Quando António Costa regressar…

Chegamos a julho e começam as praias a encher-se, umas em Portugal com portugueses e estrangeiros, outras no estrangeiro com estrangeiros e portugueses. 

A maioria dos portugueses continua por cá, mas uns tantos arriscam ir para fora – seja por ostentação, para defesa da privacidade ou por gostarem de viajar. Acho bem! Pena é que as canículas provoquem tantos estragos e danos, inclusive em algumas moleirinhas de uns quantos iluminados deste país.

Num país em que tudo corria sobre rodas, com os portugueses enlevados com os méritos de um Governo altruísta na devolução de cortes e com a popularidade no auge, Tancos e Pedrógão vieram trazer os deuses à terra. De repente, parece que rogaram uma praga ao país. 

Tremeu Costa, tremeu o Governo, e os ministros visados vieram a terreiro alijar responsabilidades. Das consequências a prazo, ouviremos falar. Para já, ficou visível uma evidência: a dificuldade de neste país, nesta época, se assumirem responsabilidades em casos de óbvia desgraça. Exemplos de demissões no Governo, como a de Jorge Coelho, parecem ser vagas recordações de um passado que deu exemplos de dignidade nas funções públicas.

Mudando um pouco a agulha, o início da época balnear também foi marcado pelo lançamento de duas candidaturas autárquicas de peso, diria até dois antecipados vencedores: Fernando Medina em Lisboa e Rui Moreira no Porto. 
Medina fez o lançamento com pompa e circunstância, merecendo a presença de todo o estado-maior do PS e sendo apresentado como o ‘delfim de Costa’ por alguma comunicação social, sempre solícita e pressurosa a louvar os méritos do PS, seja qual for o motivo. 

Moreira, comedido e independente, fez a festa com os sempre fiéis, mas afirmando uma autoridade que Medina não conseguiu. A presença de Costa no lançamento de Medina, ao invés de afirmar a autoridade deste, diminuiu-a. Mostrou que Medina é um legado de Costa em Lisboa, e a sorte de ambos é que a direita desistiu de lutar pela maior autarquia nacional (dando aqui razão aos oponentes de Passos Coelho, como Ângelo Correia, que se referiu ao PSD como «desaparecido»). 

Ora, Passos Coelho não anda desaparecido, como bem se ouviu recentemente a falar de suicídios pós traumáticos em Pedrógão – facto ampliado até à exaustão pela comunicação social, quase toda de esquerda. 
Também vai dizendo outras coisas – e relevantes – como o Governo andar desaparecido nestes casos de Pedrógão ou Tancos. Mas essas são ‘escondidas’ no meio dos telejornais, ampliando a convicção do seu próprio desaparecimento. 
Morais Sarmento vai-se mostrando (como sucedeu nas eleições na distrital de Lisboa), colado a Manuela Ferreira Leite ou Rui Rio, todos eles convictos de que o seu principal opositor é Passos Coelho e não o PS ou este Governo. 

Melhor do que ser oposição ao Governo é ser oposição dentro do próprio partido: tem palco na imprensa e aumenta a convicção pública de que o PSD não é alternativa ao PS, dado que nem internamente se entendem. 
Até Cristas tem maior visibilidade pública do que Passos Coelho, como se viu nos pedidos de demissão de dois ministros – exigindo o regresso de Costa a Lisboa para o fazer, como se este fosse sensível a estas exigências totalmente inócuas. 

O Governo já respondeu reafirmando que os ministros estão de pedra e cal – e não são uns simples casos de 64 mortos ou um roubo de umas granadas e diverso material de guerra que os podem colocar em causa. Ou seja: o PS em todo o seu esplendor, dono e senhor de um país que adormeceu com notícias de um crescimento económico que a classe empresarial se esforçou por conseguir mas do qual o PS recolhe os frutos.

Dando o mote para estas tristes realidades se esquecerem, Costa foi de férias, escolhendo o estrangeiro (ao contrário de Passos Coelho, que preferia a Manta Rota). O tempo é de veraneio, contando com a habitual bonomia dos portugueses. 

Confirmando que o período é mesmo estival, começam a predominar na comunicação social as parangonas sobre transferências de jogadores, a que se seguirão os jogos de preparação dos três grandes para ocupar páginas de jornais, a que acrescem estórias de uns emails a sugerirem favores de árbitros. 
Entretanto, quando Costa voltar de vez a Portugal, revigorado, saberá comandar a reconstrução de Pedrógão e suas casas, bem como o reforço de segurança em Tancos, garantindo que nunca mais se farão cortes na segurança nacional, nem que qualquer troika o exija (obviamente esquecendo que, em 2016, o seu Governo fez cortes de 302 milhões de euros na segurança e na defesa). Detalhes como obras de reparação em Tancos, orçadas em março em 388 mil euros mas apenas aprovadas em junho (73 dias depois), não têm qualquer importância.

P.S. 1 – Curioso como se passam alunos com negativas. Claro que não houve facilitismos, apenas a louvável preocupação de proporcionar melhores férias de Verão às famílias dos educandos, garantindo novas oportunidades nos anos subsequentes. E, sobretudo, não provocando traumas nos jovens! Se estivermos a contribuir para um abandalhamento da exigência, só pode ser de direita quem assim pense.

P.S. 2 – Que saudades vou (vamos) ter de Medina Carreira, da sua voz sempre incómoda na sociedade, quase como ‘consciência falante’ de todos nós; íntegro e vertical, é uma referência que se perde, um saber que deixamos de ouvir.