O Marinho e Pinto do PSD

O disparate maior é o de quem pretende silenciar quem não alinha com o pensamento dominante e o politicamente correto. Depois queixam-se dos populismos

André Ventura escolheu o timing perfeito para se lançar na política portuguesa. E o local: em Loures, curiosamente o concelho onde o atual primeiro-ministro e líder do PS teve o seu primeiro teste eleitoral – faz décadas, António Costa (com uma campanha marcada pela demagoga corrida entre o burro e o Ferrari) chegou a fazer discurso triunfal, mas a verdade é que perdeu por poucochinho.

André Ventura, que até queria ser candidato do PSD em Sintra e cuja ligação mais próxima ao concelho é o facto de viver no Parque das Nações (mas do lado do município de Lisboa) – dificilmente ganhará a Câmara. Mas, se não tinha hipóteses nenhumas até esta semana (embora na última edição do SOL já se traçasse o duelo em Loures entre Bernardino Soares e o então candidato da coligação PSD-CDS), passou a tê-las. 

O PCP soube reservar-se na reação à entrevista da polémica (i de segunda-feira) – e, por isso, reforça o seu favoritismo e a pretensão de chegar à maioria absoluta -, mas o PS, BE e o CDS não resistiram. Conclusão: socialistas, bloquistas e centristas deixam de contar na corrida autárquica no concelho.

Porquê? Porque André Ventura não é tolo. É populista, não teme o rótulo, e sabe que os problemas causados por elementos da comunidade cigana em Loures são reais e atormentam a população.

Não é uma invenção do candidato, nem é um problema menor, que deva ser desconsiderado ou ignorado como PS, BE e CDS parecem querer fazer crer.

Há anos, um jornalista e advogado, sabedor de que as regras deontológicas o proibiam de promover o seu escritório, encontrou no comentário televisivo a rampa de lançamento para uma carreira política.

António Marinho e Pinto pôs o ‘e’ entre Marinho e Pinto, mudou de visual, tirou a brilhantina, vestiu o fato sobre os suspensórios e passou a dizer tudo o que o povo queria ouvir às horas a que o povo se plantava em frente ao pequeno ecrã.

Daí a apresentar-se como candidato à Ordem dos Advogados, perdendo primeiro, mas ganhando depois, a seguir a eurodeputado (pelo Partido da Terra, de que haveria de sair) e a deputado da Nação (pelo PDR, por si criado) foi um pulinho.

Seguindo o exemplo de Marinho e Pinto, vários outros advogados da praça passaram a aparecer frequentemente nas televisões portuguesas. Especialmente a falar sobre casos da Justiça – como começou Marinho e Pinto -, mas também sobre tudo e mais alguma coisa, e em particular sobre o tema da moda, o futebol.

André Ventura é mais um.

Mas não é apartidário nem partidário de um movimento qualquer ou de expressão residual; é conselheiro nacional do PSD.

O aparecimento de André Ventura como candidato autárquico, numa altura em que nos partidos escasseiam personalidades e figuras de referência com disponibilidade para o sacrifício, não é de estranhar.

André Ventura é um académico, com capacidade de comunicação e com ambições políticas.

Ao tomar posição sobre os problemas causados por elementos da comunidade cigana em Loures, nesta altura antes do Verão e depois de semanas negras para o país e para o Governo – com a tragédia de Pedrógão Grande e o roubo de Tancos, mas também com a mini-remodelação forçada -, sabia que Governo e PS não perderiam a oportunidade de desviar as atenções da opinião pública.

E assim foi. Com o BE e o CDS a embarcarem na estratégia.

Pedrógão Grande e Tancos já eram.

A reação manifestamente excessiva a fenómenos como já o é André Ventura é que criam… os fenómenos.

Por isso é que o PCP – que parece ter sido o único partido português a colher a lição do que tão recentemente se passou nos EUA de Donald Trump e na França com Marine Le Pen (e com a transição de votos da esquerda para a extrema direita) – soube quase não reagir.

Quando os problemas existem e são graves, fechar os olhos ou atirar areia para os olhos do povo com discursos do chamado politicamente correto ou pretensamente moralista é a melhor forma de contribuir para o reforço do populismo.

A reação inusitada de António Costa, de Catarina Martins, de Assunção Cristas e por aí fora contra uma opinião expressa pelo candidato do PSD a Loures é, por isso, um enorme disparate.

Até porque, em nome da defesa dos direitos da minoria de etnia cigana, o que na realidade fizeram – para além de desviarem os holofotes dos temas que marcavam a agenda – foi querer silenciar André Ventura. Como se pretende silenciar quem ouse expressar opinião ou pensamento diferente do dominante ou… do politicamente correto.

Na realidade, André Ventura não atacou os legítimos direitos da minoria cigana.

Atacou, sim, os ilegítimos comportamentos de que se arrogam membros de uma determinada comunidade, que é uma realidade em Loures, como o é noutros concelhos do país, e a indiferença e complacência da administração local e central, ou seja, das autoridades do Estado.

Condená-lo a ele por dizer que o Estado, as autoridades, o povo, não pode continuar a pactuar com comportamentos ilegítimos, legal e socialmente recrimináveis – seja por parte de membros da comunidade cigana seja de quem for -, é obviamente um erro.

Daqueles que pode pagar-se bem caro.

Marinho e Pinto, de jornalista e advogado num quase inexistente escritório em Coimbra, chegou a bastonário e é eurodeputado.