Brexit. Reino Unido rejeita possibilidade de pagar 40 mil milhões para sair da UE

Gabinete de Theresa May fala em “especulação”, depois de muitos apoiantes da saída do Reino Unido da União Europeia se terem revoltado contra este pagamento

A semana começou com notícias que davam conta de que o Reino Unido estava pronto para pagar até 40 mil milhões de euros para sair da União Europeia (UE). No entanto, o gabinete da primeira-ministra britânica, Theresa May, já desmentiu a informação e garante mesmo que tudo não passa de especulação.

O valor dos 40 mil milhões foi noticiado pelo “Sunday Telegraph”, jornal que citava responsáveis do governo britânico que, sob anonimato, revelaram que o Reino Unido estaria disposto a pagar essa verba para facilitar conversações acerca de uma entrada num acordo comercial. No entanto, ainda antes de ser desmentida por fontes ligadas ao processo, a avultada soma já tinha gerado contestação. Até mesmo os apoiantes do Brexit fizeram saber que não concordavam com a fatura apresentada. Um deputado conservador, John Redwood, disse à rádio LBC que “não existe necessidade legal ou política de lhes oferecer nada, ponto final”.

Mas esta não é a primeira vez que as negociações geram confusão com números que são avançados e desmentidos de seguida. Muitos dos estudos publicados até hoje sobre o assunto dão conta das possíveis consequências da saída do Reino Unido da União Europeia, mas tudo continua a ser imprevisível.

Um dos estudos mais recentes dava conta de que a fatura do Brexit pode facilmente chegar aos 100 mil milhões de euros, um montante que o governo britânico recusa pagar. De acordo com o “Financial Times”, entre os fatores que poderão contribuir para este valor está a maximização das responsabilidades do Reino Unido, incluindo pagamentos agrícolas a serem realizados pós-Brexit e taxas relativas à própria administração da União Europeia entre 2019 e 2020. Segundo as contas feitas por este jornal, todo este processo pode facilmente ascender a pagamentos em bruto entre os 91 e os 113 mil milhões de euros. Também o think tank Bruegel fez estas contas e chegou a valores muito semelhantes: entre os 82 e os 109 mil milhões de euros.

Entretanto, um estudo da seguradora de crédito Solunion veio acrescentar mais números relacionados com todo este processo e determina que a saída do Reino Unido vai trazer, entre 2017 e 2021, perdas de milhares de milhões de euros à zona euro. Em questão está o facto de as economias estarem perto de um cenário que implica a perda de cerca de 24 600 milhões de euros só em exportações de bens, aos quais se somam perdas na ordem dos 5500 em exportações de serviços. De acordo com esta análise, os países mais afetados por um possível acordo comercial limitado deverão ser a Holanda, Irlanda, Bélgica, Alemanha, França e ainda Espanha.

A verdade é que os bens destinados ao Reino Unido poderão ficar sujeitos a tarifas que podem chegar aos 3%, o que se traduz em perdas nas exportações na ordem dos 8 mil milhões para a Alemanha, 4 mil milhões para a Holanda e 3 mil milhões para França.

Esta análise, avançada em abril, mostra ainda que, perante este cenário, os países da zona euro vão registar uma queda das exportações e investimentos recebidos, o que terá repercussões no PIB e poderá ter ainda impacto a nível empresarial, fazendo aumentar, por exemplo, o número de insolvências.

Economistas juntos pelo pior

O Instituto de Estudos Fiscais, que monitoriza, entre outras questões, a execução orçamental do Reino Unido, já apresentou uma análise onde mostra o que acontecerá se os trabalhadores que mais ganham e que são fortemente tributados forem deslocados para outros países. Se estes trabalhadores mais bem remunerados optarem por sair do país, será o resto da população a assegurar esta diferença, tendo então de pagar muito mais impostos para conseguir compensar este défice.

A verdade é que há poucos temas capazes de pôr tantos economistas de acordo como acontece em relação ao Brexit. De acordo com a sondagem feita no ano passado, nove em cada dez especialistas em assuntos económicos inquiridos sobre o assunto afirmam que a economia britânica será penalizada com a saída do Reino Unido da União Europeia. “Tendo em conta que estamos a falar de uma profissão conhecida por concordar em muito pouco, é impressionante ver este nível de consenso, seja em que matéria for. Não há dúvida de que estes resultados refletem o nível de consenso que existe sobre os benefícios do comércio livre e, ao mesmo tempo, sobre os custos para o crescimento associados a um clima de incerteza”, sublinhou o diretor do Instituto de Estudos Fiscais.

Também ao nível das empresas que apostam no país estão previstas fortes mudanças. Por exemplo, um em cada cinco administradores de empresas britânicas pensa deslocar parte da atividade para outro país. Quase dois terços consideram que a escolha do Reino Unido de sair da União Europeia é negativa para os negócios. “A maioria das empresas pensam que o Brexit vai ser mau e o efeito imediato é o congelamento ou a redução em escala dos projetos de investimento e novos contratos”, explica o responsável por uma outra sondagem publicada no ano passado.