André Ventura. ‘Se o Governo não financiar a PSP, criarei um exército’

Segurança continuará a ser prioridade da campanha. Se não conseguir mais ativos para a Polícia de Segurança Pública, aposta em fazer da Polícia Municipal um «exército de proteção».

Depois de afirmar que a etnia cigana «tem que interiorizar o manual do Estado de Direito» e criticar o seu sentimento de «impunidade» perante a lei, André Ventura, candidato do PSD à Câmara de Loures, não larga as temáticas securitárias. 

Ao SOL, Ventura assume que «se o Governo insistir em não dar à PSP os meios para Loures ser um concelho mais seguro», não terá «outra hipótese que não criar um exército». «A polícia municipal terá que ser um exército de proteção», diz Ventura, que aponta que a força local tem «menos de 20 agentes». 

A polémica, que estalou esta semana em consequência de uma entrevista ao jornal i, fez com que Ventura fosse acusado de «discurso de ódio» pelo Bloco de Esquerda, que apresentou queixa na Comissão de Igualdade e no Ministério Público. 

Escutado pelo SOL, Ventura mostra-se tranquilo. «Mal iria a democracia se alguém fosse condenado por trazer a debate uma questão tão importante. Criminalizar este tipo de situações não tem sentido, já disse ontem o professor Vital Moreira». 

Tendo referido na entrevista inicial que o apoio do CDS lhe dava margem para maiores ambições («A ideia de uma coligação com dois grandes partidos para a Câmara de Loures faz crer que, pela primeira vez, é possível chegar lá»), o candidato admite que a situação agora mudou: «Se fiquei feliz com a saída do CDS? Evidentemente que não fiquei. Não é pela questão dos números – como sabe o número de eleitores do CDS não é extraordinariamente expressivo em Loures – mas dava uma ideia de maior força ressuscitar uma AD. Só digo que lamento». 

Depois de Assunção Cristas justificar a queda do apoio a André Ventura, que foi seu colega na Universidade Nova, com o facto de não querer deixar que «o CDS fosse associado a racismo», Ventura diz que «faz todo o sentido que a presidente do CDS não associe o seu partido a racismo», mas que isso «não se aplica a esta campanha» e cita Pedro Passos Coelho, que lhe manteve o seu apoio. «Como Passos Coelho disse, o PSD não é nem nunca será um partido racista. Deixaria de ser o PSD».

Confrontado com as notícias que davam o CDS a tentar manter a coligação para a Câmara de Loures substituindo apenas o candidato, Ventura confessa somente: «Se tiver acontecido, fico desiludido». 

Sobre o facto de dois deputados do seu partido (Rubina Berardo e Fernando Negrão) terem esta semana visitado a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas, Ventura não se sente visado. «Se é uma reação,  é uma reação positiva porque mostra que o que disse é verdadeiro. O PSD tem capacidade de discutir os temas sem preconceitos sobre os problemas que quer resolver. É um partido plural que quer estar perto das pessoas para resolver os seus problemas».  

Não me importo que me chamem populista

No fim do dia, André Ventura não demonstra arrependimento. «Senti um enorme apoio do PSD. Não contava com a reação, mas teve o efeito positivo de aprofundar o debate. Quero muito que seja o nosso quadrante político a discutir isto». 

O também comentador e professor de Direito recusa qualquer associação à extrema-direita e ironiza: «Se ser de extrema-direita é discutir questões de grupos, acho que o conceito de extrema-direita está a ficar extraordinariamente amplo e antagónico». 

Em relação à acusação de populismo é menos contundente: «Se ser populista é responder aos anseios das pessoas e fazer política para as pessoas, então não me importo que me chamem populista». 
Ventura revela-se surpreendido com algumas reações, adiantando que achava «que haveria mais maturidade em debatermos estas questões». «Parece que o nosso Estado de Direito mantém vários tabus que não permitem uma liberdade de expressão total», de que se diz defensor na íntegra. «O problema não se resolve com violência ou com ódio, mas tem que ser resolvido dentro do Estado de Direito», indica como estratégia.

Ventura, que tem sido também acusado de generalizar a comunidade de etnia cigana em Loures, diz que esse é um risco que «acontece em qualquer debate», preferindo corrê-lo «a não haver debate de todo». 

«Estou de consciência tranquila pelo modo como me expliquei, mas quem está na política tem que assumir riscos e eu não tenciono ficar em casa», promete o candidato a autarca e dirigente nacional do PSD. Apesar de afirmar que tem «recebido muitas ameaças», mostra-se satisfeito. 

«As pessoas compreenderam o que quis dizer, não me lembro de isto ser debatido assim. Faz parte de tentar enriquecer a democracia. Repare que já é debatido na Holanda, nos Estados Unidos, em Espanha…», enumera, em jeito de conclusão, ao SOL. 

A exortação formal do PS e o pelouro errado

Menos tranquilos com as afirmações de André Ventura sobre a etnia cigana e as condições de segurança no município de Loures estão os outros partidos. 

Logo no dia em que saiu a controversa entrevista, Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta do Partido Socialista, deu uma conferência de imprensa no Largo do Rato. 

«O candidato do PSD e do CDS à Câmara de Loures tem produzido um conjunto de declarações de lamentável conteúdo racista e de ódio. É tempo de exigir a Pedro Passos Coelho que quebre o inadmissível silêncio em que mergulhou perante a gravidade destas declarações», advertiu Mendes. Passos, por sua vez, veio a público, mas apenas para confirmar que a candidatura de Ventura seguiria em frente. «Tem obrigação de cortar o mal pela raiz ou tornar-se-á cúmplice de semear o discurso da intolerância, do racismo e da xenofobia», havia dito Ana Catarina Mendes. 

A candidata dos socialistas a Loures, Sónia Paixão, lembrou que que a gestão local da segurança, que André Ventura criticou, é um pelouro da responsabilidade de Nuno Botelho, vereador do PSD, «partido por quem o candidato André Ventura se candidata».