Europa. Jovens que emigram têm mais trabalho do que os que preferem ficar

Estudo do Instituto Nacional de Estatística mostra que, ao todo, há mais de 1,7 milhões de portugueses imigrados em toda a Europa

Ao todo, há mais de 1,7 milhões de portugueses imigrados em toda a Europa. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e mostram uma mudança no retrato do que era o dia-a-dia dos emigrantes portugueses há uns anos e do que é a situação atual de quem escolhe procurar melhores condições de vida fora do país.

Mas, além de avançar com o número de emigrantes, o INE aproveita ainda para traçar um perfil do português que vive no estrangeiro. De acordo com os dados revelados pelo estudo, há que fazer distinção entre os mais velhos, cujo nível de escolaridade, regra geral, não passa, do ensino básico, e os mais jovens, que são cada vez mais qualificados – mais de um quarto tem pelo menos o ensino superior completo.

No geral, os emigrantes são cada vez mais jovens, têm mais escolaridade e têm mais emprego do que quem opta por ficar em Portugal. Ainda que o estudo sobre os portugueses no mercado de trabalho europeu seja de 2014 e não conte com a participação de Dinamarca, Alemanha e Irlanda, o INE avança que é possível retirar várias conclusões, nomeadamente no que respeita aos países onde existem mais imigrantes portugueses: França aparece no topo da lista (mais de 62%), seguida da Suíça (14%), Espanha (9%), Reino Unido (7,6%) e Luxemburgo (3%).

O Instituto Nacional de Estatística adianta ainda que, dos cerca de 1,7 milhões de emigrantes, cerca de 907 mil são emigrantes de primeira geração e 812 mil de segunda – nascidos em Portugal ou noutros países, mas com pai e mãe portugueses.

Jovens mudam panorama

A crise que se fez sentir em Portugal nos últimos anos fez com que muitos jovens qualificados escolhessem tentar um futuro melhor fora das fronteiras portuguesas.

De acordo com dados divulgados no ano passado pela Comissão Europeia, entre 2001 e 2011 houve um aumento de 87,5% na percentagem de portugueses com o ensino superior completo a emigrar. “Observa-se uma notória clivagem etária: confrontando duas gerações de emigrantes portugueses de primeira geração, dos 25 aos 39 anos e dos 55 aos 64 anos, observa-se que a proporção de emigrantes mais jovens com ensino superior é cerca de 10 vezes a dos emigrantes mais velhos”, refere o INE.

“O perfil de escolaridade dos emigrantes de primeira geração era tendencialmente baixo: mais de metade (57,3%) possuía, no máximo, o 3.o ciclo do ensino básico”, pode ler-se no documento.

Décadas de precariedade

Há décadas que os portugueses procuram países como França, Suíça, Canadá e Luxemburgo para conseguirem uma vida melhor. No entanto, muitos ainda vivem de forma precária nestes destinos mais tradicionais da emigração e, por vergonha, recusam regressar.

De acordo com dados oficiais provisórios, publicados em setembro de 2015, à data residiam na Suíça 278 034 cidadãos portugueses, o que representa um aumento de mais de 2,5% face a 2014. Os setores onde a comunidade portuguesa mais se emprega continuam a ser a construção civil, a hotelaria e restauração e a agricultura.

Esta realidade explica a manutenção de uma elevada taxa de desemprego entre a comunidade, maioritariamente sazonal. O desemprego nos meses de inverno é normalmente superior em 50% face ao “pico” de emprego de junho, julho e agosto. Neste sentido, em 2015, o desemprego na comunidade portuguesa radicada na Suíça atingiu o seu máximo em janeiro, com 14 774 de-sempregados.

No total, no final de 2015, cerca de 9% dos desempregados na Suíça eram portugueses – um número que aumenta para cerca de 18,8% se considerarmos apenas os desempregados de nacionalidade estrangeira naquele país. De acordo com dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros, os cantões com mais desemprego encontram-se, na sua maioria, na Suíça francófona, coincidindo com os cantões onde se verifica um maior número de portugueses.

Falta de formação

No Luxemburgo vivem cerca de 100 mil portugueses, que representam 19% da população. Mas as condições precárias têm dificultado a vida a muitos, que não regressam por “orgulho”. De acordo com José António de Matos, dirigente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo, a falta de formação e de conhecimento de línguas como o francês, o alemão e o luxemburguês fazem com que a mão-de-obra portuguesa seja absorvida maioritariamente pela hotelaria, construção civil e serviços de limpeza. “As pessoas vêm à procura de contratos, mas agora é muito difícil. O que encontram são trabalhos precários. Tanto podem trabalhar um dia, uma semana ou um mês”, explica, acrescentando que um terço dos desempregados no Luxemburgo são de origem portuguesa. “Há um outro problema: as pessoas que estão cá há mais tempo estão numa idade que já não permite a reconversão profissional quando as empresas em que trabalhavam fecham”, sublinha.

José António de Matos não esconde que existem casos de sucesso, mas frisa que a falta de conhecimento da língua não ajuda sequer aqueles que dominam as áreas nas quais pretendem trabalhar. “Na saúde é precisa muita mão- -de-obra. Mas existem casos de enfermeiros portugueses a trabalhar nas limpezas por falta de conhecimento das línguas que se falam aqui no Luxemburgo”, ou seja, o francês e o alemão.