BBC Um fosso salarial que despreza a igualdade de género

Estação pública britânica enfrenta onda de críticas com a divulgação dos 96 maiores vencimentos anuais.  A primeira mulher surge apenas no oitavo lugar na lista e recebe quatro vezes menos que o apresentador mais bem pago

penas um terço das 96 estrelas mais bem pagas da British Broadcasting Corporation (BBC), é composto por mulheres. Na lista dos vinte mais bem pagos, apenas cinco são mulheres. E a apresentadora Claudia Winkleman, mesmo sendo a mulher que mais aufere, vê entrarem nos seus bolsos menos 1,8 milhões de libras esterlinas (cerca de 1,1 milhões de euros) que nos do homem mais bem ressarcido. 

Não faltam, nota-se, pontos de vista, ângulos ou formas de se olhar para a divulgação recente da tabela dos salários mais elevados da emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido, referentes ao ano financeiro de 2016/2017. Mas se há um ponto para o qual todas as leituras convergem, é o da existência de um fosso entre homens e mulheres, que reflete uma desconsideração evidente pela igualdade de género salarial na estação.

A lista dos mais bem pagos da BBC é liderada por Chris Evans, que amealhou entre 2,2 a 2,25 milhões de libras e entre o apresentador de rádio e televisão e Winkleman contam-se outros seis homens: o ex-futebolista e atual jornalista desportivo Gary Lineker (1,75 a 1,8 milhões); o apresentador de TV e comediante Graham Norton (850 a 900 mil); o apresentador de rádio e televisão Jeremy Vine (700 a 750 mil); os pivôs John Humphrys (600 a 650 mil) e Huw

Edwards (550 a 600 mil); e o locutor de rádio e DJ Steve Wright (500 a 550 mil).
No quadro dos que receberam acima das 400 mil libras anuais, apenas Alex Jones – igualmente apresentadora de televisão – faz companhia a Claudia Winkleman no clube feminino. 

Para além dos números e cenários acima apresentados, contam-se ainda diversos casos de duplas de apresentadores ou de jornalistas, compostas por um elemento de cada sexo, onde o homem recebe mais do que a mulher pelo mesmo trabalho.

A divulgação do referido relatório anual na semana passada originou um chorrilho de críticas à administração da BBC, vindo dos mais variados setores da sociedade britânica, incluindo do domínio político. Isto porque não se trata de uma qualquer empresa ou emissora, mas daquela que depende diretamente dos contribuintes britânicos e que, de acordo com o documento, desembolsou 28,7 milhões de libras (mais de 32 milhões de euros) em salários.

«A BBC tem de dar o exemplo. Estamos a falar de dinheiros públicos e as pessoas não querem que o seu dinheiro seja gasto injustamente, nem de forma discriminatória», defendeu a deputada trabalhista Harriet Harman. «Olhando para a estrutura e para os salários [da BBC], é óbvio que se trata de discriminação», acrescentou, em declarações à própria emissora. Também a primeira-ministra Theresa May veio a terreiro criticar o facto de a administração da BBC estar a «pagar menos às mulheres para fazerem o mesmo trabalho que os homens» e exigir o equilíbrio de salários entre sexos na estação pública.

O crescimento da onda de desaprovação na opinião pública muito se deveu à disseminação da lista pelas redes sociais. Os hashtags #notonthelist e #GenderPayGap – qualquer coisa como ‘não estou na lista’ ou ‘disparidades salariais de género’, respetivamente – foram partilhadas vezes sem conta no Twitter e Facebook, incluindo nas contas de algumas trabalhadoras da BBC.

Tony Hall, diretor-geral da emissora britânica, admitiu que a repercussão da divulgação dos seus 96 maiores salários pode vir a resultar em ações legais contra a mesma, mas lembra que a desigualdade de género salarial de género não é exclusiva da BBC, que, garante, «é a mais diversificada» do setor e também do «serviço público» do Reino Unido. Por outro lado, Hall deixa a promessa de cumprir a igualdade na remuneração de homens e mulheres «no ar», «até 2020».

A indignação não se ficou, no entanto, pelas disparidades dos vencimentos entre elementos de sexos diferentes. A revelação sobre os mais de 30 milhões de euros desembolsados no período 2016/2017 – que não incluem a remuneração dos atores, como Benedict Cumberbatch ou David Attenborough, que participaram em séries televisivas da BBC, nem dos funcionários pagos pela BBC Worldwide, o organismo responsável pelo investimento, comercialização e exibição dos conteúdos da estação para fora do espaço britânico – em salários de jornalistas, apresentadores e estrelas de televisão e rádio, levou o sindicato que representa os trabalhadores do setor da comunicação social e entretenimento do país a exigir o aumento do salário mínimo da classe para 20 mil libras (22,3 mil euros) anuais.

Entre os que integram a lista dos mais bem pagos da BBC, houve reações de todos os tipos. Chris Evans (1.º da lista) disse à imprensa britânica que «é correto e apropriado» que as pessoas saibam quanto ganham os funcionários da emissora pública, e Gary Lineker (2.º) recorreu ao Twitter para, em tom de gozo, criticar o «enorme escândalo» que é receber menos que Evans. Quanto ao jornalista e pivô John Humphrys (5.º), confessou, citado pelo Guardian, que a remuneração que aufere é exagerada, quando comparada com «médicos que salvam crianças, enfermeiras que confortam um moribundo, ou bombeiros que entram na Grenfell Tower [a torre residencial que ardeu no mês passado e vitimou mortalmente dezenas de pessoas]». 

salários  mais altos na bbc 

Chris Evans 
{Apresentador} £2,2 – 2,25 milhões
 
Gary Lineker
{Jornalista desportivo} £1,75 – 1,8 milhões
 
Graham Norton
{Apresentador} £850 – 900 mil
 
Jeremy Vine
{Apresentador} £700 – 750 mil
 
John Humphrys
{Jornalista-Pivô} £600 – 650 mil
 
Huw Edwards
{Jornalista-Pivô} £550 – 600 mil
 
Steve Wright
{Locutor} £500 – 550 mil
 
Claudia Winkleman
{Apresentadora} £450 – 500 mil
 
Matt Baker
{Apresentador} £450 – 500 mil