Patrão fora, dias horríveis na loja

Como é que vai Costa sair desta embrulhada? É que nem todas as vacas voam nem há predestinados a terem sempre sorte na vida

Devemos sempre fazer um exercício simples, em nome da honestidade intelectual: se o que se passou com as falhas em Pedrógão Grande e em Tancos tivesse acontecido com Passos Coelho como primeiro-ministro o que diria o PS se fosse oposição? E se tivesse sido com Santana Lopes? E se Santana Lopes logo a seguir desaparecesse de férias? A honestidade intelectual obriga a não ter dois pesos e duas medidas. Claro que os partisans fazem aquilo que sabem fazer, que gostam de fazer e em alguns casos são pagos para fazer: defender os seus. Se fosse com Passos Coelho, aqueles que hoje acusam Costa estariam a defendê-lo acerrimamente. E os que defendem hoje o Governo estariam a dizer que Passos se deveria demitir de primeiro-ministro, o Governo cair, etc.

Se fosse com Santana Lopes a coisa seria mais consensual: tanto o PS como mais de metade do PSD e até do CDS estariam a pendurá-lo numa forca. E o Presidente da República obrigatoriamente iria pesar a dissolução do parlamento. O double standard, um costume do comentário político português – já para não falar da prática política nacional – é uma subtração de inteligência. Infelizmente, o desperdício de cérebros não se faz só com a imigração. É óbvio que as últimas semanas mostraram um país à deriva, em que apenas a intervenção do Presidente da República ajudou a colmatar a inexplicável falha de comando do Governo, cuja função básica é assegurar a segurança dos cidadãos. Dizer que todos os cidadãos têm direito a férias e que não foi António Costa o responsável direto pelo assalto a Tancos ou os incêndios de Pedrógão Grande é, como dizia alguém sobre outro assunto qualquer, «poucochinho». 

 Como vai sair António Costa desta embrulhada de que é urgente que saia? Costa é calculista, frio, inteligente e foi capaz de pôr várias vacas a voar – mas não foi capaz, por exemplo, de ganhar as eleições legislativas a um desgastadíssimo Pedro Passos Coelho. 

O facto de ter dado a volta por cima ao conseguir ser primeiro-ministro apoiado por uma maioria de esquerda, não lhe conferiu ainda poderes de super-homem. Os próximos dias vão ser interessantes para avaliar o futuro político de Costa. Nem todas as vacas voam, nem existem predestinados a ter sempre sorte na vida.