11 de julho de 1971. “Como são morenos os meninos portugueses!”

Chegava a Lisboa a Pipi das Meias Altas. Isto é, Inger Nilsson, a atriz. Nesse tempo, a sua popularidade era gigante. Por toda a Europa! A visita foi organizada pelo Turismo Português em Estocolmo e pela RTP

A rapariguinha parecia genuinamente espantada.

– E têm um ar muito feliz!

Talvez lhe tenham dito o pior de Portugal, lá na Suécia.

Inger Nilsson.

– Gosto imenso das crianças portuguesas.

A Pipi das Meias Altas.

– Os meninos aqui são todos morenos! – espantara-se um pouco antes, no início da conversa.

Tinha chegado três dias antes. A Lisboa, quero dizer. A personagem de Astrid Lindgren em carne e osso na pele da sua atriz.

De nome completo: Pippilotta Viktualia Rullgardina Krusmynta Efraimsdotter Langstrump.

Fazia furor na televisão da miudagem, um pouco por todo o mundo.

Sardas na cara, tranças vermelhas, com uma força inacreditável, morava sozinha numa casa muito velha de uma aldeia muito pequena. Completamente sozinha, também não: tinha um macaco (Senhor Nilsson) e um cavalo.

O pai era marinheiro e estava lá para os confins dos mares do Sul.

Pipi das Meias Altas era dona de um baú cheio de moedas de ouro.

Em Portugal, a série passou até 1973. Depois houve um filme, nos cinemas.

Mas eu falava de 1971. Início de julho de 1971.

A Pipi das Meias Altas, isto é, Inger Nilsson, estava em Portugal. Cinco dias na Costa do Sol e mais cinco dias no Algarve. Iria rodar imagens para uma película que se chamaria “Pipi em Portugal”. Afinal, sempre era filha de um marinheiro.

Doze anos, apenas. Em Estocolmo era protagonista de um espetáculo ao vivo.

A magia de Pipi estava longe de ser uma mania lusitana. Tanto assim que a pequena Inger já viajara por toda a parte, promovendo a sua série televisiva: Alemanha Federal, Jugoslávia, França, Itália, Inglaterra e até a URSS.

Vinha com a lição na ponta da língua:

– Aprendi na escola que Portugal é um país de lindas praias, com muitos pescadores, barcos, coisas que eu adoro, assim como animais.

Portugal: um país riquíssimo em animais…

Inger Nilsson tornara-se uma menina rica. Na propriedade dos pais, perto de Jönköping, possuía vários cavalos. Era apaixonada pelos seus bichos.

Praias

A Pipi das Meias Altas viu o mar português. Levaram-na a praias diversas, puseram-na em contacto com garotos da sua idade, prepararam-lhe um programa a preceito.

Trazia consigo uma corte: o pai, jornalista de profissão, dois dos irmãos, vários operadores de câmara que estavam incumbidos de recolher imagens para documentários.

O convite partira de uma iniciativa do Centro de Turismo Português em Estocolmo e da RTP, em conjunto. A televisão nacional também prometia para breve um documentário sobre a visita de Inger.

Quando lhe perguntavam o que queria ser quando fosse grande, respondia de pronto:

– Atriz! Claro! Com papéis sérios!

Não foi longe nessa ambição. Um ou outro filme obscuro, uma série na televisão alemã e uma carreira como secretária que ainda dura, aos 58 anos.

Mas, nesse verão de 1971, desembarcando do avião que fizera escala em Copenhaga, rodeada de repórteres e polícias, trazia a lição bem estudada:

– Estou muito feliz por estar em Portugal! Quero ir ver o mar e os barcos!

Poucas horas depois era fotografada à beira de uma piscina, no Estoril.

– Disseram-me que ia estar muito calor, mas afinal não está…

Uma ligeira desilusão.

Primeiro autógrafo para uma senhora idosa, cliente do mesmo hotel. Em seguida, a praia. E o Algarve. Imagens alegres com pescadores e filhos de pescadores. E barcos. Não podiam faltar os barcos para a Pipi.

De animais, não há notícias.

Lá na Suécia, onde os seus espetáculos ao vivo conseguiam atrair mais de quatro mil pessoas, Herr Nilsson, o macaco, e Lilla Gubben, o cavalo que vivia no terraço, esperam por ela.

– Olha, como são morenos os meninos portugueses! – exclamou, habituada a meninos de pelo ruço.

Karin Inger Monica Nilsson ainda hoje é a Pipi das Meias Altas. Embora esquecida num escritório qualquer. Uma e outra vez surgiu, como cantora. Não deixava de ser a Pipi.