Remodelação. Costa dá o peito às balas por Constança e Azeredo

Da remodelação que é hoje anunciada ficam de fora os ministros que estão sob contestação – a Administração Interna e a Defesa. Costa mantém a confiança

“Obviamente, não os demito.” A frase é de Humberto Delgado, foi pronunciada como um statement contra Salazar (“Obviamente demito-o”) e ontem foi António Costa a glosá-la pela milionésima vez para se assumir como tanque defensivo dos seus ministros mais fragilizados, a ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e o ministro da Defesa, José Azeredo Lopes.

Hoje, o primeiro-ministro vai a Belém apresentar os novos secretários de Estado, numa remodelação despoletada pela investigação do Ministério Público ao caso das viagens da Galp. Com a saída de Rocha Andrade (Assuntos Fiscais), Jorge Costa de Oliveira (Internacionalização) e João Vasconcelos (secretário de Estado da Indústria). A necessidade de substituir estes três governantes levou Costa a aceitar a saída de mais secretários de Estado que já tinham manifestado vontade em abandonar o governo, como, por exemplo, Miguel Prata Henriques, da secretaria de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, ou Carolina Ferra, secretária de Estado da Administração Pública.

A novidade ontem anunciada pelo primeiro-ministro foi a criação de uma secretaria de Estado da Habitação – horas depois o Presidente da República confirmaria a possibilidade da remodelação obrigar a uma alteração da lei orgânica do governo.

“A Habitação tem de ser uma nova área prioritária nas políticas públicas, dirigida agora às classes médias e em especial às novas gerações, não as condenando ao endividamento ou ao abandono dos centros das cidades, promovendo a oferta de habitação para arrendamento acessível”, disse o primeiro-ministro no seu discurso de arranque do debate do Estado da Nação.

E foi assim que anunciou a única novidade estrutural da remodelação do governo: “No ajustamento governativo que amanhã [hoje] apresentarei ao Presidente da República, está previsto precisamente a autonomização da habitação como secretaria do Estado”.

O pedido de demissão dos ministros da Administração Interna e da Defesa tinha sido pedido de forma dura pela líder do CDS, Assunção Cristas.

“O senhor primeiro-ministro tem a oportunidade de remodelar profundamente o seu governo, por isso diga cara a cara: vai ou não demitir a sua ministra da Administração Interna? Vai ou não demitir o seu ministro da Defesa? Fique sabendo, se nada fizer, então tudo, mas tudo o que acontecer daqui para a frente nestas áreas já não tem qualquer para-raios, tudo lhe será diretamente assacado. A responsabilidade passa agora a ser sua e só sua”. E é aí que António Costa aproveitou para dar a garantia total de que nem Constança Urbano de Sousa nem José Azeredo Lopes serão substituídos nesta leva.

“Obviamente não demito nenhum ministro, nem a ministra da Administração Interna e nem o da Defesa. Tudo o que um ministro meu fizer será sempre responsabilidade minha”, disse o primeiro-ministro colocando-se, como a presidente do CDS já sugerira, na primeira linha de fogo.

A tomada de posse dos novos secretários de Estado deverá ter lugar ainda esta sexta-feira ou sábado de manhã, antes do Presidente da República iniciar a sua viagem ao México.