Tancos teve obras de mais de 2,2 milhões de euros

Desde 2012 houve 43 intervenções na base assaltada em junho. Apesar das sucessivas empreitadas, está sem videovigilância há pelo menos cinco anos e a vedação estava por concluir.

O Exército fez, pelo menos, 43 obras de requalificação em Tancos nos últimos sete anos. O total das intervenções nos vários edifícios ultrapassa os 2,2 milhões de euros, sem IVA. O investimento parece não ter sido suficiente para resolver os problemas de segurança dos Paióis Nacionais de Tancos, onde está guardada uma parte significativa do armamento militar português. 

De acordo com todos os contratos que constam no portal Base da contratação pública, desde 2010 que o Exército realizou várias obras mas, nenhuma na área da segurança. Ao contrário do que acontece com outras bases, não há sequer registo da aquisição de videovigilância. Para vedações, houve apenas dois contratos em 2016 e a intervenção prevista para outra zona do perímetro só em 2018 foi agora antecipada.

Em dezembro de 2016, o Estado-Maior do Exército celebrou dois contratos com um valor total de 226 mil euros, acrescidos de IVA, para reparar a vedação dos paióis de Tancos. No entanto, o contrato realizado com a empresa Corifa, através de ajuste direto, não prevê a reparação da totalidade da vedação destes paióis nacionais. Em 30 dias, a Corifa repôs menos de metade do perímetro total da vedação – foram apenas arranjados 900 metros de um total de 2.500 metros de vedação. 

E nesse mesmo dia, o Exército assinou um outro contrato com a Corifa a Construções JJR & Filhos, Lda. e a Tecniprisma Engenharia, Lda. para fazer obras gerais em dez paióis, metade das instalações deste género localizadas em Tancos. 

Estas últimas obras arrancaram há oito meses e não foram suficientes para travar a invasão e um assalto a Tancos. 

 Para reforçar a segurança em Tancos, só após cinco dias após o assalto, que foi detetado no dia 28 de junho, o Ministério da Defesa autorizou, a 5 de Junho, uma despesa de 316 mil euros (mais IVA) para a reconstrução da vedação dos Paióis, de acordo com um despacho publicado em Diário da República.

No despacho é manifestada a «prévia concordância» do ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, à autorização do lançamento daquela empreitada que visa a «reconstrução da vedação periférica exterior no perímetro norte, sul e este dos Paióis Nacionais de Tancos», Vila Nova da Barquinha.

Questionado pelo SOL, o Exército salienta ainda assim que Tancos «tem um duplo perímetro de rede sem falhas e que integra um esquema de segurança física baseado na presença de uma força militar, consubstanciando assim um modelo de segurança projetado para as ameaças e os riscos que estavam identificados». 

Sem videovigilância há cinco anos

No que diz respeito à videovigilância, Tancos estaria sem câmaras a funcionar há pelo menos cinco anos, como o SOL escreveu na última edição. Porém, o portal BASE, onde deviam constar todos os contratos públicos pelo menos desde 2008, não contém qualquer registo de compra de videovigilância para estas instalações. O mesmo não se passa com outras bases militares. O Exército apenas registou a compra de videovigilância para os Paióis Nacionais de Alcochete. Este contrato foi celebrado com a empresa Observit Tecnologias Visão a 27 de novembro de 2015 e custou 8,4 mil euros. Foram também publicados contratos de videovigilância para as bases de Beja, Vendas Novas e Évora. Pesquisando por Tancos, nada aparece.

Segundo o jornal Público, houve ainda seis contratos firmados todos com a empresa Flamengi, através do Sistema Integrado de Controlo de Acessos e Vigilância Electrónica (SICAVE) em que foram investidos mais de 406 mil euros em equipamento de videovigilância. Nenhum se destinava a Tancos e também nenhum aparece no Base. Trata-se de equipamento para o quartéis de Sapadores em Lisboa, da Amadora, da Serra do Pilae em Vila Nova de Gaia e para a escola de Armas em Mafra. O contrato mais recente referido pelo diário tem data já deste ano com a implementação de videovigilância para o regimento de Artilharia Nº5, em Vendas Novas, com o valor de 53.695,67 euros. 

O Chefe do Estado Maior do Exército, general Rovisco Duarte – ouvido esta semana no Parlamento à porta fechada – apontou a falta de supervisão e falhas no cumprimento de diretrizes como razões para o assalto, de acordo com a Lusa. O general terá dito ainda que quem roubou o material de guerra «tinha conhecimento do conteúdo dos paióis». Também ontem o ministro da Defesa Azeredo Lopes foi ontem confrontado no Parlamento pelo deputado do Bloco de Esquerda, João Vasconcelos, com a falta de videovigilância em Tancos há cinco anos. Sobre a prioridade das intervenções feitas nos últimos anos nada foi ainda dito. O paiol de Tancos é um dos dez paióis nacionais.