Principezinhos Centeno e Costa cativam

A extraordinária dupla Centeno/Costa cativou nos dois sentidos. Cativou no Orçamento e criou laços com o eleitorado

A palavra «cativação» é do mais puro economês, essa língua bárbara, demasiado inacessível ao cidadão comum, que compreende o que é a taxa do desemprego – que está agora nos 9%, abaixo da média europeia, o que é uma vitória extraordinária para a ‘geringonça’ – mas tem dificuldade em entender o que são as «cativações» no Orçamento do Estado.

Não tem nada a ver com a «cativação» de que precisa a raposa de Saint-Exupéry e que o Principezinho não compreende naquele fabuloso diálogo da nossa infância: «Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda». O Principezinho pede desculpa e pergunta de seguida: «O que quer dizer cativar?».
E então a raposa explica ao Principezinho que «cativar» significa «criar laços».

A extraordinária dupla Centeno/Costa conseguiu o milagre perfeito. Cativaram nos dois sentidos: enquanto utilizavam a eito a possibilidade das cativações orçamentais (o que significa não gastar o que está previsto gastar no Orçamento, uma outra forma de cortar a despesa do Estado), cativavam a população no sentido de «criar laços». 

O facto do PS estar com intenções de voto na ordem dos 40% significa que a dupla cativação teve um sucesso extraordinário. Enquanto as cativações orçamentais serviram para cumprir os objetivos de Bruxelas – e mesmo ir além dele – no que respeita aos objetivos do défice, a cativação do eleitorado para a ideia de que não existiu nenhum plano B – que Costa repetidamente negou – é um monumento à possibilidade de cativar pessoas. Em outras circunstâncias, com governantes incapazes da dupla cativação, a notícia de que o Governo não gastou 1746 milhões de euros que tinha programado gastar no Orçamento do Estado causaria algum clamor. É verdade que o líder parlamentar do Bloco de Esquerda ainda disse esta semana que o Bloco votou um Orçamento, não votou as cativações. Mas claro que como o Bloco de Esquerda – e o PCP – criaram laços com o Governo todas as críticas serão moderadas. 

Quanto à direita, sempre defensora do corte da despesa pública, a moral para falar é zero – mesmo assim contestam agora o que defendiam no passado. A questão é que Costa e Centeno cativaram os portugueses para a ideia de que estão a fazer o que defendiam no passado. E o «criar laços» permite a sobrevivência política.