Emiratos, maassai e leopardos

«Tudo a seu tempo!…» – disse muitas vezes o padre Felicidade Alves, durante a caminhada lúcida para a passagem para a outra forma de vida. Tudo a seu tempo!…

tinha já outra crónica preparada, quando a urgência emergiu no monitor do computador: «a qualquer momento, uma grande empresa de caça de animais selvagens de grande porte pode fechar um contrato que forçaria mais de 48 mil membros da tribo africana maassai a deixar as suas terras, para dar lugar a reis e príncipes ricos do médio oriente, que desejam caçar leões e leopardos». avaaz.org.

esta é uma rede de activistas que procura mobilizações para temas sociais a nível global, através da net. tem vários milhões de aderentes.

como tudo o que mexe, existem sobre ela opiniões diferentes. a minha é positiva.

quando, no princípio do milénio, eu – por motivos profissionais – desci aos infernos, uma amiga ofereceu-me uma estatueta guerreira maassai.

é de cerâmica frágil, mas parece de bronze. é alta e estilizada como eu gostaria de ser.

ganhei-lhe estima, somos quase da família.

do pouco que a literatura disponível nos permite saber, os maassai são pastores semi-nómadas que vivem na tanzânia e no norte do quénia, há centenas de anos.

como em quase todas as culturas tradicionais da região, as mulheres fazem o trabalho duro e os homens ocupam-se da segurança e assobiam para o lado.

apesar das dificuldades de recenseamento, justificáveis pelo tipo de vida, parece não serem mais de um milhão. milhão esse determinante para a biodiversidade e sustentabilidade daquela zona.

o presidente da tanzânia, jakaya kikwete, já uma vez resistiu aos dólares dos senhores dos petróleos, e recusou vender o seu país e parte do seu povo a retalho.

a pressão dos órgãos de comunicação social, nacionais e internacionais, parece ter tido um papel significativo na opção pela recusa.

agora, a oferta deve ter subido e o argumento do mesmo presidente é o desenvolvimento turístico que tal venda trará ao país no seu todo.

não sou objectiva neste tipo de questões.

sou sempre contra os reis e os príncipes do petróleo, que compram o mundo aos pedaços para brincarem às caçadas ou a outra coisa qualquer que possam exibir como troféu perante os seus haréns – enquanto os povos dos seus próprios países vivem no subdesenvolvimento mais atroz.

sou contra este modelo de desenvolvimento.

não conheço nenhum maassai, que eu saiba, mas acredito que sei distinguir com clareza o bem do mal. e sei também o que dói ter um país à venda.

se o leitor estiver de acordo, agora que alguns de nós estão de férias, consulte a aavaz.org e assine a petição internacional.

já ganhámos muitas vezes.

catalinapestana@gmail.com