Lisboa: um passeio para Medina

Fernando Medina já ganhou as eleições em Lisboa. Confesso que não é uma pessoa com quem espontaneamente simpatize. Pelo contrário. Parece-me pouco autêntico, muito calculista, que nunca diz o que pensa mas o que julga ser melhor para a sua carreira.

Os seus olhos não enganam: são esquivos, não encaram ninguém de frente.

E foi pouco honesto em algumas questões, como na 2.ª Circular, anulando o concurso por supostas irregularidades quando a verdadeira razão eram os seus interesses eleitorais.

Medina percebeu que as obras na 2.ª Circular iam provocar profunda irritação em pleno período eleitoral – e arranjou um pretexto para as cancelar sem pagar indemnizações à empresa vencedora do concurso.

Não foi bonito. Medina devia ter assumido o adiamento das obras, pagando o previsto no contrato.

Mas, pese embora estes defeitos, a verdade é que Fernando Medina vai ganhar com facilidade as eleições em Lisboa. E isto porque tem obra feita e poucos pontos fracos.

Quanto à obra, critica-se a Câmara por só dar atenção aos turistas e não pensar nos que vivem na cidade. E ter feito as obras para pôr a cidade mais bonita e não para facilitar a vida aos lisboetas.

Ora, estas críticas não fazem nenhum sentido. Durante décadas desejou-se que Lisboa tivesse mais turistas, invejou-se Paris ou Londres pelas multidões de turistas que atraíam, enquanto Lisboa continuava esquecida.

E agora critica-se a Câmara por se preocupar com os turistas?

Relativamente ao ‘embelezamento’ da cidade, ele tanto beneficia os turistas como os que vivem na capital. Toda a gente gosta de viver em sítios bonitos.

E não se diga que o turismo está a afugentar a população que vivia no centro de Lisboa. A verdade é que em Lisboa já vivia muito pouca gente, a cidade estava deserta à noite e aos fins de semana, e foi o turismo que a fez renascer, que a animou, que encheu as ruas e as praças pela noite fora, e preencheu os sábados e domingos.

O centro de Lisboa estava a morrer – e o turismo tem contribuído para o fazer regressar à vida.

A prova de que Fernando Medina tem poucos pontos fracos está na ausência de temas por parte da oposição. Um dos cartazes de Cristas diz: «Pela Nossa Lisboa». Um dos cartazes de Teresa Leal Coelho diz: «Uma cidade onde vivem avós, filhos e netos».

Se houvesse grandes lacunas na política de Medina para Lisboa, a oposição explorá-las-ia. A pobreza franciscana destes slogans mostra que Medina não tem muito por onde se criticar.

Aliás, a frase do cartaz de Leal Coelho revela mau conhecimento do português. Ela quer dizer «uma cidade onde ’vivam’ avós, filhos e netos». Ou seja: o objetivo é uma Lisboa onde as pessoas permaneçam e as gerações se perpetuem. Se em Lisboa ‘já vivem’ avós, filhos e netos é porque esse objetivo já foi conseguido.

Medina é um candidato pouco empático. Transmite uma imagem de frieza e pouca autenticidade. Mas incapazes de lhe apontarem erros palpáveis, os adversários estão a estender-lhe uma passadeira vermelha.

José António Saraiva