BPI. Trabalhadores aderem em peso ao programa de saídas voluntárias

O programa voluntário de rescisões do banco terminou a 2 de junho e recebeu 800 candidaturas, um número bem acima do previsto. Instituição financeira liderada por Pablo Forero vai ser obrigada a escolher quem quer e pode dispensar

Os trabalhadores do BPI estão a aderir em massa ao programa voluntário de rescisões por mútuo acordo. O banco agora liderado por Pablo Forero estava a contar com a saída de 50 colaboradores e inscreveram-se 800, apurou o i junto dos sindicatos do setor. A ideia era até ao final do ano saírem cerca de 400 trabalhadores, dos quais 350 através de reformas antecipadas e outros 50 através de saídas amigáveis; no entanto, esta “corrida” poderá obrigar a mudar as contas da instituição financeira.

Fonte ligada ao processo admite que “deverão sair cerca de 150 trabalhadores através de rescisão amigável, reduzindo assim o número que será necessário através de pré-reformas”, o que está a obrigar a instituição financeira a fazer uma seleção rigorosa de quem poderá sair.

O programa terminou no passado dia 2 de junho e oferecia 2,5 salários por ano, mas sem direito a subsídio de desemprego, uma vez que o banco não pediu para ser considerado uma empresa em reestruturação. No entanto, quem rescindir poderá manter o serviço médico SAMS e ainda as atuais condições nos créditos concedidos até aqui.

A verdade é que a saída de 400 trabalhadores está bem longe do número que tinha sido adiantado inicialmente pelo CaixaBank quando avançou com a oferta pública de aquisição (OPA) sobre o BPI, que apontava para a saída de 900 trabalhadores. Esta questão levou o presidente do banco catalão, Gonzalo Gortázar, a confirmar que iria haver saída de trabalhadores, mas por rescisões amigáveis, sem recurso a despedimentos, seguindo a prática do BPI. O banqueiro observou que a saída de 900 trabalhadores, projetada no prospeto da OPA, era “meramente indicativa”.

No entanto, confrontado com esta adesão ao programa de saídas, Paulo Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), acredita que “esta meta poderá ser rapidamente alcançada e muito mais cedo do que estava previsto, que era em três anos”, admite ao i, mostrando-se ainda surpreendido com a quantidade de trabalhadores dispostos a abandonar o banco.

A preocupação é semelhante à de Rui Riso, presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), ao garantir que a meta de saída de 900 trabalhadores já está a ser cumprida e que o BPI deveria questionar-se porque é que há tantos candidatos a aderir ao plano de rescisões. “Quando um banco precisa de reduzir x trabalhares e aparecem o dobro dos candidatos, deve interrogar-se porque é que tantos trabalhadores não confiam no banco para o futuro da sua carreira e para o futuro da sua vida, e não vale a pena a administração dizer que isso se deve às condições que oferece. Não era expetável que a adesão fosse tão grande”, diz ao i.

O responsável lembra ainda que “o banco não se pode dar ao luxo de deixar sair uma secção inteira, mas isto é reflexo da instabilidade vivida no BPI”. Mas deixa um alerta: com a economia a crescer, vai-se assistir a um aumento da atividade económica, contribuindo para um crescimento da atividade bancária e, quando isso acontecer, “vai haver um vazio do saber porque é desperdiçado o know-how que existe, ficando apenas trabalhadores com menos experiência”.

Plano em marcha na Caixa

Também a Caixa Geral de Depósitos está a levar a cabo um programa de redução de trabalhadores. A adesão através de reformas antecipadas já terminou a 30 de junho, mas o número ficou aquém do que era pretendido. A garantia é dada ao i pelo presidente do sindicato dos trabalhadores da CGD, João Lopes. “A administração tinha como meta a saída de 550 trabalhadores através de reformas antecipadas, mas não conseguiu atingir esse número.”

Agora, o banco liderado por Paulo Macedo tem em mãos o plano de rescisões amigáveis, mas o responsável diz que ainda não é possível quantificar porque arrancou há dias. Para isso, a instituição financeira está a oferecer indemnizações entre 1,6 e 2,1 meses por ano trabalhado, num limite máximo de cinco anos. A diferença está relacionada com o regime social em que os trabalhadores estão integrados. No entanto, os valores podem ser mais baixos se os empregados do banco quiserem manter alguns benefícios, nomeadamente o serviço médico SAMS.