«Boa viagem. Lisboa espera por ti»

Estes azulejos, que vi no Miradouro da Senhora do Monte, em Lisboa (e que também me foram enviados pela Margarida), desejam, a turistas e locais, que façam boa viagem por Lisboa, cidade que espera essa visita. Cada vez é maior o número de turistas que veem em Lisboa um local moderno, cosmopolita e, simultaneamente, amigável,…

Estes azulejos, que vi no Miradouro da Senhora do Monte, em Lisboa (e que também me foram enviados pela Margarida), desejam, a turistas e locais, que façam boa viagem por Lisboa, cidade que espera essa visita.

Cada vez é maior o número de turistas que veem em Lisboa um local moderno, cosmopolita e, simultaneamente, amigável, calmo, com boa comida, bom tempo, bom vinho e boa música. Cada vez mais Lisboa é divulgada nos roteiros turísticos, nas seleções feitas por revistas da moda, o que gera uma maior vontade de visitar esta cidade, tão elogiada internacionalmente, esta «Lisboa com seu nome de ser e de não-ser / (…) / Lisboa oscilando como uma grande barca», nas palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen.

É claro que, para quem aqui mora, Lisboa poderá não ser um «paraíso», devido, em parte, ao aumento do número de pessoas nas ruas; ao exagero de tuc-tucs que são guiados de forma desenfreada pelas colinas acima; às filas intermináveis, de duas horas ou mais, para apanhar o turístico elétrico 28, que, na minha infância, circulava quase vazio e apenas com lisboetas; ao muito tempo de espera para alguns restaurantes, baratos e onde se come bem (também há o contrário, como em qualquer outra cidade…). Tudo isto acaba, naturalmente, por tornar o dia a dia da cidade mais agitado, mas, também, mais rico.

Nunca, como agora, foi tão fácil comer comida paquistanesa, goesa, argentina, mexicana, russa, vegana, paleolítica… Nunca, como agora, foi tão fácil ver todo o mundo sem sair do mesmo lugar, desde pessoas de todas as «formas e feitios», de calções e chinelos em pleno inverno, a mostrar as tatuagens, de cabelos com rastas, ar mais descontraído e mochila às costas, até casais menos jovens, bem vestidos e bem informados sobre o que mais interessa na cidade, passando por grupos com crianças, alegres e atentas a tudo o que as rodeia, mesmo a palavras escritas numa língua que não conseguem decifrar… Toda esta variedade enriquece o quotidiano de quem mora em Lisboa ou circula na cidade apenas para se deslocar de e para o trabalho ou, eventualmente, apenas vem a Lisboa ao fim de semana para fazer compras no chamado comércio tradicional (que já inclui os mercados biológicos), ou para passear.

E é interessante que o gosto dos outros por aquilo que é nosso parece despertar, em nós, a vontade de visitarmos aquilo que não conhecemos, ou de vermos a cidade com novo olhar, como se sentíssemos a paixão de Ana Hatherly por Lisboa: «Oh Lisboa / como eu gostava de ser / o terceiro corvo do teu emblema… / estar implícita na tua bandeira / negra e branca». É como se, de repente, também nós quiséssemos ser turistas na nossa própria cidade, lembrando aquilo que já esquecemos ou que nunca conhecemos. Já há, inclusivamente, guias para passeios pela cidade, específicos para nacionais e, até, para famílias portuguesas com crianças, e que permitem responder à eterna questão de Alexandre O’Neill: «Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui, / na terra onde nasceste e eu nasci?».

Visitar o nosso País e as suas cidades, vilas e aldeias é uma forma de conhecer o nosso património, a nossa cultura, o que nos torna distintos e distintivos enquanto povo. Visitar é, no fundo, lembrar aquilo que não conhecemos.

 

 

Maria Eugénia Leitão

Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services