Calor. Verão é época alta do consumo de cerveja em todo o país

O calor pode incomodar muita gente, mas não a indústria de cervejas, cujas vendas se concentram nos quatros meses de maior calor

Quando o calor aperta… a sede desperta. E quem o sabe muito bem são as cervejeiras, que só nos “quatro” meses de verão faturam 60% da receita anual. Cerveja casa bem com quase tudo: petiscos, marisco, tremoços, sol, praia…

Questionada pelo i, a Unicer, dona da Super Bock, explica que “o verão é uma época particularmente importante no que se refere ao consumo de bebidas refrescantes, sobretudo cervejas, numa conjugação de vários fatores. Desde logo, uma maior predisposição das pessoas para saírem de casa e conviverem com a família e amigos, com um impulso importante para um canal de vendas muito relevante na atividade da nossa empresa; é também durante estes meses que os portugueses continuam a marcar as suas férias; o nosso país beneficia de um fluxo turístico muito positivo, com a passagem de muitos estrangeiros por Portugal, atingindo o pico neste período de verão”.

Mas o verão não se faz só de praia e petiscos, já que os festivais de música, bem como as festas noturnas, atraem milhares de pessoas sequiosas de uma bebida fresca. Para a Unicer, esta época é determinante pois existe “uma maior concentração de eventos, alguns de grandes dimensões, como as festas regionais/populares e os festivais de música. De uma forma geral, o consumo interno tem mostrado uma tendência positiva e estes meses são determinantes para as vendas”.

Também a Central de Cervejas corrobora o discurso da sua concorrente e explica ao i que, “no que toca à cerveja, mais de 65% das vendas anuais do mercado interno acontecem em quatro meses do ano (de junho a setembro)”.

Clima é a fórmula de sucesso

O calor é determinante para o aumento ou diminuição das vendas de cervejas. Perdem com o mau tempo, mas voltam a ganhar com os dias de mais calor. Por exemplo, em 2014 e 2015, anos em que os meses de julho e agosto não foram tão quentes, a indústria acabou por ser castigada.

Já no ano passado, a situação foi diferente. As estimativas começaram desde cedo a apontar para um consumo per capita de cerveja em Portugal superior ao que tinha sido registado em 2015, quando se fixou nos 46 litros.

A fórmula de sucesso para uma boa época de vendas para as cervejeiras passa muito também pelos contratos de exclusividade com os festivais, discotecas e arraiais ou festas populares. Não é por acaso que nesses eventos não existem, regra geral, marcas concorrentes. Se no passado as cervejeiras pagavam verdadeiras loucuras para estarem sozinhas nas discotecas da moda, hoje, os valores ficam muito aquém de outros tempos, já que o poder de compra ficou “enfraquecido”. Mas mesmo assim, o negócio continua a ser lucrativo para ambas as partes. Quem perde são os consumidores, pois ficam sem alternativas. O mesmo se passa, aliás, com as restantes bebidas.

Menos sede ou menos dinheiro

Longe vão os tempos em que cada português bebia, em média, 61 litros de cerveja por ano. Se descontarmos os que não bebem e as crianças, imaginemos o que não deviam beber os apreciadores de cerveja. Até 2015, cada português bebeu, em média, menos 15 litros do que em 2005, embora há dois anos a queda do consumo tenha sido contida, o que permitiu à indústria respirar de alívio.

Para a Associação Portuguesa de Produtores de Cerveja (APCV), o decréscimo dos últimos anos acabou por se justificar com a crise que se fez sentir no país, com os portugueses a colocarem travão nos gastos. Os cortes nas idas ao bares, cafés e restaurantes acabaram por determinar as contas das cervejeiras porque é nestes espaços que se vende mais de 60% da cerveja. De acordo com os últimos dados do Eurostat, o consumo dos portugueses em restaurantes, cafés e similares já ultrapassa 9,5% do orçamento familiar – um valor que duplica a média europeia, que apenas chega aos 3,9%.

Também os dados da Nielsen confirmam que no ano de 2015 foi registado apenas “um ligeiro comportamento positivo em volume de cerca de 1%, refletindo as boas condições climatéricas, o incremento do turismo e ainda alguns sinais de recuperação económica”.

Mas não é apenas o consumo de cerveja que aumenta nos meses mais quentes do ano. A água engarrafada e os gelados são outros produtos preferidos quando as temperaturas sobem. Além disso, na praia, verão não é verão sem a compra de uma bola-de-berlim, com os preços a variar entre 1,2 e 1,5 euros.

Também para as panificadoras, o negócio é bastante mais lucrativo nesta época. A sul do país, por exemplo, a procura verificada nas panificadoras é muito superior – e maior ainda a margem que os vendedores conseguem obter. Os pedidos chegam normalmente às duas centenas de bolas-de-berlim.