Guerras domésticas, por vezes quentes, outras vezes latentes

Muito me têm surpreendido as declarações que membros do governo, a começar pelo primeiro-ministro, têm proferido contra a Altice. Até pode ser que estejam carregados de razão. Mas é invulgar, e imprudente, entrar desta forma em guerra aberta contra uma empresa privada, sobretudo se esta tem um papel importante na comunicação social.

De facto, a situação piorou para o lado do governo nos últimos dias com a compra dos ativos do grupo Prisa em Portugal, com destaque para a TVI, pela Altice. Nada que atrapalhasse os membros do governo, que continuaram a fazer declarações hostis à Altice, sendo o máximo atingido pelo ministro dos negócios estrangeiros, Santos Silva, a declarar que se fosse trabalhador da PT talvez também fizesse greve.

A PT já foi muito mais valiosa do que é hoje. Erros de gestão, a má situação económica do país, que se arrastou por vários anos, e o desinteresse da parte de vários governos, fizeram com que a PT seja hoje uma fração do que foi. Não é o caso que mais me entristece, pois já tivemos uma multinacional a sério, a Cimpor, que foi vendida e desmembrada. Mesmo assim, tenho pena do destino de sucessivos emagrecimentos e erros da PT.

Acresce a isto a TVI. Será que o governo quer abrir uma guerra com um canal de televisão aberto que tem 25% do mercado, e que para muita gente é a única fonte de informação? É estranho. A informação da SIC é independente, e a da RTP hoje também, não sendo a porta-voz governamental que foi durante décadas. Assim, António Costa não tem qualquer interesse em entrar em guerra com a TVI. Mas ao abrir as hostilidades contra a Altice, demonstra, numa versão mais benévola, que é um homem corajoso, ou que, numa versão de quem o conhece pessoalmente, “o António Costa não é para brincadeiras”.

Tenho a certeza que com ele um candidato autárquico que hostiliza a comunidade cigana não duraria mais de 24 horas até perder o apoio do partido. São quase tristes os últimos dias de Passos Coelho como líder do PSD. Já quase não pode entrar em qualquer guerra. E Rui Rio espera, atenta e pacientemente.