Turismo esgota aeroporto

Até maio, Portugal recebeu 7,3 milhões de turistas e prevê-se que este número continue a crescer. É bom para a economia e para o setor, mas agrava os constrangimentos do aeroporto. 

A explosão do turismo está a provocar sérios constrangimentos nos aeroportos, principalmente no de Lisboa. Os números falam por si: Portugal recebeu até maio um recorde de 7,3 milhões de turistas, o que representa um aumento de 10,4% e as perspetivas para o setor são animadoras. Esperam-se 21 milhões de turistas até ao final do ano. Neste momento, os números já estão acima da meta estabelecida na Estratégia Turismo 2027.

As taxas de ocupação são das mais altas de que há memória e as companhias aéreas que operam em Portugal têm vindo a registar mais passageiros a cada mês. Só em junho, a TAP transportou 1,25 milhões de passageiros, mais 238 mil do que em igual período do ano ano passado.

Mas se do lado da economia é positivo, uma vez que o país tem 12,7 mil milhões de euros de receitas por ano provenientes do turismo e que este contribuiu para a balança de pagamentos com quase nove mil milhões de euros, do lado das companhias aéreas estes constrangimentos já são visíveis e com impacto na sua atividade.

A verdade é que estes alertas não são novos. O ministro do Planeamento e das Infraestruturas já veio garantir que a decisão sobre a solução para o reforço da capacidade aeroportuária «deixou de ser urgente e transformou-se numa emergência».

Pedro Marques garante que cabe ao Governo «evitar estrangulamentos económicos, das empresas e da mobilidade dos cidadãos», mas ainda assim o ministro lembrou que o aeroporto de Lisboa atingiu em 2016 os 22,4 milhões de passageiros, «seis anos antes do previsto».

Este condicionalismo também é reconhecido pelo presidente da ANA. Carlos Lacerda alertou para a possibilidade de perder já este ano 2 a 2,5 milhões de passageiros devido às limitações da infraestrutura, que está a 10% de esgotar a capacidade de uso de slots (faixas horárias para descolar e aterrar). A atual capacidade de slots atinge os 90%, o que significa que, por exemplo, uma companhia aérea com um horário para chegar de manhã e um outro ao final do dia para sair «não consegue ter o avião imobilizado, o que dá muito pouca flexibilidade para acomodar novas oportunidades». Isto depois de já ter recusado 400 mil passageiros no primeiro trimestre do ano.

Face a este «bom problema», por «felizmente se estar a crescer muito mais rapidamente do que o esperado», Carlos Lacerda considera imprescindível pragmatismo na forma de investir para «acomodar o crescimento».

Essa preocupação também já foi manifestada pelo presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Raul Martins. Para lhe fazer face, está prevista a construção de 40 novos hotéis, além de cerca de 11 remodelações e reaberturas. Um cenário que leva a AHP a considerar este ano como o melhor de sempre, depois dos bons resultados atingidos em 2016, ano em que foram ultrapassados os indicadores de 2007, que até aqui era apontado como o melhor ano de sempre para a hotelaria nacional.

Urgência do novo aeroporto

Raul Martins defende a criação urgente de um novo aeroporto. «Ainda não chegamos à fase de constrangimento mas, em 2018, o aeroporto está esgotado. Claro que a grande razão para o aeroporto estar quase esgotado foi o grande aumento da procura. Não havia ninguém que fosse capaz de prever o que está acontecer, ninguém era capaz de fazer previsões com estes números. O problema é que se foi adiando ou não se foi decidindo o aumento de capacidade do aeroporto», disse em entrevista ao SOL.

Também Pedro Marques já reafirmou que a solução para o aumento da capacidade aeroportuária de Lisboa incluirá ainda o redesenho do espaço aéreo e a coordenação entre a parte civil e militar, garantindo que a navegação civil se adaptará às condições levantadas pela parte militar.

A ideia é que, até final do ano, estejam concluídos os estudos ambientais e na primeira metade de 2018 será concretizada a renegociação com a ANA. Em 2019 terá início a construção, de forma a que em 2021 o novo aeroporto complementar esteja a funcionar.

Para o presidente da AHP, «tem de haver uma decisão racional», acrescentando ainda que «o aeroporto da Portela tem uma pista e a situação mais normal era ter uma segunda pista, mas não é possível porque existe uma urbanização que o impede. Então é preciso construir uma segunda pista e o local economicamente mais viável é o Montijo», afirmou.

Prejuízos acumulam-se

O caos vivido nos aeroportos nacionais não é só resultado da existência de mais turistas, mas também a implementação de novos regulamentos da União Europeia. O reforço de verificações, por exemplo, tem vindo a prejudicar o funcionamento normal.

Ainda esta semana, a associação das principais companhias aéreas europeias (A4E – Airlines for Europe) alertou para os «enormes atrasos» provocados pelas filas, que chegam a quatro horas, nos controlos dos aeroportos de Portugal, com especial enfoque para Lisboa.

A associação referiu que milhares de voos foram recentemente adiados no espaço comunitário por os controlos estarem «significativamente» com menos pessoas para que sejam cumpridas as verificações fronteiriças a horas, acrescentando que «alguns passageiros perderam até os seus voos» por causa disso.

A A4E fez as contas e revelou que, desde abril, estas perdas já ascendem a 10 milhões de euros num grupo de 15 companhias aéreas – incluindo a TAP.