendo, com a simplicidade que lhe é própria e com a profundidade que o caracteriza, que estava ali não para tomar posse do Patriarcado mas sim para ser apossado pelo Patriarcado. 

É essa a nossa responsabilidade. Como homens e como cidadãos. Como profissionais e como atores sociais. Ou atores políticos. E como escreveu Alain, «quanto melhor se enche a vida, menos se tem medo de perdê-la»!