De Sagres a Lagos. Quando a praia sopra mais forte que o vento

Não gostamos de ser do contra e, por isso, quando o país ruma a sul, nós vamos atrás. Ou melhor, vamos à frente, de maneira a deixar uma lista de sugestões para que possa aproveitar o que de melhor o Algarve tem. Na ponta mais ocidental, calcorreamos as estradas que ligam Sagres a Lagos para…

1. Cabo de São  Vicente

A aventura nesta ponta do país começa logo ao tentar sair do carro. O vento é tanto que entre fechar a porta, tirar os cabelos em frente da cara e segurar o vestido para que não voe, faltam mãos para o essencial: registar em fotografia esta paisagem de perder de vista. Chegamos de manhã e, por isso, perdemos o pôr-do-sol, que dizem ser incrível por estas bandas. Mas à falta do original há sempre a loja de souvenirs, de onde pode levar a paisagem num postal por 50 cêntimos ou o próprio farol, cuja réplica em cerâmica custa à volta de três euros. E já que falamos em negócio, na curta viagem entre o estacionamento e a ponta mais ocidental do país não faltam bancas com pastéis de nata, farturas, cachorros e até gin tónico. Ficam mesmo ao lado das que vendem casacos e mantas de lã em pleno mês de agosto. Mas com este vento, não parece assim tão estapafúrdio.

 

2. Bar Dromedário

Andreas chegou a Sagres para umas férias, conheceu uma portuguesa e nunca mais quis de lá sair. Abriu o Dromedário em 1986 e começou a marcar a diferença logo pelo nome escolhido. “Era tudo ‘Mar e sol’, “Sol e mar’, e eu, mal ouvi a palavra ‘dromedário’, adorei e quis que o meu bar fosse ‘aquele do camelo’.” De resto, foi o primeiro a servir sumos naturais, cocktails, pizzas e até a fazer coisas tão simples como pôr salada nas sandes. “As pessoas de cá tiravam sempre, achavam estranhíssimo”, conta ao i. O certo é que funcionou e a carta faz questão de manter alguns clássicos. “Sagres Natura” é um dos cocktails mais conhecidos e leva uma mistura de cerveja e caipirinha. E é melhor forrar o estômago antes desta aventura, até porque, aqui, os hambúrgueres vão do M ao XL e a dose de batatas chega ao meio quilo.

Rua Comandante Matoso, Sagres

 

3. Algarve Surf School

Quando ainda não era uma escola, já José Peralta dedicava parte dos seus dias a ensinar os miúdos do Algarve a aproveitar as ondas. Há oito anos que oficializou a coisa com a abertura da Algarve Surf School que, nos últimos tempos, tem vindo a alargar-se e hoje tem também uma loja, um restaurante e dois hotéis associados.
São 15 os instrutores que todos os dias vão até à praia do Amado, um dos locais sagrados para quem pratica surf em Portugal. Um dia com direito a duas aulas de 1h50, material e seguro custa 60 euros. Se quiser alargar a experiência por três dias, o preço sobe para os 165 euros, e cinco dias ficam por 250 euros.

Rua Comandante Matoso, Sagres

 

4. Restaurante Ribeiro do Poço

Alguém nos tinha dito que Vila do Bispo era a capital dos percebes e, ainda que principiantes na arte de abrir este bichinho com sabor a mar sem sujar a pessoa à nossa frente, decidimos fazer uma paragem estratégica. Sem destino final definido, arriscamos perguntar aos da terra. “Bons percebes? Ui, isso aqui é em todo o lado”, garantem. Com algum esforço lá conseguimos um nome que se mostrou unânime: Ribeiro do Poço. É aqui que Álvaro Soares serve percebes há 15 anos. E lapas. E cataplanas. E arroz de peixe. E amêijoas. E peixe-espada grelhado. É melhor parar que já estamos tontos com o vaivém de uma cozinha em hora de ponta. 

Rua Ribeira do Poço 11, Vila do Bispo

 

5. Praia de Cabanas Velhas

Depois de um Algarve com um vento a fazer lembrar as praias do Minho, foi bom encontrar este refúgio que, além de nos abrigar das forças da natureza, foi a exceção aos areais cheios de gente.
Aqui não há bolas-de–berlim na praia, mas há um restaurante que serve desde húmus de beterraba para entrada a pianos de entrecosto fumado para prato principal e cheesecake de chocolate branco para sobremesa. Feita a digestão, há tempo para mais um mergulho antes de escolher entre secar na toalha ou numa das cabanas protegidas por panos brancos. Custam 25 euros, mas dão para uma família.

Praia de Cabanas Velhas, Burgau

 

6. Praia do Camilo

Inexperientes nas andanças por esta zona do Algarve, deixamo-nos levar pelo amigo Google. Depois de escrever “praia lagos”, um dos primeiros resultados dá conta de que a Praia do Camilo é, segundo o TripAdvisor, uma das mais únicas do mundo. Não é preciso uma segunda pesquisa para nos fazermos à estrada.
Vista ainda de cima, é fácil perceber o lugar cimeiro no ranking. A praia é, de facto, bonita, está abrigada do vento e tem um restaurante de onde tanto saem omeletes mistas como ostras da ria de Alvor. Problema: não há um metro quadrado livre para estender a toalha e, desta vez, não estamos a recorrer a hipérboles. Como o nosso dia era em circuito e Vila Real de Santo António ainda estava longe, não deu tempo para esperar pela hora em que a maioria sai da praia para a apreciarmos com os olhos de quem a viu como uma das melhores do país. Da próxima vamos com mais tempo, está prometido.

Praia do Camilo, Lagos

 

7. Mar d'Estórias

Já foi uma igreja, um armazém de vinhos e cereais e até quartel dos bombeiros de Lagos. Agora, este edifício do centro histórico da cidade, apesar de remodelado, não deixa esquecer a história e no terraço foi mantida até a escada que servia de torre de vigia a quem controlava os fogos da região.
Célia Real é a cabeça por trás deste projeto que não é só um café, não é só restaurante, uma galeria ou uma loja. “É isso tudo, e é principalmente um espaço que reflita a cultura do país e da região”, explica ao i. É por isso que na carta não há espaço para peixe congelado nem para fruta fora de época, e nem mesmo para bebidas como coca-cola ou whisky, por não serem portuguesas. Mas há aguardente da Lourinhã, caipirinha com medronho, bolo de figo e raia de Alhada, um dos pratos típicos do Algarve. Tudo isto pode ser encontrado tanto no bistrô como no bar do terraço. Já nos pisos de baixo, o espaço é dividido entre mercearia e galeria de arte.

Rua Silva Lopes 30, Lagos

 

8. Bar Bon Vivant

hegamos cedo e, por isso, apanhamos a equipa a preparar a noite que aí vem. É assim há 30 anos, das 17h às 4 da manhã, sem paragem no inverno. Mas não é por a casa ainda não estar no auge da festa que Moisés, o dono, se priva de nos mostrar todos os segredos de quem sobrevive a uma vizinhança de bares sempre a crescer. O edifício divide-se em quatro pisos, cada um com um estilo diferente. O bar da entrada é mais clássico, a cave é mais para dançar e está aberta apenas no verão. No primeiro andar, a decoração é mexicana e, no último piso, o terraço convida a um cocktail. A carta é vasta e à frente desta barricada está Marco Monteiro, que já foi considerado o melhor barman do Algarve. 

Rua 25 de Abril 105, Lagos

 

9. Restaurante Vila Lisa

Não fica no meio da movida algarvia e não há setas, néones ou cartazes com indicações. Mas a verdade é que vai lá tudo parar. O segredo? Eu diria que passa pela sensação de que, assim que se abre a porta desta antiga adega, estar a entrar em casa da minha avó Rosa. Os bancos de madeira, os pratos que não combinam, a loiça nas paredes, as garrafas com teias de aranha, o café de saco e o vinho que sai de um garrafão servem de cenário a uma refeição que se quer de conforto. O menu é fixo, custa 35 euros, e há anos que se mantém o mesmo – salvo raras alterações a que os produtos da época obrigam. Assim, o pão de entrada vem acompanhado de tomatada com ovo, batatas cozidas temperadas com azeite, alho e orégãos, estupeta de atum, queijo fresco e morcela. Ficávamos bem assim, não era? Mas isto ainda nem começou. Seguem-se os principais: canja de amêijoas, polvo no forno, pernil de porco e o caldo de rabo de boi com grão. Para acompanhar o tal café de saco vêm para a mesa biscoitos de azeite, bolos de figo e aguardente, útil para ajudar à digestão desta barrigada algarvia.

Rua Francisco Bívar 52, Mexilhoeira Grande