Geração i. Os millennials querem saber de política?

A tendência é dizer que esta geração não quer saber de política, mas será que é mesmo verdade? Fenómenos como o de Bernie Sanders, nos EUA, fizeram os millennials reagir e entusiasmar-se. Um fenómeno que levanta a questão sobre o que querem, afinal, os millennials com a política?

Faz parte da juventude a inocência e rebeldia de quem tem vontade de mudar o mundo. Os millennials, jovens nascidos na segunda metade da década de oitenta e primeira metade da de noventa, estão a mudar a forma de fazer política e de consumir informação sobre ela. Apesar dos mais velhos lançarem as mãos à cabeça cada vez que se fala no futuro dependente desta juventude, a verdade é que, por incrível que pareça, os millennials querem saber de política, só que não é à moda dos pais ou dos avós.

Esta geração nasceu para marcar a diferença, ainda que não estivesse avisada previamente que tal ia suceder. Cresceu mais informada, tende a viajar mais e, daí, surge uma partilha global de opiniões. Os millenials não discutem só política interna, são muitos os jovens ativos na discussão das políticas internacionais e, mais ainda, os que levantam questões sobre a organização política dos países.

Segundo o Pew Research Center, um think tank que fornece informações sobre comportamentos, atitudes e tendências da população norte-americana, os millennials “são relativamente desapegados à política e à religião organizadas, ligados pelas redes sociais, sobrecarregados por dívidas, desconfiados das pessoas, sem pressa de casar e otimistas sobre o futuro”.

O estudo deste think tank mostra que metade dos Millennials (50%) descrevem-se, hoje em dia, como independentes politicamente, estando “muito próximos dos mais altos níveis de desfiliação política registados em qualquer geração no quarto de século de estudos do Pew Research Center”, lê-se no estudo publicado em 2014.

“Os jovens ainda se preocupam com o nosso país”, afirmava John Della Volpe, do Instituto de Política de Harvard, nessa altura, “no entanto, provavelmente veremos mais pessoas a fazer voluntariado do que a votar”.

Quem concorda com esse lado mais independente, mas não menos participativo dos millennials, é Joaquim Gonçalves, de 26 anos, é presidente da JSD na freguesia de Galegos Santa Maria, em Barcelos. “Não é que os jovens não se interessem pela política ou não se identifiquem com ideologias. Isso é uma ideia muito errada. Os millennials não se identificam com a guerra por guerra, de cores, de partidos – está tudo mais ao centro. Há mais formação, já não há a luta entre o preto e o branco, está toda gente mais pelo cinzento”, explica ao i.

Para o jovem do concelho de Barcelos, “os partidos têm de evoluir para uma postura mais conciliadora, mais dialogante”. O melhor exemplo da atualidade em Portugal, diz, é o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa que, para Joaquim, terá conquistado a juventude porque “não tem um discurso carregado ideologicamente, consegue ir à zona cinzenta, tirando o melhor de todos os lados e conquistando a simpatia dos jovens”, conta.

Feel the Bern Marcelo Rebelo de Sousa é um fenómeno de popularidade em Portugal, mas, no mundo, o ídolo eleito quase globalmente pelos millennials é Bernie Sanders, senador americano que disputou com Hillary Clinton o lugar de candidato presidencial do Partido Democrata nos Estados Unidos da América.

E porque é que Sanders conquistou o coração e confiança de millennials em todo mundo? O estudo anteriormente citado do Pew Research Center já concluía que os millennials têm sido mais solidários com governos mais interventivos, do que qualquer outra geração. Mais de metade (53%) dos millennials é favorável a um governo maior que forneça mais serviços. Apenas 38% disseram preferir um governo mais pequeno e com menos serviços.

Em abril do ano passado, na revista “Time”, o jornalista Nikhil Goyal explicava em poucas linhas o amor global de uma geração pela figura sui generis de Bernie Sanders. O jornalista nova-iorquino começa por explicar o contexto de uma época “que é produto de medidas de austeridade, desregulamentação, aumento da dívida dos estudantes, desemprego em alta e falta de habitação acessível”. Descreve ainda que muitos dos millennials nem sequer se lembram “de um momento em que os EUA não estivessem a lançar bombas no Médio Oriente”. Daí que para o jornalista, e também ele millennial, é claro que para esta geração o socialismo democrático pareça uma alternativa “muito melhor do que o nosso sistema atual”.

“Então, quando um velho homem branco desgrenhado chega e diz que nossa sociedade é manipulada em função dos ricos, que a guerra perpétua não é a resposta e que as pessoas de cor não devem ser abatidas pela polícia – e pede a nossa ajuda e alguns dólares para começar uma revolução –, as pessoas pensam “ele está certo, vamos torcer por ele”, escreve.

Foi a aparente honestidade e o facto de Bernie Sanders ter tocado em pontos fundamentais daquilo que é o ideário desta geração que conseguiu conquistar a confiança dos millenials.

Millennials estão a crescer Os millennials cresceram. A idade dos mais velhos anda agora por volta dos 35 anos, enquanto os mais novos fizeram 22 anos. E ao que parece, conforme esta geração vai ficando mais velha, aumenta o impacto e o interesse pela política. A União Europeia, como já abordámos em edições anteriores da Geração i, investe constantemente na educação política e para a cidadania dos jovens europeus construindo várias oportunidades de debate político.

Os resultados estão à vista dos que estiveram atentos às redes sociais nos dias pré e pós Brexit, mas também de eleições de vários outros países europeus, para não falar da oposição a Donald Trump que se multiplica. Relembrem-se, também, os recentes episódios de Hamburgo, cuja multidão em protesto nas ruas contra os encontros do G8 era composta maioritariamente por millennials. Não é que a Geração i portuguesa e do resto do mundo não queira saber de política, o que tudo indica é que esta geração já não faz, nem acredita, na política feita à moda das antigas gerações.

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