Autoeuropa. Trabalhadores mantêm braço-de-ferro com empresa

Já está marcada greve para dia 30 de agosto, mas reunião de quarta-feira com a administração pode travar paralisação

Os trabalhadores da Autoeuropa preparam-se para entregar hoje o pré-aviso de greve ao ministério da Segurança Social. A paralisação está marcada para o próximo dia 30 de agosto, mas poderá prologar-se por mais cinco dias, entre 2 e 6 de setembro. Isto depois de os trabalhadores terem chumbado a nova proposta de horário da administração. Para esta quarta-feira está agendada uma reunião entre a administração da Autoeuropa e o sindicato e só este encontro é que poderá travar a greve.

Ainda assim, continua a haver alguma esperança. Nos últimos anos braços-de-ferro como estes têm sido resolvidos. As soluções encontradas pela administração e pela comissão de trabalhadores ao longo dos anos permitiram garantir a paz social e a manutenção dos postos de trabalho na fábrica de automóveis de Palmela, mesmo nos períodos de crise no setor automóvel, bem como no momento crítico do escândalo das emissões.

Em causa está a necessidade de trabalhar mais um dia na fábrica de Palmela, de forma a permitir o aumento da produção da fábrica, que deverá produzir mais de 200 mil automóveis em 2018, o dobro do registado em 2016, graças à chegada do novo modelo, o SUV T-Roc.

O que é certo é que os argumentos das duas partes estão lançados. Do lado dos trabalhadores da fábrica de Palmela há a recusa de trabalhar ao sábado como se fosse um dia normal. “Os operários recusam-se a trabalhar ao sábado e a receber como um dia normal”, ou seja, pretendem uma verba extra por trabalhar ao fim de semana. “Os trabalhadores têm o direito de ter uma vida estabilizada há 20 anos. A proposta da administração compromete a saúde e a compatibilização da família”, afirmou fonte sindical.

Já do lado da administração há a promessa de diálogo. “Dando seguimento às boas práticas de gestão e entendimento entre a empresa e os representantes dos trabalhadores, a Volkswagen Autoeuropa mantém-se disponível para procurar uma solução que vá ao encontro das expectativas dos colaboradores, e que ao mesmo tempo cumpra com os compromissos assumidos com a casa-mãe na atribuição do T-ROC à fábrica de Palmela”, refere em comunicado.

 Durante o mês de agosto, a Autoeuropa vai começar a produzir o novo modelo, que será comercializado a partir do último trimestre do ano, estando a sua apresentação oficial agendada para a primeira semana de setembro no Salão Automóvel de Frankfurt.

 

Novas exigências

As negociações entre os trabalhadores e a empresa decorriam há algum tempo, mas foram interrompidas pela administração no final de junho, devido à antecipação da paragem coletiva, que normalmente ocorre em agosto.

Para preparar as linhas de montagem do novo modelo da marca alemã, a fábrica da Autoeuropa parou a laboração na última semana de junho e primeira de julho.

A empresa recebeu um investimento de 667 milhões de euros na instalação de uma nova plataforma multimodal, que permite a produção de vários modelos. Para fazer face às novas exigências também está previsto aumentar o número de trabalhadores para 4735 até ao final do ano.

Para já, a fábrica revelou que está a contratar cerca de dois mil colaboradores, dos quais 750 são para implementar um sexto dia semanal de produção. “O modelo de trabalho previsto tem enquadramento legal, e a empresa pretende reconhecer o trabalho aos sábados como o quinto dia de trabalho individual com um pagamento adicional ao previsto na lei”, acrescenta a nota.

A marca alemã anunciou no final do ano passado uma reestruturação e um novo plano estratégico, “Pacto para o futuro”, que assentou no despedimento de 30 mil trabalhadores em todo o mundo, 23 mil na Alemanha e o resto no Brasil e na Argentina. De acordo com o líder do grupo, Matthias Müller, esta reestruturação vai ter um impacto de 3,7 mil milhões de euros por ano nos ganhos da empresa a partir de 2020. O objetivo da marca continua a passar por investir em veículos elétricos e sem condutor.