Diplomacia. Sanções russas abrem novo capítulo na relação com os EUA

A esperança de uma relação melhor com Trump acabou com as novas sanções, diz Vladimir Putin.

A decisão de expulsar centenas de funcionários das missões americanas na Rússia parece dar por terminado o estágio de cautelosa esperança no governo russo de que a chegada de Donald Trump à Casa Branca fosse inaugurar um período de menor confronto entre Washington e Moscovo.

Vladimir Putin assim o disse na noite de domingo, esclarecendo que, ao contrário do que sugeriam os relatos iniciais, a ordem de expulsão de 755 funcionários ao serviço dos EUA na Rússia não tem necessariamente de atingir diplomatas americanos. O líde russo disse também que quer entender-se com Trump noutros temas, como na guerra civil síria.

“Aguardámos demoradamente para ver se as coisas iriam melhorar, guardámos esperança de que a situação por ventura se fosse alterar”, disse o presidente russo ao canal estatal Rossiya 1, falando sobre as sanções anunciadas na sexta-feira e cuja proporção se conheceu domingo.

Putin afirmou que os 755 funcionários que os Estados Unidos têm de cortar nos cerca de 1200 que têm na Rússia podem ser trabalhadores locais, que representam a maioria dos trabalhadores ao serviço americano, são substancialmente menos valiosos e devem ser os que mais suportarão as consequências da manobra russa.

Apesar disso, o golpe “é doloroso”, garante Putin. 

Timing amigável

O Kremlin parece ter desenhado as sanções contra os Estados Unidos de forma a serem suficientemente notáveis e não tão duras que impeçam o entendimento com o novo presidente, que, apesar de tudo, se mostrou contrário ao mais recente pacote de punições aprovado pelo Congresso para castigar a interferência russa nas eleições de 2016.

Trump, no entanto, tolhido que está pelo fantasma de uma investigação à possibilidade de a sua campanha ter colaborado com os serviços de espionagem do Kremlin, sinalizou na semana passada que não iria vetar as novas sanções a Moscovo, que, para além de sancionarem altas figuras políticas e empresas, retiram liberdade ao presidente para as alterar ou anular. 

Num possível sinal de que as sanções anunciadas este fim de semana pelo Kremlin são sobretudo uma retaliação contra o Congresso americano e não tanto a Donald Trump, o analista Alexander Baunov sublinhava esta segunda-feira que as medidas foram apresentadas depois do voto dos congressistas mas antes de o presidente promulgar o documento.

“Parece ser uma resposta ao Congresso e não a Trump”, escreveu no facebook o analista do centro da Carnegie em Moscovo, citado pelo “New York Times”.

“É a resposta menos dolorosa que a Rússia podia conceber”, argumenta o colunista russo Vladimir Frolov, dizendo que os EUA podem no futuro aumentar o número de funcionários. “Vai criar um inconveniente enorme para a missão americana cá, essencialmente abrandando os trabalhos, mas não vai afetar as principais funções”, argumenta.