Costa quer segurar ministros … até ver

Os socialistas acreditam que Costa regressa de férias com os planos traçados: resistir à pressão para a remodelação imediata, mas renovar e reforçar o Governo quando menos se esperar.

A fragilidade dos ministros da Defesa e da Administração Interna é reconhecida em todos os quadrantes da maioria parlamentar que apoia o Governo – PS, BE e PCP –, mas a maioria acredita que a remodelação governamental, inevitável a breve prazo, não será imediata.

Até porque, apurou o SOL, Marcelo Rebelo de Sousa também está empenhado em segurar Azeredo Lopes e Constança Urbano de Sousa. Para muitos, até o facto de o primeiro-ministro não ter desmarcado as férias que já tinha marcado, e que tanta polémica geraram, é um claro sinal de que António Costa não reagirá em cima dos acontecimentos, mas pretenderá substituir os ministros no âmbito de um reajustamento mais amplo e planeado, para dar um novo élan à ‘geringonça’ depois das eleições autárquicas – a meio da legislatura.

A não demissão imediata dos ministros mais fragilizados com os recentes e graves acontecimentos de Pedrógão Grande e de Tancos – e particularmente do ministro da Defesa – foi analisada no encontro da semana passada entre as três mais altas figuras do Estado, convocado pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa na sequência do conhecimento do roubo de material de guerra dos paióis das Forças Armadas.

O apuramento de tudo o que se passou, em Tancos como em Pedrógão, e das respetivas responsabilidades é a prioridade, tanto para Marcelo como para Costa, e Ferro Rodrigues subscreveu.

No PS, a estratégia também é aplaudida, mas já se vão fazendo os cenários sobre os perfis dos eventuais futuros membros do Governo e até já se fala em nomes e nas consequências da sua chamada a cargos ministeriais.

César e Lacão apontados como possíveis ministros

Carlos César e Jorge Lacão, por exemplo, são apontados como prováveis ou putativos ministros da Defesa e da Administração Interna, o que poderá abrir uma nova frente a solucionar: a liderança da bancada.

A haver dança de cadeiras com estes protagonistas, não falta quem desdramatize, adiantando que, a confirmar-se a ida de César e de Lacão para o Governo, Ana Catarina Mendes teria a possibilidade de ascender à liderança da bancada socialista (ver caixa).

Entre os socialistas, as expetativas apontam para que Costa chame pesos pesados para as pastas da Defesa e da Administração Interna. E é neste contexto que surgem os nomes de Carlos César e de Jorge Lacão. A escolha de César, presidente do partido, para a Defesa viria, aliás, de acordo com a tradição socialista de nomear um açoreano para a tutela dos militares.

Ministros e presidente do PS tentam aliviar pressão

Para a maioria dos socialistas ouvidos pelo SOL, António Costa não se limitará a mexer na equipa, devendo primeiro anunciar um verdadeiro programa de ação para devolver autoridade e respeitabilidade às Forças Armadas e, por outro lado, apresentar um verdadeiro plano de prevenção e combate ao flagelo dos incêndios florestais.

E deverá aproveitar para alargar a outras áreas mais sensíveis e fragilizadas do seu Executivo, como a Economia ou a Educação.

Em entrevista a esta edição do SOL (págs 16-23), João Soares, por exemplo, diz que a demissão de Constança Urbano de Sousa e de Azeredo Lopes «não acrescentavam nada neste contexto» a não ser «confusão». Mas sublinha que «é preciso encontrar soluções» depois de assente a poeira e apuradas todas as causas do que se passou em Pedrógão e em Tancos.

Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros e substituto do primeiro-ministro durante a ausência deste em palma de Maiorca, também afirmou publicamente durante a semana que a constituição do Governo e uma eventual remodelação é matéria que só ao primeiro-ministro diz respeito.

Na mesma linha, Carlos César, presidente do PS, defendeu, na quinta-feira, que cabe ao primeiro-ministro «responder da forma que entenda adequada do ponto de vista da estrutura e composição do Governo» (ver texto ao lado).

Pedro Nuno Santos também deu uma entrevista para tentar aliviar a pressão. O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares defendeu a tese de que as demissões não resolveriam nenhum problema. «As demissões, quando são pedidas, têm muitas vezes consequências perversas, que é criar a ilusão de que o problema está resolvido com a demissão», disse o governante numa entrevista conjunta à Rádio Renascença e ao jornal Público. Pedro Nuno Santos argumenta que é preciso «mudar o chip» e deixar de ter como «primeira resposta» aos problemas «a exigência de uma demissão».

Um dia depois, foi a vez de Carlos César voltar a falar do assunto para garantir que «a nossa primeira análise não indica uma responsabilização dos ministros que os obrigue a uma tal decisão».

O CDS foi até agora o único partido a pedir a demissão dos dois ministros. Assunção Cristas insistiu esta semana – depois de Costa ter respondido às perguntas do CDS com a garantia de que mantém a confiança na ministra –, reiterando que o primeiro-ministro deve «explicar de viva voz por que é que entende que estão reunidas as condições para manter a confiança política num membro do Governo, neste caso a ministra da Administração Interna, que demonstra tantas fragilidades».