Venezuela. A grande colisão aproxima-se

Governo e oposição não arredam pé a uma semana das explosivas eleições para uma Assembleia Constituinte.

As ruas e o governo venezuelano preparam-se para uma colisão que se vem cozinhando há meses, cujo desfecho mais provável é o aumento na violência e que tem data marcada: 30 de julho, domingo, dia de eleições para a Assembleia Constituinte com que Nicolas Maduro parece querer agarrar-se ao poder e que praticamente estão decididas já em seu favor.

Até lá, a oposição prepara uma campanha de protestos e jornadas de desobediência civil. Para segunda-feira estão marcadas grandes marchas de protesto, quarta e quinta há greve geral e sexta organizam-se novas manifestações. Tudo convocado depois de mais um fim de semana de confrontos em que dezenas de pessoas ficaram feridas, centenas foram detidas e um membro da oposição foi aprisionado pela polícia secreta.

Nicolas Maduro e a oposição não arredam pé. Este domingo os opositores uniam-se em torno de Wuilly Arteaga, um violinista de 23 anos que se tornou uma  presença comum nos protestos e que foi violentamente agredido no fim de semana e que apareceu nas redes magoado, prometendo regressar às ruas.

“Os venezuelanos não estão a desistir, são corajosos, virão às ruas defender a democracia e a Constituição”, disse sábado o deputado opositor Simon Calzadilla, anunciando os planos de protesto para a semana em nome da Mesa da Unidade Democrática (MUD), a aliança de partidos opositores.

Do outro lado da barricada, os grandes candidatos escolhidos pelo oficialismo para as eleições de domingo atiraram contra a oposição e prometeram levar o voto para a frente e acusaram os manifestantes.

“Não lhes vamos permitir a destruição da pátria”, disse Delcy Rodriguez num comício, que se afastou do posto de ministra dos Negócios Estrangeiros para ser candidata à Constituinte. E a própria mulher do presidente Maduro: “Unidos vamos dizer à direita: estamos fartos de terrorismo”, disse Cilia Flores em Caracas.

Inevitabilidade

Os previsíveis confrontos de domingo serão em muitos sentidos o culminar de quatro meses de confrontos de rua.

Morreram já mais de cem pessoas desde que em abril o Supremo tentou tirar o poder à Assembleia Nacional, o órgão legislativo que a aliança opositora conquistou com maioria absoluta em 2015, aproveitando a profunda crise económica que por estes dias deixa hospitais sem medicamentos, a hiperinflação que pode ultrapassar os 1000% este ano – segundo o FMI – e a impopularidade de Maduro.

Ninguém sabe ao certo o que planeia o presidente venezuelano com a Assembleia Constituinte. Os círculos eleitorais favorecem-no, mas a proposta é tão fraturante que virou até a procuradora-geral, Luisa Ortega, uma chavista, contra o seu governo. Para além dela, várias alas do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) lamentam que Maduro não tenha convocado um referendo para alterar a Constituição, como antes fez Hugo Chávez – o presidente promete fazê-lo depois dos trabalhos da Constituinte.

Maduro pode estar mais periclitante que nunca, mas parece ter do seu lado apoio suficiente para não cair. As eleições da Constituinte parecem inevitáveis e umas presidenciais antecipadas impossíveis. O PSUV está ainda com o governo e o mesmo acontece com as Forças Armadas. Maduro promete levar 230 mil soldados para as ruas no dia das eleições, o que pode ser mais gasolina na fogueira.

Maduro na ofensiva

A oposição controla o máximo órgão legislativo, é verdade, mas as suas leis não passam pelo Supremo e  demonstra-o o teatro da MUD da semana passada, quando nomeou 33 magistrados para uma espécie de Supremo Tribunal – um deles, Angel Zerpa, foi capturado no sábado pela polícia secreta, segundo a Reuters e a procuradora-geral.

A comunidade internacional tentou pressionar Caracas, mas sem sucesso. O presidente americano ameaça por estes dias com um bloqueio petrolífero à Venezuela, que na prática a deixaria fora do seu maior mercado de exportação energética. Mas a tática pode revelar-se um fracasso e dar mais argumentos a um governo que culpa os EUA pela crise económica, como escreve o colunista Moisés Naím no “El País”.

O presidente da Colômbia ainda foi a Cuba na semana passada para tentar uma mediação do aliado venezuelano na crise, mas Juan Manuel Santos saiu de Havana de mãos a abanar.

Nos dias que se seguiram, aliás, Maduro respondeu violentamente a uma paralisação de 24 horas. “Quando esse estúpido apareceu a convocar a greve eu disse: Com que cú se senta esta barata?”, disse o presidente do deputado opositor Freddy Guevara. “Terrorista imbecil”, lançou. ““No dia 30 de Julho vamos cobrar todas as contas, das greves e das sabotagens.”