Êxitos de verão. Toda a gente os conhece, ninguém sabe de quem são

Uns têm letras  que, de tão surreais, ficam imediatamente no ouvido. Quase todos foram interpretados por cantores que caíram no esquecimento. E, em comum, têm ainda outras duas coisas: um ritmo que grita dança e o facto de terem perdurado na memória coletiva. O b,i. foi ao baú dos cd’s buscar os principais hits de…

A ‘Lambada’ ao ‘Despacito’. Os êxitos ou hits de verão têm quase sempre uma duração tão longa – ou tão curta – quanto o calor de cada hemisfério. As letras fazem-se de versos simples, as músicas têm que, imperativamente, entrar nos ouvidos. E, já agora, no corpo, que hit que se preze pede uma dança à altura.

A propósito do verão que chega oficialmente na próxima quarta-feira, reunimos os temas que, nas últimas duas décadas, fizeram furor nas rádios, pistas de dança, festas à beira da piscina ou de pé na areia.

Podem não ser as composições que vão ficar na história da música mas, pelo menos algumas, terão ficado, certamente, na história de cada vida – é sabido que o sal no corpo e uma noite amena são items que podem entrar, facilmente, na pedra da memória.

Lambada – kaoma | 1989

A No princípio era o ritmo, depois veio a canção. Se a Coca Cola marca foi adotada como nome de bebida, neste caso, a história escreveu-se ao contrário. Primeiro veio a dança, do nordeste brasileiro, influenciada por formas sul-americanas como o caribe e o merengue. E só depois chegou a canção, adaptada da boliviana ‘Chorando Se Foi’. O êxito não foi acidental: a ‘Lambada’ surgiu no apogeu do carnaval baiano, na época uma fábrica de tendências de dança de rua. Em pouco tempo, não havia esquina onde não se dançasse a lambada, nem televisão onde não se visse o vídeo. Dos franceses Kaoma é que poucos se lembrarão. 

Ice Ice Baby – Vanilla Ice | 1990

A De um dos mais famosos samples da história, nasceu um dos primeiros êxitos globais cunhados pelo rap. A técnica do corte e cola começava a ser familiar graças a nomes da música eletrónica como os KLF e ao conhecimento crescente do hip-hop enquanto grande fenómeno da cultura americana. ‘Ice Ice Baby’ apropriava-se de ‘Under Pressure’, o dueto de Freddie Mercury e David Bowie – que não receberam os créditos pela utilização do original –, e com poucas palavras nascia uma canção com um pé na rua e outro na pista de dança. Vanilla Ice, o nome de código do rapper da Flórida Robert Van Winkle, começou por ser o lado B de uma versão de ‘Play That Funky Music’, mas assim que a rádio a descobriu, pô-la a tocar em rotação permanente. Até hoje.

Macarena – Los Del Rio | 1993

A diferença entre ‘Macarena’ e outros êxitos sem bilhete de identidade está na duração. Entre 1995 a 1997 esteve em órbita até se gastar definitivamente no verão seguinte. Originalmente gravada como uma rumba em 1992, e editada no ano seguinte, conheceu diferentes versões e remisturas. Em 1997, tinham sido vendidas 11 milhões de unidades do single de ‘Macarena’ em todo o mundo. OVH1 considerou-a o maior ‘one hit wonder’ de todos os tempos, a Rolling Stone a segunda canção mais irritante de sempre e o Sun a décima. Deu para tudo, até para uma paródia metaleira dos Brujeria.

Barbie Girl – Aqua | 1997

A Inexplicável? Talvez. Divertido? Pode ser. Fútil? De certeza. «I’m a Barbie girl, in a Barbie world / Life in plastic, it’s fantastic / You can brush my hair, undress me everywhere / Imagination, life is your creation». A letra de ‘Barbie Girl’ diz mais do que todas as explicações, até porque a popularidade da maioria destas canções pertence ao domínio da irracionalidade. Acontece e pronto. No reinado pop escandinavo, os Aqua foram um misto de Abba e Ace of Base – as duas fábricas de canções suecas mais eficazes do Séc. XX – e conquistaram o seu quinhão num final de milénio muito animado em termos de música pop plastificada e de consumo rápido. ‘Barbie Girl’ é a paródia total ao kitsch.

Believe – Cher | 1998

A indústria já lhe tinha declarado o óbito mas Cher ainda tinha um trunfo para gastar. ‘Believe’, o primeiro êxito global a usar Autotune, antes de Kanye West o popularizar como ferramenta vocal. Editada em outubro de 1998, galgou tabelas de vendas para ser a canção mais ouvida no verão seguinte. Em 2007, a Warner revelou ter sido o single mais vendido de sempre da editora. Dez milhões de unidades fizeram de ‘Believe’ a música de dança recordista da música popular. Ainda hoje é o single mais vendido de uma voz feminina no Reino Unido.

The Ketchup Song – Las Ketchup | 2002

Por irónico que possa parecer, as Ketchup foram fundadas por um produtor de flamenco. O espanhol Manuel ‘Queco’ Ruiz formou o grupo no apogeu das bandas laboratoriais de rapazes ou raparigas e o êxito foi imediato. ‘The Ketchup Song’, um romance do flamenco com a pop descartável a partir de um sample de Sugarhill Gang, também conhecida pelo apelido ‘(Aserejé)’, instalou-se como um vírus no verão de 2002 e serve na perfeição para a secção de tesourinhos deprimentes. E o que seria deste otoverme – em linguagem de Miguel Esteves Cardoso – sem uma coreografia que o mundo inteiro pudesse imitar?

Dragostea Din Tei – O-Zone | 2004

Nunca o romeno esteve nas bocas de tanta gente. O verão de 2004 foi todo de ‘Dragostea Din Tei’ (traduzível por ‘O Amor das Tílias’), da banda moldava O-Zone. Nada disto faz muito sentido, nem o facto de o único país europeu a não aderir à moda ter sido a Itália. Logo uma das pátrias do latim, onde a familiaridade com a sonoridade de ‘Dragostea Tin Tei’ seria maior. Para se ter ideia da dimensão do fenómeno, o single esteve no comando das tabelas de vendas dos mercados mais importantes, como o Reino Unido, e é o quarto single mais vendido em França no Séc. XXI com mais de um milhão de cópias.  

Crazy – Gnarls Barkley | 2006

E que tal uma canção séria e adulta, só para destoar? ‘Crazy’, dos Gnarls Barkley – dupla formada pelo produtor Danger Mouse, conhecido por ter recriado o álbum homónimo dos Beatles com os versos de ‘Black Album’ de Jay Z, e do cantor de Atlanta Cee-Lo Green provou, em 2006, que é possível fazer música para o povo com critério e exigência. ‘Crazy’ é um tributo assumido a toda a cartilha soul da Motown e segue, a regra e esquadro, as regras dos clássicos. O público compreendeu-a e reagiu. Em 2006, toda a gente a sabia de cor.

Rap das Armas – Cidinho & Doca | 2008

2008. O funk carioca é o novo normal das festas. Ouve-se de norte a sul e em todas as franjas. ‘Rap das Armas’, o funk proibido escrito em 1995 pela dupla MC Júnior e Leonard, é repescado para a banda sonora de Tropa de Elite. Uma remistura leva-a a entrar no circuito noturno europeu. É o tempo dos ringtones. Nos telemóveis não se ouve outra coisa. O «parapapapapapapapapapa» reproduz o som de uma metralhadora. Nesse verão, toda a gente a canta. Cidinho & Doca estão perto e são a dupla mais requisitada. No Sudoeste, não se consegue entrar na tenda. Em oito, sete são versões do ‘Rap das Armas’. A outra é o hino nacional.

Ai Se Eu Te Pego – Michel Teló | 2011

'Ai Se Eu Te Pego’? Claro que lembro. Michel Teló? Quem? As primeiras versões só eram conhecidas dos nordestinos mas a versão definitiva foi gravada pelo sertanejo. A canção só ganhou expressão internacional quando Cristiano Ronaldo festejou um golo e imitou a coreografia. Seguiram-se outros futebolistas e o tenista Rafael Nadal quando comemorou a Taça Davis de 2011, bailando ao som do sertão com os companheiros de equipa  David Ferrer, Feliciano López e Fernando Verdasco.A dimensão global de ‘Ai Se Eu Te Pego’ foi tanta que, no balanço e contas de 2012, foi o sexto single mais vendido no mundo. Como quase sempre acontece com os cantores brasileiros, Portugal foi dos países a acolhê-lo com mais entusiasmo. Salas esgotadas e a música por todo o lado. Até enjoar.

Gangnam Style – Psy | 2012

Tudo o que é preciso para fazer furor no verão, ‘Gangnam Style’ tem. Ritmo, bom humor, e uma coreografia peculiar. Psy introduziu o mundo à K-Pop (pop coreana, tal como existe a J-Pop para o Japão) e foi um dos primeiros êxitos a ganhar o cognome de ‘viral’. Antes, a popularidade media-se em vendas; com ‘Gangnam Style’, o YouTube passou a ser testemunho do impacto coletivo.  A 20 de setembro de 2012,  foi reconhecido pelo Guinness como o vídeo com mais likes do YouTube: 12,6 milhões. Tem atualmente 2 868 529 988 milhões de visualizações difíceis de dizer por extenso.

Despacito – Luis Fonsi | 2017

E eis chegados a 2017. ‘Despacito’ é omnipresente, das feiras ao NOS Primavera Sound, Instagram Stories e Snapchat. Todos a renegam mas não há quem não a cante. ‘Despacito’, pop latina decorada pelo reggaeton de Daddy Yankee, a voz que pôs o género nos roteiros noturnos ocidentais. Existe uma remistura com nada mais, nada menos que Justin Bieber. O vídeo foi rodado em Porto Rico e tem a participação da modelo Zuleyka Rivera. Estreada a 12 de janeiro, em cem dias de vida online os números eram impressionantes. Essas mil milhões de visualizações estão perto de ser duplicadas e gerar mais alguns milhões, agora que o streaming já rende lucros a editoras e artistas. Luis Fonsi vem a Portugal em Julho.