Luisão. O homem do presidente também já é um monstro sagrado

A conquista da Supertaça fez de Luisão o jogador mais titulado da história do Benfica. Ao todo são já 20 troféus – exatamente os mesmos que Luís Filipe Vieira, o seu protetor, soma enquanto presidente das águias

Será inimaginável argumentar com os antigos que Luisão já é o nome maior da história do Benfica. “Um sacrilégio”, irão disparar de rompante, lembrando monstros, lendas do imaginário encarnado como Germano, José Augusto, António Simões, José Águas, Humberto Coelho, Shéu, Nené, Mário Coluna ou, obviamente, Eusébio. Mas a verdade é que os números estão aí para atestar esse facto: pelo menos em termos de títulos conquistados, o atual capitão é, desde sábado, realmente o maior de sempre na história das águias.

A Supertaça trazida de Aveiro foi o 20.o troféu de Luisão desde que chegou à Luz, na já bem longínqua temporada de 2003/04. Até essa época, o Benfica ia já num jejum de títulos que durava desde a famosa (e trágica) final da Taça de 95/96, quando a vitória sobre o Sporting por 3-1, em mais uma tarde de glória de João Pinto, foi ensombrada pela morte de um adepto leonino, atingido por um very- -light. Oito anos depois, as águias voltaram finalmente a celebrar uma conquista, também ela marcada por um acontecimento trágico ocorrido meses antes (a morte de Miklós Fehér em Guimarães): o triunfo por 2-1 após prolongamento sobre o FC Porto de José Mourinho, que poucos dias depois viria a sagrar–se campeão europeu, deu o mote para um futuro bem mais risonho.

Desde então, Luisão festejou seis campeonatos nacionais, duas Taças de Portugal, sete Taças da Liga e quatro Supertaças – a maioria dos quais como capitão de equipa. Exatamente os troféus conquistados por Luís Filipe Vieira desde que, em outubro de 2003, se tornou presidente do Benfica, sucedendo a Manuel Vilarinho. Ao longo destes quase 14 anos, o líder máximo dos encarnados e o central brasileiro mantiveram sempre uma relação de enorme proximidade, quase como de pai e filho, com Vieira a ser capaz de convencer Luisão a ficar apesar das propostas quase irrecusáveis que o central garantia ter, pré-temporada após pré-temporada. Em fevereiro, numa homenagem após Luisão ter atingido a fasquia dos 500 jogos oficiais pelo Benfica, Vieira garantia que o central iria ficar “mais três anos” na Luz, elogiando “o jogador e o homem” – isto depois de um defeso muito complicado, em que o internacional canarinho foi dado como certo no Wolverhampton Wanderers, da segunda divisão inglesa, depois de se ter visto ultrapassado nas opções de Rui Vitória em 2015/16.

A verdade é que a propalada transferência não aconteceu e, contra todos os vaticínios, Luisão foi absolutamente essencial no esquema das águias em 2016/17, fazendo dupla com Lindelof. Para já, com a saída do sueco, a sua titularidade também não parece minimamente em perigo, pelo que a perspetiva de acrescentar ainda mais prata ao seu espólio é bem real, como o próprio salientou na homenagem que ontem lhe foi prestada na Luz. “Nem no melhor sonho de criança imaginava tudo isso. A ficha ainda não caiu, mas sinto-me muito orgulhoso e honrado, e com a mesma ambição como se fosse o primeiro dia. Sabemos que a época é muito longa e os imprevistos acontecem, mas a vontade é de continuar a conquistar títulos”, salientou o líder do balneário encarnado, revelando o momento que mais lhe ficou marcado nos 14 anos de águia ao peito: “No primeiro título nacional [2004/05], o presidente pagou os bilhetes aos adeptos para o Bessa [último jogo] antes [da penúltima jornada, no célebre 1-0 ao Sporting na Luz, com golo de… Luisão]. Mostrou que acreditava em nós.”

Dentro de toda a alegria, só uma nuvem cinzenta no caminho da dupla Vieira-Luisão: falta uma conquista na Europa. Esteve muito perto, com as finais da Liga Europa perdidas em 2012/13 e 2013/14, mas em ambas a maldição de Béla Guttman voltou a levar a melhor. Já por diversas vezes, ambos aludiram ao sonho de vencer a Liga dos Campeões – utopia, dirão alguns. Certamente que sim. Mas também ninguém afirmaria, há 14 anos, que aquele central alto e meio desengonçado que vinha do Cruzeiro acabaria por se tornar o jogador mais titulado de sempre do Benfica, e afinal…