Philip Hammond. A tarefa inglória de negociar o Brexit contra vontade

O atual Chancellor of The Exechequer, político desde sempre e membro do partido conservador toda a vida, defendeu a permanência do Reino Unido na União Europeia. Estudante em Oxford e deputado britânico desde 1997, foi ministro de diversas pastas ao mesmo tempo que construiu fortuna.

Durante a campanha para o referendo sobre a permanência ou saída do Reino Unido da União Europeia (UE), Philip Hammond era o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico num governo do partido conservador. Num discurso na altura, avisava que o único interessado no Brexit era a Rússia, que (ainda) ambiciona e apoia a queda da UE. Além disso, alertava que seria muito difícil uma nova relação do Reino Unido com Commonwealth uma vez que estes já têm acordos de comércio com a UE.

Hammond salientava que o Brexit tinha um «preço marcado» e é ele quem vai ter de o pagar. O agora ministro das Finanças está incumbido de negociar o melhor acordo possível para a saída do Reino Unido da UE, uma tarefa difícil e demorada, com várias questões melindrosas. Hammond parte para uma negociação contra as suas convicções e na qual o Reino Unido começa em desvantagem.

As finanças são um dos aspetos centrais da vida de Hammond, mas é a política que o tem movido desde que é gente e sempre no partido conservador. Filho de um engenheiro civil, nasceu a 4 de dezembro de 1955 em Epping, Essex e foi educado na escola de Shenfield. A sua primeira memória política foi forjada aos 14 anos. «Lembro-me do dia das eleições gerais [1970] quando Harold Wilson perdeu – lembro-me perfeitamente de ir de bicicleta para casa e sentir-me aliviado por viver num país com um governo tory outra vez».

Mas Philip Hammond não era diferente dos outros adolescentes. Um seu antigo colega de escola lembra que aquele «chegava à escola vestido com uma gabardina de cabedal e com o The Guardian do braço». Há até uma fotografia de classe em que Hammond, cabelo comprido, está às voltas com o nó da gravata torcido e o botão desapertado. Mas ser gótico e ler o The Guardian não era incompatível com o apoio a Edward Heath, que era o primeiro-ministro na altura.

Em 1974 Hammond ingressou na Universidade de Oxford no dia em que o partido trabalhista venceu a segunda eleição geral. Aí conheceu Colin Moynihan. Os seus estudos em Oxford foram em Filosofia, Política e Economia e a sua crença profunda na estabilidade económica e finanças públicas prudentes foi forjada nos turbulentos anos que se seguiram e culminaram na chegada ao poder de Margaret Tatcher, em 1979.

Quando Moynihan, um timoneiro olímpico eleito deputado em 1983, foi nomeado ministro do desporto no final de 1980. Hammond foi seu assistente político, não remunerado. Depois de uma eleição falhada em 1994 chegou à Casa dos Comuns em 1997, no dia de mais uma vitória trabalhista e com um resultado esmagador de Tony Blair. Hammond foi eleito pelo círculo de Runnymede and Weybridge, no Surrey, lugar que mantém desde então.

 

O Carrasco das despesa pública

Antes de ser nomeado Chancellor of The Exechequer – nome oficial de ministro das Finanças – depois do referendo, tinha sido ministro dos Negócios Estrangeiros, e antes disso, o responsável pelas pastas do transportes e da defesa. No governo sombra torie ganhou reputação de «carrasco da despesa públicas», o que o colocou na posição ideal para ser o responsável por um aperto orçamental que fechasse o ‘buraco negro’ nas contas do Ministério da Defesa. Como ministro desta pasta anunciou que as mulheres podiam servir nos submarinos da Marinha Real e tal começou a acontecer no final de 2013.

Durante a sua juventude, além do estilo gótico, as colegas lembram Hammond como um rapaz que sabia beijar bem e todos lhe reconheciam o espírito empreendedor. A sua ambição, que nunca escondeu a ninguém, era ser milionário antes de chegar aos 30 anos. Um outro colega lembra-o como sendo «muito distinto de se ver, muito alto, muito aquilino, muito magro e super confiante».

A certa altura, quando percebeu que a discoteca local era muito popular entre os seus amigos e colegas de escola, o rapaz com olho para as oportunidades de negócio decidiu lançar a sua própria discoteca. Um outro colega recorda o episódio: «Podemos fazer isto!», disse-me Philip, que «alugou um local, vendeu bilhetes e perguntou-me se eu podia ser o DJ. Eu estava a ganhar 20 libras para pôr música e o Philip a fazer fortunas».

Hammond, que teve vários empregos, construiu a sua fortuna com participações numa sociedade de construção de lares de idosos e com o trabalho de consultoria. É um dos membros mais ricos do parlamento britânico, com uma fortuna avaliada, no final de 2014, em 8,2 milhões de libras (perto de 10 milhões de euros). Casou com Susan Williams-Walker em 1991. O casal conheceu-se quando ela era assistente eleitoral de Colin Moynihan. Têm três filhos – Amy, William e Sophie.

Quando veio o referendo do Brexit, Hammond manteve-se leal a David Cameron, defendendo a permanência do Reino Unido na UE durante a campanha. Depois do resultado, Philip Hammond, 60 anos, nunca objetou a máxima de Thresa May: «Brexit é Brexit». Mas nunca deixou de dizer aos eleitores que deixaram para o governo uma tarefa inglória. O processo de saída da UE poderá demorar seis anos.