Rendas. Irmão de novo secretário de Estado arguido no caso EDP

Miguel Barreto Antunes foi constituído arguido no caso EDP uma semana antes do seu irmão Tiago Antunes tomar posse como secretário de Estado

Há um 9º arguido no processo que investiga as rendas da EDP. É Miguel Barreto, que foi diretor-geral da Energia, e é agora suspeito de corrupção passiva, tráfico de influências e participação económica em negócio.

Como já foi noticiado pelo Observador, os investigadores estão convencidos de que Miguel Barreto poderá ter recebido cerca de 1,4 milhões de euros quando a EDP comprou à Martifer uma empresa de certificação energética de que Barreto era sócio. Em 2010, Miguel Barreto ocupou o lugar de administrador delegado de uma empresa do grupo Martifer.

Miguel Barreto – ou Miguel Barreto Caldeira Antunes, o seu nome completo – é irmão do novo secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Tiago Antunes, que António Costa foi buscar a Bruxelas, onde trabalhava no gabinete do eurodeputado socialista Pedro Silva Pereira.

Miguel Barreto Caldeira Antunes foi nomeado diretor-geral da Energia em 2007 quando o primeiro-ministro era José Sócrates e o ministro da Economia e da Inovação, que tutelava aquela direção-geral, Manuel Pinho, agora também constituído arguido no caso EDP.

Nascido em 1976, é o irmão mais velho de Tiago Barreto Caldeira Antunes (n. 1978). Na época em que Miguel Barreto foi nomeado diretor-geral da Energia, o seu irmão mais novo era adjunto do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Filipe Batista, cargo que ocupou entre 2005 e 2009. Depois, foi chefe de gabinete do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, José Almeida Ribeiro – um dos “cérebros” do governo Sócrates.

“Processo dos CMEC”.

Miguel Barreto foi constituído arguido de um processo que é designado como o “processo dos CMEC”. O diminutivo CMEC significa “Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual” e funciona como um espécie de “seguro” para os produtores de eletricidade, que lhes permite obter compensações quando a remunieração fica abaixo de um determinado nível. É este processo complexo a que comummente se tem chamado “as rendas excessivas” da eletricidade, do qual a EDP é a principal credora.

Os CMEC surgem durante o governo Durão Barroso, embora a lei só tenha sido publicada quando Pedro Santana Lopes era já primeiro-ministro. Mas foi já com António Mexia à frente da EDP (que também é arguido) e José Sócrates à frente do governo que começaram a ser aplicados os CMEC. Basicamente, com o mercado livre e a aposta nas energias renováveis, as centrais tradicionais perdiam receita que o Estado compensava.

A denúncia dos ex-governantes.

O Ministério Público desencadeou as investigações a Miguel Barreto depois de uma queixa feita do ex-secretário de Estado da Energia do governo de Passos Coelho, Henrique Gomes, e do seu chefe de gabinete Tiago Andrade de Sousa, em 2014.

Os dois membros do governo Passos denunciaram alegadas irregularidades na concessão à EDP de uma licença ilimitada para a exploração da central de Sines e um negócio que Miguel Barreto terá feito com a EDP depois de dar a licença.