Pedrógão Grande. As perguntas que continuam sem resposta

São várias as perguntas que permanecem sem resposta. O i faz um apanhado de algumas delas

A Procuradoria Geral da República divulgou esta noite a lista dos nomes das 64 vítimas mortais do incêndio de Pedrógão Grande.

A libertação da informação surge depois de ter sido inquirida Isabel Monteiro, a empresária que nos últimos dias tinha divulgado uma lista de vítimas que ascendia a mais de 70 pessoas.

De acordo com o comunicado da PGR, a inquirição "teve essencialmente como objeto concretizar com rigor a identidade das vítimas indicadas pela testemunha em lista publicitada em órgãos de comunicação social".

Após esta diligência, "apurou-se a existência de diversas imprecisões quanto à identificação das pessoas indicadas na referida lista, bem como repetição de nomes em, pelo menos, seis situações", continua o comunicado do Ministério Público, que adianta que, no essencial, os nomes da lista da empresária e os da investigação eram os mesmos. É aberta excepção para dois casos, o de Alzira Costa, a mulher que perdeu a vida depois de ter sido atropelada quando alegadamente fugia das chamas, e José Rosa Tomás.

O PGR não aumenta contudo o número de vítimas do incêndio para 66. sublinhando que a morte de Alzira Costa está a ser investigada no âmbito de outro inquérito iniciado após haver notícia deste acidente de viação. Já sobre José Rosa Tomás, a PGR diz que a causa de morte, até ao momento, não está está sinalizada como diretamente relacionada com o incêndio. "O Ministério Público não deixará de recolher elementos com vista a definir todas as circunstâncias em que a mesma ocorreu."

O Ministério Público adianta ainda que inquérito relativo aos incêndios se encontra em investigação a situação de 150 vítimas não mortais, tendo já sido inquiridos 40 sobreviventes. É ainda renovado o apelo para que todos os que tenham conhecimento de quaisquer factos relacionados com os incêndios de Pedrógão Grande os transmitam à justiça.

 

Quantas mortes estão a ser investigadas? 

Segundo a informação divulgada ao final dia pela Procuradoria Geral da República, estão a ser investigadas agora 66 mortes. Sessenta e quatro foram já consideradas vítimas do fogo de Pedrógão Grande. O acidente de viação que vitimou Alzira Costa está a ser investigado num inquérito autónomo. O Ministério Público vai agora recolher elementos para verificar a circunstância da morte de José Rosa Tomás, o único nome novo aproveitado pelo Ministério Público da lista feita pela empresária Isabel Monteiro mas que para já não está a ser incluído nem nas vítimas diretas nem nas vítimas indiretas do fogo. Segundo a lista da empresária, o homem faleceu no hospital na sequência de ferimentos do fogo e o funeral realizou-se a 17 de julho. A justiça renovou o apelo para que, quem tenha mais informações, as faça chegar ao Ministério Público. 

 

Quais são os critérios de morte direta e indireta e quando foram definidos? 

Não é público quando foram definidos os critérios, uma vez que não existe propriamente legislação que defina causa de morte direta ou indireta. Só no sábado se ficou a saber que havia uma diferenciação entre as vítimas da inalação de fumo ou queimaduras e outras situações, tais como acidentes de viação.

 

Porque é que os nomes das vítimas mortais não foram tornados públicos após as autópsias e da entrega dos corpos às famílias a 25 de junho e a lista foi remetida para o inquérito legal, que estava sob segredo de justiça? 

Não se sabe. O i colocou a questão ao Ministério da Justiça, que não respondeu. Nos últimos dias, o governo remeteu a divulgação da informação para o MP, invocando segredo de justiça.

 

Porque é que a 65.ª mortal, uma mulher atropelada alegadamente na fuga do fogo, não foi incluída na lista oficial se o bombeiro que morreu depois de um acidente de viação o foi?

Ainda não foi esclarecido. O caso de Alzira Costa está a ser investigado pelas autoridades e o seu processo também não aparece na indicação do Ministério da Justiça sobre o levantamento que foi feito pelo Instituto de Medicina Legal, que apontou para 64 vítimas mortais.

 

Quantas pessoas foram dadas como desaparecidas no incêndio e o que lhes aconteceu? 

O número nunca foi tornado público. Entre 18 e 19 de junho foram transportados para o Instituto Nacional de Medicina Legal 61 corpos, a que se somaram mais duas vítimas mortais identificadas na manhã de segunda-feira, 20 de junho, e depois a morte do bombeiro. Um caso suscita algumas dúvidas. Diogo Costa, um jovem de 21 anos que esteve desaparecido uma semana, aparece na lista agora tornada pública pela Procuradoria Geral da República. Ainda assim, a sua morte só foi confirmada depois de as autoridades já terem noticiado a existência de 64 vítimas mortais. 

 

Quantas vítimas mortais de acidentes de viação foram registadas durante o fogo? Há mais casos de mortes consideradas resultado de acidentes rodoviários?

Até ao momento, só há registo de uma vítima mortal num acidente, Alzira Costa. O i já solicitou dados à Autoridade Nacional Rodoviária sobre mais acidentes de viação verificados durante o fogo, não tendo obtido resposta.

 

Quantas povoações tiveram de combater o fogo sozinhas? 

É mais um balanço que nunca foi feito pela Proteção Civil, tendo havido vários relatos de habitantes que se sentiram abandonados e que combateram as chamas sem apoio de bombeiros. O i procurou este balanço junto do MAI e Proteção Civil, mas não foi fornecida resposta.