Bancada aquece verão do PSD. Ninguém avança contra Marco António

Se Marco António Costa não quiser, Hugo Soares pode candidatar-se às eleições para líder parlamentar inesperadamente marcadas para 19 de julho

O inesperado começa a ser o habitual no PSD. Teresa Leal Coelho como candidata à Câmara de Lisboa, Pedro Pinto como presidente da distrital da capital numas eleições que não eram para acontecer já e, agora, a antecipação das eleições para a liderança do grupo parlamentar que só deveriam acontecer lá para setembro.

Três lugares de protagonismo e três sinais da liderança ‘laranja’: a estrutura é para se segurar antes das autárquicas (em outubro) e antes do congresso (do próximo ano). “Agora só falta convocar o congresso durante o verão ou na véspera das autárquicas”, comenta ao i um opositor interno de Passos Coelho.

“Já se estava à espera que ninguém estivesse à espera, desculpe lá o pleonasmo”, ironiza uma parlamentar do PSD. “Se o líder [Passos] decidiu uma comissão permanente num sábado de congresso, a bancada não seria diferente”. E não foi. Ontem, quinta-feira de manhã, Luís Montenegro anunciou na reunião do grupo parlamentar que a sua sucessão irá a votos no dia 19, daqui a duas semanas.

A notícia foi mesmo novidade para a maioria. Passos Coelho não avisou ninguém a não ser a direção de bancada incumbente. “Abrir uma brecha interna no mês em que António Costa começava, pela primeira vez, a perder o estado de graça é que parece só inconsciente”, aponta outro deputado, crítico do ‘timing’ da saída de Luís Montenegro. “É um processo normal feito num tempo normal. Não vai ser o nosso foco de atenção”, havia garantido por sua vez Montenegro, à porta da reunião.

O debate sobre a sucessão de Montenegro não é novo e há um nome que tem sido falado desde o início de todo o imbróglio. É Marco António Costa. O vice-presidente e homem forte do PSD é visto como a solução que garante a unanimidade que Luís Montenegro conseguiu nas três vezes em que foi candidato ao cargo. “Uma das grandes vantagens do Marco é que ninguém se candidataria contra ele”, avalia um vice-presidente da bancada atual. “Com Montenegro também foi assim”.

Em fevereiro, o SOL noticiou que havia pressões sobre Marco António para avançar para a presidência do grupo parlamentar. Vários deputados incentivam o dirigente nortenho a candidatar-se. E antes, no final de 2016, o SOL admitia que Hugo Soares, numa lógica de renovação geracional, também pudesse avançar. Hoje, Hugo Soares parece correr na ‘pole position’ para herdar o cargo de Montenegro na primeira fila dos sociais-democratas se Marco António não quiser.

Um membro do Conselho Nacional, que pediu o anonimato, afirmou ao i: “Repare que para o Hugo é importante assumir-se agora porque os primeiros vice-presidentes, ao contrário dos restantes que têm pasta, não transitam entre direções de bancada. Depois de o Luís Montenegro sair, quem vier para o lugar dele deverá trazer o seu primeiro-vice: pelo menos é assim a tradição”.

Mas havia e há mais, tanto pretendentes quanto pretendidos. Em particular na comissão permanente de Passos Coelho, nos seus vice-presidentes de partido.

Não se pode excluir Teresa Morais, que ganhou um protagonismo e um capital político recente como candidata à chefia do conselho das secretas, colhendo vários elogios interpartidários. O seu nome já tinha sido ponderado para líder de bancada quando Montenegro esteve para integrar o executivo Passos.